Cultura preventiva

As condições potenciadoras da ocorrência de acidentes de qualquer natureza são geradas pela relação que o Homem estabelece com o meio onde se insere.

Dos resultados do inquérito realizado, ressalta ainda a circunstância de 68% dos inquiridos confessar não saber manusear um extintor.
Créditos

Desta constatação resulta outra: o comportamento dos indivíduos é determinante para o nível de segurança que lhe pode ser garantido.

Diversos estudos comprovam que a sociedade portuguesa possui, a vários níveis, um elevado défice de cultura preventiva. Esta disfunção social identifica-se em vários contextos, nomeadamente na família, nas empresas e organizações, nas habitações, na via pública, no meio rodoviário e em muitos outros espaços de ação e intervenção dos cidadãos.

A construção de uma cultura de prevenção depende da harmonia funcional de um virtuoso triângulo de fatores: pessoas, comportamentos e ambiente.

Quando um indivíduo decide agir com segurança, ele incorpora uma atitude com impactos mensuráveis no ambiente que o rodeia.

Partindo desta premissa, importa perceber quais os setores da sociedade nos quais é preciso investir, de modo a obter mais e melhores resultados neste domínio.

As lideranças das organizações de diversa tipologia podem desempenhar um importante papel na transformação do comportamento das pessoas que dirigem, induzindo a prática de condutas preventivas, muito para além das responsabilidades legais que lhes estão atribuídas

Concluí um estudo, tendo por base uma amostra de 100 dirigentes de organizações de diversa índole, públicas e privadas, com o objetivo de caraterizar o grau de cultura de preventiva dos mesmos, em contexto profissional, familiar e comunitário.

Não sendo este um estudo exaustivo, dadas as limitações da amostra e o número de questões formuladas no questionário, as conclusões apuradas sugerem uma atenta reflexão.

Da análise efetuada conclui-se que é no contexto das empresas/organizações que as lideranças identificam os melhores níveis de Prevenção de Acidentes. Dos inquiridos, 67% considera suficiente, bom ou muito bom o nível de segurança verificado na sua empresa/organização.

Esta situação não surpreende se tivermos em consideração a legislação reguladora do funcionamento das instalações com diversas funcionalidades e as responsabilidades atribuídas aos gestores, nesta matéria.

«Dos resultados do inquérito realizado, ressalta ainda a circunstância de 68% dos inquiridos confessar não saber manusear um extintor»

Entretanto, se olharmos para as respostas no que se refere a situação no contexto familiar e no município de residência, verificamos que cerca de metade dos inquiridos classifica como mau ou muito mau o nível preventivo existente nos referidos enquadramentos: na família 49%; no município de residência 47%.

A diferença verificada no enquadramento das lideranças fora do contexto organizacional no qual exerce responsabilidades sugere que este segmento social possui um défice de segurança, uma vez que, contrariamente ao que se verifica enquanto gestores, assumem uma postura negativa em relação à situação que consideram existir, na família e no município de residência.

Se no contexto local e nacional os cidadãos têm dificuldades, só por si, em reforçar a resiliência da comunidade onde se inserem – primeira obrigação do Estado, nos seus diversos patamares – o mesmo já não se poderá dizer do contexto familiar, uma vez que neste espaço cabe a cada cidadão agir no reforço da prevenção de acidentes. Neste âmbito, só 21% dos inquiridos considera bom ou muito bom o nível existente nos respetivos grupos familiares e 30% consideram-no suficiente.

Entretanto quando convidados a pronunciarem-se sobre as medidas prioritárias a adotarem para alterar o quadro que esboçam, na sua esmagadora maioria os inquiridos reclamam mais informação: 87% na família, 68% nas empresas/organizações, 82% nos municípios de residência e 75% no país.

Dos resultados do inquérito realizado, ressalta ainda a circunstância de 68% dos inquiridos confessar não saber manusear um extintor e, menos surpreendente, 88% não saber aplicar manobras de reanimação. Ora sabendo-se que a prática de extintores consta do programa da formação ministrada nas empresas/organizações, fica a dúvida se a maioria das lideranças frequentou as mesmas.

Quanto à questão sobre a capacidade de agir, face a um sismo, inundação ou incêndio, constata-se que 68% dos inquiridos revelam não saber o que fazer numa situação de sismo.

De tudo o que fica exposto, resulta uma conclusão global. Há que consciencializar e sensibilizar muitas lideranças para o importante papel que podem desempenhar, fora do quadro das suas responsabilidades de gestão, assumindo uma postura ativa e mobilizadora na construção de uma cultura cívica de segurança, tanto no contexto das famílias como no local de residência e no país.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990

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