Ex-dirigente do CDS-PP é simultaneamente conselheiro de Estado, vice-presidente do BPI e administrador do jornal Público

Política e negócios misturam-se na polémica dos SMS

Depois de Lobo Xavier dar conhecimento das comunicações entre Domingues e Centeno ao Presidente da República, o seu conteúdo é publicado pelo jornal de que é administrador.

António Lobo Xavier à entrada para uma reunião da Assembleia-geral do BPI, banco de que é vice-presidente e onde foi colega de António Domingues, ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos
CréditosJosé Coelho / Agência LUSA

O conselheiro de Estado António Lobo Xavier confessou, ontem, do seu lugar de comentador residente na SIC Notícias, que divulgou o conteúdo das mensagens entre o ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos e o Ministério das Finanças. O ex-deputado do CDS-PP, não respondendo claramente, insinuou que leu as comunicações trocadas pelo seu antigo colega no conselho de administração do BPI e as transmitiu a Marcelo Rebelo de Sousa.

«O Presidente teve conhecimento das informações que tinha através de um contacto pessoal comigo»

António Lobo Xavier, QUadratura do Círculo

Esta revelação levanta vários problemas, tanto no plano político como do próprio sistema financeiro. Lobo Xavier é uma escolha pessoal do Presidente da República e mantém acesso priveligiado a Marcelo. Mas é simultaneamente administrador do BPI, um dos maiores interessados na fragilização da Caixa Geral de Depósitos – para além de destacado militante do CDS-PP. No início do mês, após a conclusão da tomada do BPI pelo espanhol CaixaBank, Lobo Xavier é mesmo promovido a vice-presidente do conselho de administração do banco, ficando apenas abaixo de Fernando Ulrich na hierarquia do BPI.

Recorde-se que a polémica nasceu após um outro comentador e conselheiro de Estado indicado por Marcelo, Marques Mendes, ter questionado na mesma SIC se a alteração do Estatuto do Gestor Público não isenta a apresentação da declaração de rendimentos e património junto do Tribunal Constitucional pela administração do banco público. O ex-líder do PSD e o antigo presidente do grupo parlamentar do CDS-PP assumem a dianteira da polémica, acompanhados pelos seus partidos.

O aproveitamento político do caso pelo PSD e pelo CDS-PP tem sido bastante criticado, inclusivamente por sectores internos. Os partidos parecem apostados em fazer cair o processo de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos, de forma a forçar a privatização (parcial ou total) do banco público, imposta pela Comissão Europeia.



Público assume dianteira e publica conteúdo de comunicações que Lobo Xavier entregou a Marcelo

O conselho de administração do BPI não é o único em que o ex-dirigente do CDS-PP tem cadeira reservada – longe disso. Entre as restantes, conta-se o jornal Público, do grupo Sonae, com quem Lobo Xavier mantém relações desde o final da década de 80.

A 9 de Fevereiro, quinta-feira, o Público inicia a publicação de um conjunto de elementos sobre as comunicações entre Mário Centeno e António Domingues. Mas as revelações intensificam-se a partir do encontro entre Marcelo e Centeno, seguido da conferência de imprensa do ministro. Esta quarta-feira, o diário revela o conteúdo das mensagens mostradas por Lobo Xavier a Marcelo. Uma fuga de informação que, ou revela pouca discrição por parte dos envolvidos, ou denuncia a fonte.

No dia seguinte, ontem, o jornal consegue mesmo precisar a data de algumas comunicações que, entretanto, já estavam reproduzidas noutros órgãos de comunicações social. David Dinis, director do Público e assessor de Durão Barroso quando este foi primeiro-ministro, já garantiu hoje que o jornal não dá o caso por encerrado.

Lobo Xavier surge no centro de um triângulo que envolve política, finanças e imprensa, como pivô de um caso em que, não havendo objectivos declarados, muitas dúvidas têm sido suscitadas.

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