«Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor». Não por acaso, a escola, o sistema de ensino, se mantém inalterada há mais de 200 anos: serve bem o seu propósito, nem poderia ser de outra forma num sistema político e económico contruído na base da exploração e da opressão. Uma educação castradora, dogmática, de pensamento único, que celebra o individualismo, o egoísmo e a competição entre iguais.
Paulo Freire não foi o primeiro, nem o último, a construir, na prática, uma educação emancipadora que, para além de ensinar, humaniza o educando e o educador no combate aos factores desumanizadores da sociedade: a injustiça, a opressão e a exploração do homem. O seu legado é, porém, incontornável.
«A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele».
Partindo não da abstracção mas da experiência real da pessoa, envolvendo-a no seu próprio acto emancipador de aprendizagem, o método que Paulo Freire desenvolveu foi, pela primeira vez, utilizado no sertão de Rio Grande do Norte, com cerca de 300 trabalhadores, brutalmente explorados, da cana de açúcar. Angicos foi a localidade escolhida para ser palco da experiência.
Em 40 horas, Paulo Freire e os 300, humilhados e ofendidos, gente que nasceu para recolher a garapa da cana para a sociedade rica da metrópole, ancançou a alfabetização. Um pequeno, grande, passo para a sua emancipação: saber ler e escrever.
«Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens educam-se entre si, mediatizados pelo mundo».
A experiência de Paulo Freire no Brasil foi imediatamente alvo dos ataques dos sectores mais reaccionários da sociedade. Em 1964, o golpe militar instituiu a ditadura e ordenou, rapidamente, a prisão do pedagogo, que só voltaria ao país em 1980.
Wagner Moura interpreta, Felipe Hirsch realiza, Itamar Vieira Junior é um dos argumentistas
A longa metragem, que ainda não tem data de início de produção, já tem o argumento fechado: para além do realizador Felipe Hirsch, também colaborararam a guionista Juuar e o escritor Itamar Vieira Junior, vencedor do prémio LeYa e do prémio Oceanos.
Para além do papel de protagonista, que já está atribuído a Wagner Moura, actor e realizador de Marighella, filme sobre a vida do revolucionário comunista brasileiro Carlos Marighella, o projecto também conta com a participação do multi-instrumentista Egberto Gismonti, responsável pela banda sonora.
O filme conta com o apoio da família do pedagogo, assim como do Instituto Paulo Freire, organização que pretende dar continuidade, e reiventar, o «legado freiriano na promoção de uma educação emancipadora, combatendo todas as formas de injustiça, de discriminação, de violência, de preconceito, de exclusão e de degradação das comunidades de vida, com vistas à transformação social e ao fortalecimento da democracia participativa, da ética e da garantia de direitos».
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