|Economia

Procura interna sustentou crescimento económico em 2018

Perante os dados do INE hoje divulgados confirma-se o papel determinante da procura interna, e em especial do consumo privado, para a aceleração do crescimento económico registado na presente legislatura.

O INE divulgou hoje os primeiros dados sobre a evolução da nossa economia em 2018 e no 4.º trimestre do ano. Após nove trimestres consecutivos a crescer em termos homólogos acima de 2%, a nossa economia, de acordo com os primeiros dados agora divulgados, terá crescido no 4.º trimestre de 2018 abaixo de 2%, mais precisamente 1,7%. 

Em termos anuais, a nossa economia cresceu 2,1% em 2018, ligeiramente abaixo daquilo que o Governo previa (2,3%), depois de em 2017 esse crescimento ter sido de 2,8% e de em 2016 ter sido de 1,9%. 

Para esta evolução do crescimento económico registado em 2018, de acordo com o INE, contribuiu negativamente a evolução da procura externa líquida, com uma desaceleração das exportações de bens e serviços mais acentuada que das importações de bens e serviços e contribuiu positivamente a evolução da procura interna, em especial do consumo privado.

Perante estes dados hoje divulgados, confirma-se o papel determinante da procura interna, e em especial do consumo privado, para a aceleração do crescimento económico registado na presente legislatura (nos últimos três anos o crescimento médio anual do PIB foi de 2,3% ao ano, enquanto entre 2013 e 2015 esse crescimento médio anual foi de apenas 0,5%). 

Desde logo, em resposta às críticas que PSD e CDS fazem à evolução económica recente, uma questão se coloca: Como teria evoluído a nossa economia se em 2016 o actual governo tivesse prosseguido as políticas de congelamentos e cortes de salários e pensões, que PSD e CDS tencionavam prosseguir?

Sem a devolução de salários, o descongelamento e aumento real de pensões sociais e reformas, sem a reposição de direitos dos trabalhadores (horários de 35 horas, horas extraordinárias, reposição de feriados, aumento do subsídio de desemprego, aumentos do salário mínimo nacional), e sem a redução do IRS não teria sido possível aumentar o rendimento disponível das famílias e consequentemente, reanimar a actividade económica, aumentar o investimento, o emprego e o consumo privado.

«Atribuir esse resultado menos bom à greve dos estivadores é por um lado sinal de alguma ignorância [...]. Por outro lado, permite à direita desviar o foco da conclusão fundamental dos dados agora divulgados: a economia continua a crescer a um ritmo superior ao da União Europeia graças às políticas de melhoria na distribuição do rendimento e aposta na procura interna»

Sem a reanimação da procura interna, com as políticas que PSD e CDS se propunham prosseguir, a economia portuguesa estaria agora ainda mais refém da evolução procura externa e com esta em clara desaceleração, poderíamos estar já a entrar num novo ciclo de recessão e desemprego.

Esta é a leitura que se pode fazer da informação hoje divulgada pelo INE, a qual aliás confirma toda uma evolução que se vinha já registando ao longo de 2018. 
Perante estes dados não têm qualquer sentido as afirmações do ministro da economia que atribuem à grave dos estivadores do Porto de Setúbal, registada no último trimestre do ano, a responsabilidade pela evolução menos favorável das nossas exportações em 2018. 

Que raio, o Senhor Ministro ainda mal aqueceu o lugar, mas basta olhar para os dados das nossas exportações em valor ou em volume nos últimos trimestres, semestres ou ano, para verificar que há uma clara desaceleração na sua evolução, porque os nossos principais mercados exportadores (Alemanha, Espanha,) estão em desaceleração.

Note-se que as nossas exportações de bens cresceram em 2017 em valor 10%, enquanto em 2018 esse crescimento foi de 5,3%, esse ritmo de crescimento desacelerou para metade.

Mais ainda, o que os dados das exportações de automóveis mostram é que a quebra registada nas exportações de automóveis no mês de Novembro foi mais do que compensada com o valor das exportações deste bem em Dezembro e em Outubro, de tal forma que as exportações de automóveis aumentaram no último trimestre do ano 64 milhões de euros (+8,7%).

Atribuir esse resultado menos bom à greve dos estivadores é por um lado sinal de alguma ignorância, quando desde o início de 2018 todos os indicadores mensais já apontavam para essa desaceleração (veja-se o que dizia o INE, o Banco de Portugal, a Comissão Europeia e a OCDE). Por outro lado, permite à direita desviar o foco da conclusão fundamental dos dados agora divulgados: a economia continua a crescer a um ritmo superior ao da União Europeia graças às políticas de melhoria na distribuição do rendimento e aposta na procura interna, prosseguidas nos últimos três anos. 

Se assim não fosse, poderíamos estar à porta de uma recessão com as incertezas que a procura externa hoje enfrenta. 

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