As comemorações, em Lisboa, do 206.º aniversário da independência da Venezuela, o Dia da Independência Nacional, ficaram marcadas por um acto protocolar, no início do qual os presentes guardaram um minuto de silêncio «em memória dos heróis da pátria». Seguiu-se a intervenção do embaixador em Portugal da República Bolivariana da Venezuela, Lucas Rincón Romero.
Evocando a gesta dos «libertadores», Rincón Romero afirmou que «tais acontecimentos reflectiram a paixão do povo venezuelano pelos mais altos princípios republicanos de justiça social, igualdade, fraternidade e paz como valores fundadores na nossa gesta independentista». E acrescentou: «Hoje, a 206 anos dessa magna data, a República Bolivariana da Venezuela reitera a sua vocação de liberdade e independência, num momento histórico complexo para a vida nacional.»
«Refiro-me de forma particular – prosseguiu – às agressões de poderes políticos e mediáticos globais de carácter hegemónico, neo-imperialistas e violentos, que fomentam a violência terrorista em sintonia com grupos radicais da oposição nacional.»
«Os sucessores da gesta de Bolívar rejeitam qualquer tentativa, interna ou externa, de subverter a ordem política e violar o decoro das instituições nacionais com vista a alterar o ciclo político vigente através de propostas alheias à Constituição e alheias à leis da República Venezuelana», disse, enfatizando: «Não estamos nem voltaremos a estar submetidos a qualquer forma de vassalagem.»
Sobre o processo da Assembleia Constituinte, disse que se trata de um apelo ao diálogo nacional por parte do presidente Nicolás Maduro, que assim apelou «ao poder constituinte original, o povo venezuelano. Para que seja ele, através da sua participação, aquele que alcance o caminho da convivência e do bem-estar».
Ao discurso do embaixador seguiu-se uma oferenda floral, e os presentes tiveram oportunidade de ouvir os hinos nacionais da Venezuela e de Portugal, tocados pela Banda do Exército Português.
Contra a ingerência, o golpismo e a desinformação
A cerimónia protocolar antecedeu a acção de solidariedade com o povo venezuelano promovida pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC). Gustavo Carneiro, desta organização, destacou numa das suas intervenções intercalares que o objectivo da acção era «esse mesmo, a solidariedade» com o povo bolivariano, mas que, dessa forma, «procurava também contribuir para romper o manto de manipulação e de desinformação», que «é em si mesma uma arma de agressão».
A intervenção de fundo esteve a cargo da presidente da direcção nacional do CPPC, Ilda Figueiredo, que saudou «todos quantos se quiseram associar a este momento de solidariedade, ao povo venezuelano, às forças progressistas», num momento difícil, em que o país sul-americano é alvo de «uma acção de ingerência e de desestabilização».
Depois de se referir «à escalada golpista contra a Constituição da República Bolivariana da Venezuela, sempre acompanhada de uma agressiva campanha ideológica» – a fazer lembrar a situação no Chile e o golpe fascista que se lhe seguiu ou, mais recentemente, o que se passou nas Honduras e no Paraguai, e mesmo aquilo que se tem vindo a passar no Brasil –, Ilda Figueiredo enumerou as razões para ali estar.
«Estamos aqui para saudar a disposição do governo venezuelano para deter as tentativas das forças violentas de fazer eclodir uma guerra civil no país. Estamos aqui contra a ingerência e contra o golpe na Venezuela», disse, acrescentando que o CPPC, assim como outras organizações progressistas e movimentos sociais ali representados, juntam a sua voz às forças que defendem a soberania das nações e resistem contra «a política de ingerência, ameaça e agressões em que se baseia a política externa dos Estados Unidos da América e dos seus aliados».
A dirigente do CPPC valorizou «as profundas transformações democráticas nos planos económico, social e cultural, que restituíram a dignidade a milhões de venezuelanos, e o importante contributo do seu povo, com os presidentes Chávez e Maduro, para a libertação emancipadora dos povos de toda a América Latina». Insatisfeito com este cenário, o imperialismo norte-americano promove golpes de Estado para voltar a controlar a região, criticou.
Assim, «estamos ao lado do povo venezuelano, dos seus direitos, da verdade, o que significa estar do lado de todos aqueles que resistem a mais uma tentativa de golpe de Estado no continente latino-americano», salientou Ilda Figueiredo.
Um percurso de conquistas
Johana Tablada, embaixadora de Cuba em Portugal, também interveio na acção solidária, tendo aproveitado a ocasião para enaltecer as conquistas da Revolução Bolivariana a diversos níveis, como sejam o Ensino Superior – dando a muitos a primeira oportunidade nessa área – ou a Educação Artística, abrindo escolas para milhões de crianças que, até então, dela tinham sido excluídas. Recordou ainda como a Venezuela Bolivariana investiu nas políticas públicas, ajudou outros países na América Latina ou «fez avançar séculos» a integração dos povos latino-americanos.
Muito aplaudida, com um discurso determinado e repleto de emoção, a representante de Cuba disse «não» à intervenção estrangeira e à ingerência, «não» à OEA e às suas políticas de dois pesos e duas medidas, «não» à repressão sobre os povos que lutam pela justiça social.
«Não são os direitos humanos...»
O embaixador da Venezuela em Portugal já fizera uma breve alocução no início da sessão de solidariedade para destacar a elevada participação no acto e agradecer o gesto de solidariedade, sublinhando a propósito que não se estava ali apenas a celebrar a independência da Venezuela, mas a de todos os países da região, de todos os países bolivarianos.
Numa intervenção final, centrou-se mais nas acções violentas promovidas pela extrema-direita, lembrando que mais de 2000 espaços comerciais foram saqueados, mais de 200 autocarros queimados, assim como estações do metro, hospitais, armazéns de medicamentos e de alimentos. A este propósito, afirmou ainda que a oposição contratou «delinquentes para atentar contra a vida das pessoas» e que «lhes dá dinheiro, álcool, droga».
Sobre as três ou quatro pessoas que apareceram no local, gritando e insultando os presentes durante a cerimónia e acção de solidariedade, Rincón Romero disse que não entendem a solenidade da homenagem ao Libertador e que, para eles, ir ali e insultar os presentes parecia algo normal. Às ligeiras provocações, quando elas se verificaram, os presentes responderam com sonoros: «Venezuela vencerá!» e «O povo unido jamais será vencido!»
Salientando o facto como exemplo da forma como pensa e age a extrema-direita na Venezuela, disse que, pese embora todas as acções desestabilizadoras, «o povo chavista está calmo» e que «as acções de vandalismo ocorrem em locais restritos, em menos de 1% do território nacional».
Mesmo a concluir a sua intervenção, Romero disse que «o imperialismo não está preocupado com os direitos humanos», mas, sim, com os recursos que o seu país tem». Os direitos humanos são usados como desculpa, no discurso da ingerência e da agressão – e disso há muitos exemplos.
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