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Manuel Fernandes, o eterno capitão da listada verde e branca

Todos os fins-de-semana, nas bancadas do Estádio José Alvalade, nas roulottes ou nos cafés, os adeptos do Sporting costumam cantar o «Voto Solene», uma música que procura projectar o compromisso que estes sentem pelo seu clube. Em uníssono iniciam a música com um «na riqueza ou na pobreza, na saúde ou na doença / juro ser fiel ao Sporting, até a morte nos separar». Estes dois versos definem Manuel Fernandes.

O «eterno capitão», o avançado letal, o ídolo de várias gerações «leoninas», foi a personificação do clube que representou. Era pelo menos assim que os aficcionados do Sporting Clube de Portugal olhavam para Manuel Fernandes. Viam nele a entrega, a combatividade, a verticalidade de valores e o espírito de compromisso, em campo e fora dele, independentemente da força dos ventos.

Nascido na pequena aldeia de Sarilhos Pequenos, localizada no concelho da Moita, a rua foi a sua escolinha de formação. Calçou as primeiras botas aos 16 anos para ingressar na equipa de juvenis do Sarilhense. Bastou um ano para subir aos séniores e degladiar-se nos pelados e relvados da terceira divisão. 

Passado um ano foi jogar para a Companhia União Fabril (CUF), equipa do Barreiro que pertencia à conhecida empresa de Alfredo da Silva. Não entrou logo para a equipa principal, tendo ficado um ano na equipa de reservas a polir a sua capacidade goleadora. O reconhecimento enquanto artilheiro não tardou e na época seguinte mostrou trabalho na equipa principal, um ano que fica marcado por uma excelente campanha e um apuramento para as competições europeias, após a vitória ao Futebol Clube do Porto com um golo seu. 

Na CUF, Manuel Fernandes deu-se a conhecer ao futebol português e mostrou aquilo que era a sua especialidade: marcar golos. Entre a época de 1969/1970 e a época de 1974/1975, em 138 jogos marcou 40 golos. Este desempenho valeu-lhe a ida para o Sporting, o seu clube de sempre. 

Foi no Sporting que Manuel Fernandes atingiu o estatuto de lenda. Com o número 9 nas costas, apesar de várias agruras, envergando a camisola verde e branco, chegou a capitão no clube que o Visconde de Alvalade profetizou vir a ser «tão grande como os maiores da Europa», cumprindo a premonição da sua mãe que um dia lhe havia dito que ter este viria representar o emblema do leão rampante. 

Manuel Fernandes teve como pares jogadores ímpares como Jordão. Ao serviço do Sporting, o «eterno capitão», ao longo de 12 anos, marcou 257 em 433 jogos, conquistou dois campeonatos, duas taças de Portugal e uma supertaça Cândido de Oliveira. Na época de 1985/1986 consagrou-se o melhor marcador do campeonato com 30 golos marcados, sendo que o jogo que ficará eternamente marcado na história foi na época seguinte, numa vitória por 7-1 ao eterno rival Benfica, onde Manuel Fernandes apontou 4 dos golos sportinguistas.

A sua passagem pelo Sporting foi um sonho realizado. O proprio disse isso numa entrevista ao canal do clube: «12 anos no Sporting, o quarto jogador com mais jogos, o segundo melhor marcador da história do Sporting… para um miúdo de Sarilhos Pequenos, de uma aldeia, que queria jogar nem que fosse uma vez no Sporting, não me sinto realizado, sinto-me mais que realizado».

A vida de Manuel Fernandes continuou ligada ao futebol depois do Sporting. Como jogador ainda passou pelo Vitória Futebol Clube, como treinador passou por mais de uma dezena de clubes, tendo ganho uma supertaça com o seu clube de sempre. Na equipa leonina chegou ainda a desempenhar funções técnicas na estrutura.  

Várias foram as personalidades a assinalar a partida de Manuel Fernandes. Nas redes sociais, José Mourinho, Cristiano Ronaldo, Bruno Fernandes, Rafael Leão ou Nuno Mendes despediram-se da lenda do futebol português. 

Numa altura onde a lealdade é superada pelas cláusulas de rescisão e é cada vez mais raro alguém dar a vida por um clube, Manuel Fernandes é a representação de uma entrega que está em vias de extinção. «Esforço, dedicação, devoção e glória» é o lema do Sporting, mas é também Manuel Fernandes.
 

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