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A fotografia como documento sociológico, histórico e artístico

Exposições de Renée Gagnon, José David, Helena Jalles e Maura Grimaldi, em Lisboa, da coletiva de desenho «Projeções», em Gondomar, e de Ivan Nascimento, no Seixal.

Exposição «LibertAr-te» de Ivan Nascimento na Galeria de Exposições Augusto Cabrita, no Seixal, até 20 de julho
Exposição «LibertAr-te» de Ivan Nascimento na Galeria de Exposições Augusto Cabrita, no Seixal, até 20 de julho. Créditos / Ivan Nascimento

A Sociedade Nacional de Belas-Artes1, em Lisboa, apresenta atualmente três exposições, que podem ser visitadas durante o mês de julho.

A exposição «MU SEKE 75» de Renée Gagnon está na Galeria Pintor Fernando de Azevedo da SNBA, até 20 de julho de 2024. Esta exposição reúne o registo fotográfico realizado por Renée Gagnon (Montreal, Canadá, 1942) no período de 1972 a 1976, dos musseques de Luanda. Estes registos fotográficos constituem-se como importantes documentos sociológicos, históricos e também artísticos, que se mantiveram inéditos até hoje. 

Os musseques de Luanda eram construídos com uma grande diversidade de materiais recuperados que lhe davam consistência e resistência, mas, ao mesmo tempo, um ar frágil e precário: tonéis de vinho, bidons, caixotes de madeira de cerveja, chapas de artes gráficas, cartão, papel, plástico, ramos de árvores, tecidos, paus e terra misturados com argila, cimento, areia e algum tijolo.

Em 1974, em plena guerra civil, com uma bolsa de estudos da Fundação Calouste Gulbenkian, a artista desenvolveu um trabalho de pesquisa documental e plástica durante 18 meses sobre o tema Paliçadas dos Musseques de Luanda, «do qual resultou este conjunto de fotografias a p/b, que as feridas do colonialismo condenaram ao anonimato, tendo ficado até hoje por publicar ou expor», segundo o texto de Paula Nascimento, a curadora da exposição. Refere ainda a curadora, que a obra de Reneé Gagnon «…dialoga com as urgências atuais, abre espaço para uma reflexão mais ampla sobre o passado, mas também sobre o presente, sobre os efeitos das crises políticas, sociais e económicas nas cidades, sobre a sobrevivência, memória e exclusão.»

Obra de Renée Gagnon, Musseque de Luanda. Fotografia p/b, dezembro de 1974. Exposições de Renée Gagnon e José David (até 20 de julho) e Helena Jalles (até 27 de julho) na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa Créditos

«O teu rosto como o rosto da pintura» de José David é a outra exposição que a SNBA também apresenta, no Salão da SNBA, até 20 de julho de 2024. Esta exposição «elege, como seu tema maior, a autorrepresentação: o seu rosto confunde-se com o fazer da pintura cujos fundos são, quase sempre, intensamente matéricos e esgrafitados», acrescentando ainda que «quando surgem outros corpos, de homens ou de bichos (especialmente o touro) é ainda de autorrepresentação que devemos falar. No entanto, o eu, identificável ou desfeito, não conta nem histórias nem circunstâncias. É um percurso e uma obsessão para a invenção da pintura.» 

Por último, a Sociedade Nacional de Belas-Artes apresenta também a exposição «Silêncios» de Helena Jalles, até 27 de julho, na Galeria de Arte Moderna da SNBA. Este conjunto de obras são realizados através da técnica «Collage», mas que, a partir da 3.ª dimensão, se transformam em paisagens volumétricas. «Esta forma de expressão é uma tentativa de Helena Jalles explorar e aprofundar os seus sentimentos no silêncio, utilizando vários materiais como o papel, madeira, cortiça, cola, etc., os quais em conjugação com o elemento cor nas suas mais variadas nuances e degradês, põe em evidência de uma forma mais intensa tudo aquilo que pretende transmitir ao observador», conforme referido na folha de sala da exposição.

O Lugar do Desenho da Fundação Júlio Resende2, em Gondomar, apresenta a exposição do ciclo «Projeções» com trabalhos dos alunos da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, até 31 de julho.

Projeções é uma iniciativa conjunta do Departamento de Desenho da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e do Lugar do Desenho – Fundação Júlio Resende, tendo iniciado em 2011, no âmbito da Unidade Curricular Práticas do Desenho. Este ano apresenta-se uma seleção de desenhos dos projetos realizados no âmbito das unidades curriculares de Práticas do Desenho, da Licenciatura em Artes Plásticas, e de Estúdio de Desenho, do Mestrado em Artes Plásticas, com obras de Ana Valera, Ascar, Beatriz Moreira, Catarina Marques Gil Mata, Coelho Oliveira, Eva Villena, Filipa Pedrosa, Francisca Sá, Helena Pereira, Helena Sá, Irene, Joana Medeiros, José Pedro Silva, Marco Martina Rodríguez, Miguel Lopes, Mónica Nóbrega, Pedro Dias, Sofia Vilas Boas e Vitória Monteiro.

Exposição coletiva do ciclo «Projeções» no Lugar do Desenho da Fundação Júlio Resende, em Gondomar, até 31 de julho Créditos

Nesta exposição podemos ver desenhos que são «o resultado de propostas individuais de pesquisa e de atuações muito diversas no campo vasto e heterogéneo do desenho, sendo, também, a afirmação de um espaço de procura no contexto do desenho na arte contemporânea: o desenho que se faz para ser desenho, o desenho como prática autónoma, o desenho como ferramenta, o desenho como processo de pesquisa ou mesmo o desenho em articulação com outras formas de expressão artística.», segundo os curadores, J. Jorge Marques & Pedro Maia, acrescentando ainda que «as práticas do desenho são neste contexto, onde o desenho se pensa e se realiza, uma prática autónoma, permitindo eventualmente compreender o seu sentido e a sua própria natureza. Assim, não obstante a variedade de abordagens que se apresentam, esta mostra de desenho vincula o reconhecimento da importância e da afirmação que o desenho tem tido e continua a ter no contexto da arte contemporânea.»

A exposição «saxa loquuntur [as pedras falam]» de Maura Grimaldi, recentemente inaugurada na Galeria Diferença3, em Lisboa, decorre até 27 de julho de 2024. A exposição de Maura Grimaldi (Brasil, 1988) tem a curadoria de Giulia Lamoni e apresenta o resultado do seu «processo de investigação à volta do mundo lítico», desenvolvido a partir de 2021, durante um período de residência no espaço Utopiana, em Genebra.

Acerca deste trabalho de pesquisa, a artista «explora a especificidade do universo geológico e do devir mineral a partir do cruzamento de perspetivas heterogéneas tais como as da geologia, da literatura, das artes, da filosofia. Ao ensaiar um encontro multifacetado com algumas das camadas materiais e conceptuais que constituem o mundo das pedras, das rochas e da terra, os trabalhos que dão vida a este projeto mobilizam corpos e saberes humanos e não humanos, instigando deslocações críticas entre uns e outros e gerando conversas, conflitos, e transformações imprevisíveis», como podemos ler no texto de apresentação.

Obra de Maura Grimaldi, Nebulosa (2024). Filme 16mm transferido para digital. Exposição «saxa loquuntur [as pedras falam]» de Maura Grimaldi, na Galeria Diferença, em Lisboa, até 27 de julho Créditos

Sendo a primeira exposição individual de Maura Grimaldi em Portugal, país onde a artista reside, reúne um conjunto diverso de trabalhos: dois filmes, um conjunto de aguarelas, uma projeção de diapositivos e uma série de fotografias. As peças, que serão apresentadas nos dois espaços da Galeria Diferença (a galeria quadrada e a galeria triângulo), exploram de múltiplas formas o universo geológico, tecendo conexões críticas com outras áreas de estudo tais como a ecologia, os estudos de género e decoloniais. 

Na Galeria de Exposições Augusto Cabrita4, no Seixal, integrada nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, podemos agora visitar a Exposição de pintura «LibertAr-te» de Ivan Nascimento, até 20 de julho.

Ivan Nascimento (Caparica, 1986) apresenta-nos esta exposição, como «um convite para refletir sobre o verdadeiro significado da liberdade, pois cada obra selecionada para esta mostra foi escolhida não apenas pela sua componente estética, mas também pelo seu poder de provocar emoções e despertar consciências, refletindo sobre a realidade pandémica e os ideais de liberdade e resiliência que marcaram o 25 de Abril.»

O Projeto LibertAr-te, segundo o artista, surge como continuidade do projeto DesconfinArte, que nasceu durante a pandemia, com obras, que inicialmente foram criadas em tela, passando posteriormente a serem utilizados outros suportes, como tábuas de madeira. «As cores vibrantes e as formas abstratas convidam o espetador a mergulhar num universo de significados ocultos, em que cada pincelada é um ato de libertação e resistência», revela-nos o artista.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

  • 1. Sociedade Nacional de Belas-Artes - Rua Barata Salgueiro, 36, Lisboa. Horário: segunda a sexta, das 12h às 19h, sábado, das 14h às 19h.
  • 2. Lugar do Desenho – Fundação Júlio Resende, Rua Pintor Júlio Resende, 105 4420-534 Valbom, Gondomar. Horário: segunda a sexta, das 9h30  às 12h30 e das 14h30 às 18h30, e sábado, das 14h30  às  17h30.
  • 3. Galeria Diferença, Rua São Filipe Neri 42 Cave, Lisboa. Horário: terça a sexta, das 14h às 19h, e sábados, das 15h às 20h.
  • 4. Galeria de Exposições Augusto Cabrita-Quinta dos Franceses Seixal 2840-499 Seixal. Horário: terça a sexta-feira, das 10h às 20h30, e sábado, das 14h30 às 20h30.

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