|Dia Nacional da Juventude

28 de Março – Dia Nacional da Juventude

É necessário dar real importância à expressão «Os jovens são o futuro do país», que hoje, com os altos níveis de desemprego, precariedade e baixos salários, pouco se aplica à realidade que vivemos em Portugal.

Dia da Juventude Trabalhadora, 26 de Março de 2020. Hoje dever-se-ia ter realizado a manifestação nacional dos jovens trabalhadores, para fazerem ouvir as suas reivindicações contra a precariedade e os salários baixos, por trabalho com direitos e em segurança, contra os abusos patronais e os despedimentos.
Créditos

O Dia Nacional da Juventude tem a sua origem em Bela Mandil, no Algarve, quando há cerca de 70 anos, em pleno fascismo, centenas de jovens organizados pelo Movimento de Unidade Democrática Juvenil (MUD Juvenil) realizaram um acampamento pela paz, pela liberdade e pela democracia. As forças repressivas do regime fascista intervieram com violência, e centenas de jovens foram agredidos e presos.

Este acampamento tornou-se um marco histórico da luta da juventude portuguesa, que todos os anos é assinalado com várias iniciativas.

Actualmente, assinalar o Dia Nacional da Juventude não é apenas uma homenagem aos jovens do MUD Juvenil, é principalmente uma afirmação da luta dos jovens portugueses, pelo direito à liberdade, contra as políticas que retiram os direitos conquistados com a Revolução de Abril e pela valorização do trabalho e dos trabalhadores.

É necessário dar uma real importância à expressão «Os jovens são o futuro do país», que infelizmente, nos dias de hoje, com os níveis altos de desemprego, precariedade e baixos salários, pouco se aplica à realidade que vivemos em Portugal.

Os jovens trabalhadores deparam-se com inúmeras dificuldades para encontrar uma estabilidade financeira que lhes permita desenvolver a sua vida pessoal e familiar e, consequentemente, contribuir para o futuro do país.

«Os jovens trabalhadores deparam-se com inúmeras dificuldades para encontrar uma estabilidade financeira que lhes permita desenvolver a sua vida pessoal e familiar e, consequentemente, contribuir para o futuro do país»

Como se não bastassem todas as dificuldades existentes, as actuais políticas do governo pretendem agravar ainda mais a situação. Veja-se as propostas de alteração ao código de trabalho, que pretendem aumentar o período experimental para 180 dias e a mudança das regras dos contratos de muito curta duração, que passam a ser de 15 até 35 dias e deixam de estar ligados apenas à actividade sazonal (agrícola e turística), podendo ser aplicados a todos os sectores actividade.

É urgente e necessária a inversão destas políticas que só visam a retirada de direitos e o agravamento das condições de vida e de trabalho, comprometendo assim o futuro da juventude e o futuro de Portugal.

Num cenário como este, em que a juventude trabalhadora é confrontada com baixos salários e vínculos precários, ainda nos deparamos com outros problemas gravíssimos que têm vindo a aumentar, como as discriminações e a repressão nos locais de trabalho.

«É preocupante a forma como os trabalhadores [com] um vínculo de trabalho precário são tratados por parte do patronato e das chefias directas. Frases como "se não queres trabalhar assim, podes ir embora que há mais 50 para o teu lugar" e "é melhor contentares-te com o que te dão, porque se começas a exigir amanhã já não pegas ao trabalho" são de uma violência psicológica brutal»

A precariedade é a primeira causa de desemprego e é responsável pela instabilidade e a insegurança na organização da vida pessoal e familiar. Segundo os dados do Fundo de Compensação do Trabalho, cerca de 1 milhão e 200 mil trabalhadores têm vínculos precários. De entre estes, os jovens até 35 anos são os mais atingidos (41,5%), sendo que mais de metade do emprego criado entre 2016 e 2018 foi preenchido por trabalhadores com vínculos precários.

A precariedade também é responsável pelo empobrecimento dos trabalhadores e das famílias, uma vez que grande parte do emprego criado é mal pago. No primeiro semestre de 2018, mais de 40% dos novos postos de trabalho foram ocupados por trabalhadores a auferirem o salário mínimo, bastante insuficiente para fazer face ao custo de vida e outras despesas familiares.

É, ainda, preocupante a forma como os trabalhadores em geral, mas principalmente os que têm um vínculo de trabalho precário, são tratados por parte do patronato e das chefias directas. Frases como «se não queres trabalhar assim, podes ir embora que há mais 50 para o teu lugar» e «é melhor contentares-te com o que te dão, porque se começas a exigir amanhã já não pegas ao trabalho» são de uma violência psicológica brutal, que provoca uma fragilidade nos trabalhadores, dando origem ao medo de afirmarem os seus direitos e de reivindicar por melhores condições de vida e de trabalho.

«Os jovens trabalhadores não se dão por vencidos. [...] São inúmeros os exemplos de trabalhadores que, unidos e organizados, conquistaram um posto de trabalho efectivo, aumento do salário e melhores condições de trabalho. Que o digam os trabalhadores da Hutchinson, Consórcio Martifer Sines, Grohe, Call Center da EDP, Sonae, Autoeuropa, Faurencia, Visteon, Cabelte e tantos outros»

Mas os jovens trabalhadores não se dão por vencidos e lutam diariamente nas empresas contra a precariedade, baixos salários, desvalorização do trabalho, retirada de direitos e discriminações.

São inúmeros os exemplos de trabalhadores que, unidos e organizados, conquistaram um posto de trabalho efectivo, aumento do salário e melhores condições de trabalho. Que o digam os trabalhadores da Hutchinson, Consórcio Martifer Sines, Grohe, Call Center da EDP, Sonae, Autoeuropa, Faurencia, Visteon, Cabelte e tantos outros que hoje podem estabilizar a sua vida e afirmar que nunca mais se vão resignar às vontades do patronato e a políticas que só pretendem explorar os trabalhadores e enriquecer às suas custas.

Aproximam-se as comemorações do dia 28 de Março, que se assinala com a Manifestação Nacional da Juventude Trabalhadora, organizada pela Interjovem CGTP-IN, em Lisboa, com concentração às 15 hora no Rossio, rumo à Assembleia da República. Com o lema «Temos direitos, queremos estabilidade! Não somos descartáveis!», os jovens trabalhadores vão dar expressão de rua às vitórias alcançadas dentro das empresas privadas e sector público e denunciar outras que continuam a explorar os seus trabalhadores.

Apesar das dificuldades e do constante ataque aos direitos, a juventude demonstra que não se resigna e exige a resolução dos problemas. A força da juventude, como há 70 anos em Bela Mandil, mantém-se activa até aos dias de hoje e é a prova de que todo o património que a Revolução de Abril nos deu não foi esquecido.

Os jovens estão na vanguarda do progresso, por um país mais justo, que dignifique os seus cidadãos, valorize o trabalho e os trabalhadores, para que Portugal seja realmente um país com futuro.

 

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