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Acumulam-se testemunhos de palestinianos sobre crimes nas cadeias israelitas

O advogado Khaled Mahajna conseguiu visitar o jornalista Saber Arab, detido há cem dias pelas forças israelitas em Gaza, e obter mais um testemunho dos «crimes horríveis» que os presos sofrem nos cárceres da ocupação.

Palestinianos detidos pelas forças de ocupação sionistas na Faixa de Gaza Créditos / euromedmonitor.org

O jornalista Mohammad Saber Arab, de 42 anos, trabalhava como correspondente do canal Al-Arabi quando foi detido pelas forças de ocupação sionistas na Faixa de Gaza, durante a agressão generalizada ao complexo hospitalar de al-Shifa, em Março último.

Num comunicado divulgado esta quarta-feira, a Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos e a Sociedade dos Prisioneiros Palestinianos informaram que o advogado Khaled Mahajna conseguiu visitar Arab e recolher o seu «depoimento», que se junta a outros, também «horríveis e aterradores», relatados pelos presos de Gaza entretanto libertados, sobre condições de detenção que degradam a dignidade humana, refere a agência Wafa.

Ambas as instituições afirmaram que, na visita, a primeira pergunta feita por Arab ao advogado foi: «Onde estou?», mostrando que o jornalista não sabia que estava detido no campo de Sde Teman.

«A administração do campo mantém os detidos algemados 24 horas por dia e com os olhos vendados», segundo o preso, que também se referiu a outros aspectos da detenção, como o facto de estarem cercados por cães-polícias a tempo inteiro ou o tempo restricto de acesso à casa de banho – quem exceder o tempo permitido é castigado.

Arab não mudava de roupa havia 50 dias, mas antes da visita foi autorizado a mudar de calças, continuando com o mesmo casaco que trazia vestido há 50 dias.

Denúncia de agressões sexuais e violações

O testemunho inclui também conversas sobre detidos que foram mortos e sobre as torturas, abusos e humilhações a que foram submetidos, incluindo violação, nalguns casos.

«Ao longo do tempo, são submetidos a tortura, abusos e diversas formas de agressão, incluindo agressões sexuais, incluindo violação, que levaram à morte de detidos. Os espancamentos, abusos, humilhações e insultos não param, e nenhum detido pode falar com nenhum outro; quem fala é severamente espancado», disse o jornalista, citado pelas organizações de apoio aos presos.

No que toca às condições de detenção dos doentes e feridos, referiu-se a alguns cujos membros foram amputados e a quem as balas foram retiradas sem anestesia.

O jornalista detido acrescentou que os detidos dormem no chão e usam os sapatos como almofadas, não podem dormir durante o dia e que a alimentação consiste em pedaços de labneh (espécie de queijo-creme) e de pepino ou tomate (sempre a mesma refeição).

Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos e a Sociedade dos Prisioneiros Palestinianos afirmaram que esta visita «trouxe uma nova confirmação do nível de crimes horríveis a que os prisioneiros estão expostos nas prisões e campos de ocupação».

Condenação de torturas e execuções extrajudiciais

Em declarações à agência Safa, Hassan Abd Rabbo, representante da Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos Palestinianos, criticou as autoridades israelitas por impedirem a publicação de qualquer informação sobre as condições em que se encontram os detidos.

Também condenou as torturas israelitas contra cidadãos detidos na Faixa de Gaza, bem como as execuções extrajudiciais levadas a cabo pelas forças sionistas.

«Nós, Cruz Vermelha e advogados não recebemos qualquer informação», criticou Abd Rabbo, aludindo ao facto de as mortes de palestinianos nas cadeias aparecerem na imprensa judaica.

A título de exemplo, referiu-se ao caso do médico Iyad al-Rantisi, chefe da maternidade do Hospital Kamal Adwan, em Beit Lahia, que terá falecido numa prisão, de acordo com o diário Haaretz.

Também mencionou outras peças da imprensa israelita que dão conta da morte de cerca de três dezenas de prisioneiros palestinianos nos últimos meses, devido aos maus-tratos e humilhações sofridos.

Recentemente, o presidente do Conselho Legislativo Palestiniano, Abdel Aziz Dweik, denunciou as torturas que padeceu nas prisões israelitas, tendo afirmado que «não têm precedente».

Por seu lado, o Observatório Euro-mediterrânico de Direitos Humanos (Euro-Med) apresentou testemunhos de palestinianos torturados nas cadeias sionistas nos últimos meses.

Tareias, choques eléctricos, injecção de substâncias desconhecidas foram alguns dos maus-tratos apontados. Um homem de 65 anos, não identificado, confirmou os métodos de tortura e o desaparecimento de pessoas enquanto esteve detido.

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