Os portugueses são um povo que passa muitas vezes do oito ao 80, da euforia à depressão, seja com as vitórias e derrotas deste ou daquele clube, da selecção nacional ou com a participação nacional nos Jogos Olímpicos.
Hoje, vivemos um desses momentos de euforia com a proposta unânime do Conselho de Segurança da ONU do nome de António Guterres para secretário-geral da organização.
Tudo isto porque, talvez, sejamos pouco exigentes e o que esperamos dos nossos compatriotas em cargos internacionais de responsabilidade seja apenas que coloquem o nome de Portugal nas bocas do mundo.
Para dar visibilidade ao nosso país e pô-lo no mapa turístico outros o têm feito: de Eusébio a Carlos Lopes, de Amália a Saramago, de Figo a Mourinho ou de Nelson Évora a Ronaldo.
O que se espera do exercício internacional de cargos públicos é o prestígio resultante da implementação de políticas que combatam a pobreza e promovam a justiça social, que interditem a arbitrariedade dos países mais ricos e a ingerência dos mais fortes, que promovam a paz e o diálogo entre Estados iguais em direitos e soberanos. Como a vida prova, a presença de um português num alto cargo internacional não é por si só condição para lhe dar concretização.
Por isso, estes momentos de compreensível entusiasmo que muitos partilham não nos podem tolher a capacidade de análise nem a lucidez da crítica. António Guterres terá capacidades e experiência reconhecidas com o exercício do cargo de alto-comissário da ONU para os refugiados. Espera-se de António Guterres que, na sua intervenção, predomine uma postura que possa desmentir opções e decisões que, enquanto primeiro-ministro de Portugal, assumiu, de envolvimento de tropas portuguesas na coligação que interveio militarmente na República da Jugoslávia, sob a hegemonia da NATO e dos EUA, e à revelia do Conselho de Segurança da ONU.
Sejamos optimistas na expectativa de que, no mandato que o espera, António Guterres dê prioridade ao cumprimento do direito internacional tantas vezes esmagado, à defesa dos povos e dos seus direitos, nomeadamente à sua autodeterminação, em defesa da paz e da independência e soberania dos Estados.
Sabemos que o antigo primeiro-ministro se demitiu para não entrar no pântano. Mas é preciso que não perca a noção de que é no pântano que vai cair. Daí que seja tarefa urgente tirar a ONU do pântano!
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