Os números do turismo e os números dos trabalhadores do turismo

Apesar da evolução positiva no sector, que se pode dizer positiva para o país, não tem havido uma melhoria das condições laborais dos trabalhadores da hotelaria.

Protesto dos trabalhadores do Inatel Albufeira
CréditosSindicato da Hotelaria do Algarve

Ontem foram divulgados dados do Instituto Nacional de Estatística que nos indicam que no primeiro semestre deste ano a receita total da actividade turística atingiu os 1163,5 milhões de euros, mais 16,5% do que em igual período de 2015. A taxa de ocupação média subiu para 43,1%, mais 2,7 pontos percentuais do que em igual período de 2015, e o número de dormidas em estabelecimentos hoteleiros cresceram 11,2% em relação ao mesmo período de 2015.

Apesar da evolução positiva no sector, que se pode dizer positiva para o país, não tem havido uma melhoria das condições laborais dos trabalhadores da hotelaria. Já em 2014, o Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia, nos resultados publicados do Inquérito aos Ganhos e à Duração do Trabalho por sectores de actividade, mostrava-nos que o sector de actividade de alojamento, restauração e similares é dos que pratica dos salários mais baixos de toda a economia do país, só superado pelo sector da fabricação de têxteis, indústria do vestuário e do couro. 

Os dados indicavam-nos ainda que neste sector a média de trabalhadores com um nível de remuneração idêntico ao Salário Mínimo Nacional era em Outubro de 2014 bem superior à média nacional – neste sector 25,6% dos trabalhadores recebiam o Salário Mínimo Nacional enquanto a média nacional é de 19,6% para todos os sectores de actividade. Os dados mostravam também que os níveis de precariedade neste sector não têm paralelo em qualquer outro sector da actividade económica no nosso país: 39,5% dos seus trabalhadores tinham contrato a termo, enquanto a média nacional era de 28,4%; e 7,5% dos seus trabalhadores eram aprendizes ou estagiários, enquanto a média nacional dos vários sectores era de 3%. 

Hoje, a situação mantêm-se para os trabalhadores desta área. Prova disso, são os inúmeros protestos que ocorreram recentemente e que estão marcados para as próximas semanas.É importante não esquecer que a actividade turística e o seu sucesso está assente na qualidade e disponibilidade do trabalho realizado. A maior ou menor satisfação do turista tem uma ligação intima, não com o empresário proprietário do empreendimento onde se instalou, mas com o trabalhador com quem contactou. Assim, valorizar o trabalho realizado no sector do turismo e os seus trabalhadores é não só justo e uma questão de dignidade, como é também um indispensável contributo para o sucesso do sector.

Medidas têm que ser tomadas para combater estas condições dos trabalhadores. Dar à Autoridade para as Condições de Trabalho as condições e os mecanismos para combater o trabalho ilegal e precário no sector do turismo; regulamentar os estágios lectivos e profissionais, em contexto de trabalho, no sentido de impedir que as empresas recorram, de forma abusiva, a esta prestação de trabalho e criar mecanismos de controlo adicionais no sentido de garantir que os estágios nas empresas cumpram com as normas legais em vigor e que não sirvam para substituir trabalhadores; as empresas têm que fazer reflectir o seu desempenho nos salários dos seus trabalhadores e na relação vincular que com eles estabelecem.

É importante também não esquecer que, para o desenvolvimento do país, este não pode estar só dependente dos serviços. O estímulo à actividade produtiva tem um papel central para o cumprimento desse objectivo. 

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