Exército sírio declara o fim do cessar-fogo

O Exército do país árabe decidiu, ontem, não prolongar a trégua inicial de uma semana, que cumpriu nos termos do acordo alcançado em Genebra, dia 9, entre os EUA e a Rússia.

Militares do Exército Árabe Sírio em Alepo, este mês
CréditosHispanTV

Para a decisão contribuíram as múltiplas infracções ao cessar-fogo registadas ao longo destes sete dias, por parte de grupos armados jihadistas, bem como o ataque aéreo da coligação liderada pelos Estados Unidos contra uma posição do Exército sírio em Deir ez-Zor, na qual perderam a vida cerca de 90 militares que lutavam contra o Estado Islâmico.

Num comunicado, o Alto Comando do Exército Árabe Sírio (EAS) anunciou que não iria prolongar o cessar-fogo que esteve vigente no território nacional por um período de sete dias, explicando que «as forças rebeldes» tinham cometido «mais de 300 violações», atacando «a população e os militares sírios por todo o país».

O EAS acusa «os grupos jihadistas de terem aproveitado este período de trégua para se reagrupar e atacar o Exército, provocando a morte a dezenas de militares e civis», e deixando em evidência que estes grupos «estão ligados a países estrangeiros que não têm qualquer interesses em pôr fim à guerra».

No documento, divulgado pela agência Al-Masdar News, o comando do EAS afirma que «tentou implementar o cessar-fogo com o mais alto nível de profissionalismo», procurando inclusive conter-se em situações em que era alvo de ataques. «Mas acabámos por ter de responder as estas provocações contra as nossas forças armadas», lê-se no texto.

Rússia acusa EUA e seus aliados

Também ontem, o Ministério da Defesa da Rússia acusou os Estados Unidos e os grupos a que dá apoio na Síria de não cumprirem os termos do que ficou acordado em Genebra, não fazendo por isso sentido que o Exército Árabe Sírio respeite o cessar-fogo de forma unilateral, informa a HispanTV.

Numa declaração, os russos afirmam que não ocorreu a separação entre a chamada oposição moderada e a Jabhat al-Nusra [antes conhecida como Frente al-Nusra]. Ao invés, os grupos dessa «oposição moderada» integraram-se na Jabhat al-Nusra e, juntos, estão a preparar uma grande ofensiva contra o Exército sírio em Alepo – algo que se veio a confirmar.

Comboio humanitário atingido

A Organização das Nações Unidas (ONU) informou que um comboio com ajuda humanitária, que se dirigia para Alepo, foi alvo de um ataque aéreo quando passava na localidade de Urm al-Kubrah, na província de Alepo (Norte da Síria).

De acordo com a RT, apesar de não terem sido apurados responsáveis, o Departamento de Estado norte-americano foi rápido a acusar Damasco e Moscovo pelo ataque, que atingiu 18 dos 31 camiões da comitiva conjunta da ONU e do Crescente Vermelho sírio. Pelo menos 14 pessoas terão morrido e várias ficaram gravemente feridas.

Tanto o responsável das Operações Humanitárias da ONU, Stephen O'Brien, como o enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Mistura, se mostraram bastante «chocados» e «indignados» com o ataque, que ocorre no contexto de uma ofensiva de larga escala, lançada na segunda-feira pela Jabhat al-Nusra, contra as posições do Exército sírio em Alepo.

Aviação russa e síria não atacaram o comboio

O Ministério da Defesa russo negou, hoje, que a Força Aérea do seu país ou a da Síria tenham atacado o comboio humanitário a caminho de Alepo. Também as Forças Armadas sírias negaram, esta terça-feira, qualquer envolvimento no ataque, desmentindo a informação divulgada por alguns meios de comunicação social.

Igor Konashenkov, porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, disse que «o Centro Russo para a Reconciliação tinha usado drones para acompanhar o comboio humanitário porque este atravessava território controlado pelos rebeldes».

«Às 13h40 (hora de Moscovo; 10h40 GMT), o comboio humanitário chegou ao destino com êxito. A partir daí, o lado russo deixou de o acompanhar, e apenas os militantes que controlam a área têm conhecimento dos seus movimentos», acrescentou Konashenkov, citado pela RT.

O porta-voz russo disse ainda que, após a análise exaustiva das imagens de vídeo do local do incidente, não encontraram quaisquer evidências de que as viaturas tivessem sido alvo de um ataque armado. «Não há crateras, as viaturas têm os chassis intactos e não sofreram danos severos, o que teria acontecido no caso de um ataque aéreo», precisou.

Os militares russos afirmam que as imagens apenas mostram que os camiões se incendiaram, o que aconteceu, como por arte de magia, «exactamente na mesma altura em que a Jabhat al-Nusra lançou uma grande ofensiva em Alepo», informam a RT e a TeleSur.

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