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Cenário de guerra volta ao Rio em protesto contra privatizações

Milhares de pessoas, na sua maioria funcionários públicos, manifestaram-se ontem, dia 9, no Rio de Janeiro, contra o projecto de privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae). A Polícia Militar (PM) carregou de forma violenta sobre os manifestantes.

Milhares de pessoas manifestaram-se, ontem, contra a privatização da água e do saneamento no Rio de Janeiro
Créditos / odia.ig.com.br

Por iniciativa da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil e de outras estruturas sindicais, cerca de 10 mil pessoas participaram na mobilização que, ontem, ocupou as ruas do centro do Rio de Janeiro, em protesto contra a tentativa de privatizar o sector das Águas e do Saneamento.

A adesão de funcionários públicos e de trabalhadores da Cedae foi grande, no dia em que o projecto referido começava a ser votado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). No entanto, quando a manifestação começava a ganhar corpo, os trabalhadores foram surpreendidos pela acção violenta da «tropa de choque» da PM, que recorreu a bombas atordoantes, gás lacrimogéneo, balas de borracha, jactos de água e spray pimenta para dispersar a mobilização, informa o Brasil de Fato.

A Polícia Militar cercou as ruas em torno da Alerj, incluindo a Praça XV, onde, de acordo com uma estudante da União da Juventude Socialista, ocorreu uma verdadeira emboscada: «Os manifestantes foram atacados e não conseguiram sair desse reduto. Teve até tiro de arma letal», disse Beatriz Lopez.

Um estudante de 18 anos, membro da Associação Estadual dos Estudantes Secundaristas, foi atingido por uma bala de borracha perfurante e, ferido com gravidade, teve de ser hospitalizado. Um bombeiro também ficou ferido, segundo refere o Portal Vermelho.

«Isso é uma covardia, jogando bomba de gás e spray de pimenta em trabalhador. Estamos aqui defendendo a água, nossos empregos e essa empresa que é do povo. Estamos aqui na batalha e temos que tirar Pezão [governador do Rio] de lá», afirma Humberto Lemos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Saneamento Básico e Meio Ambiente (Sintsama).

Privatização: um guião conhecido

De acordo com o Sintsama-RJ, o governo de Luiz Fernando Pezão (PMDB) pretende «fatiar» a Cedae, sendo que a parte estatal iria continuar com a captação de água, enquanto as empresas privadas ficariam responsáveis pela distribuição de água e esgoto. Uma operação que, como sublinha o secretário-geral do Sintsama, Paulo Sérgio Faria, ocorre justamente depois de a empresa ter realizado «um dos seus maiores investimentos dos últimos anos».

Para o dirigente sindical, a privatização vai trazer «prejuízos à população», não estando «provado que a iniciativa privada [seja] mais eficiente que a administração pública». Além disso, salienta, a parte da distribuição é justamente a mais rentável da empresa. Ou seja, de acordo com a proposta actual, o governo estadual fica com o sector (captação) que gera os gastos mais altos e vende aos privados o lucrativo sector da distribuição, em cuja ampliação a Cedae tem investimento fortemente desde 2007.

O sindicato chama ainda a atenção para o facto de a privatização implicar o aumento das tarifas. No caso da Cedae, a questão é sensível, sobretudo porque fornece água a mais de cinco milhões de pessoas em situação de pobreza e que pagam uma taxa social, revela o Brasil de Fato.

Por seu lado, o Portal Vermelho destaca que o estado do Rio de Janeiro está à beira do caos social, com salários em atraso, empresas subcontratadas sem pagamento, hospitais parcialmente paralisados, esquadras sem recursos e estabelecimentos prisionais sobrelotados.

Contra a agenda privatizadora e os pacotes de «malvadez» de Pezão, já estão agendadas novas mobilizações de protesto.

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