Guinada à direita ou investida continental do eixo anti-bolivariano

A guinada é à direita e os tempos não são os da «integração irreversível». Enquanto assim for, enquanto os povos não derrubarem os seus déspotas, a Venezuela tem de se manter firme perante esta vizinhança. Para que prevaleça a Revolução.

Durante a campanha eleitoral, em 2015, o actual presidente argentino, Mauricio Macri, já tinha deixado as coisas claras: «A Argentina deve reintegrar-se no mundo e abandonar o eixo bolivariano». Ontem as intenções ficaram bem vincadas em Buenos Aires, onde a diplomata venezuelana Delcy Rodríguez foi agredida por agentes policiais, ao tentar entrar no Ministério dos Negócios Estrangeiros argentino, para ali participar numa reunião do Mercado Comum do Sul (Mercosul).

A gravidade do que se passou só foi suplantada pela dignidade e o exemplo da representante da Venezuela, que viajou até Buenos Aires para mostrar que o seu país não se rende, defender a via da integração regional e a cooperação Sul-Sul, e reafirmar que a Venezuela é um Estado-membro do Mercosul.

Rodríguez foi igualmente à capital argentina denunciar as manobras da «Tríplice Aliança», que, alinhada à direita, em plena ofensiva neoliberal contra os seus próprios povos – pense-se nos milhares de desempregados e pobres que Macri fez desde a chegada à Casa Rosada e no rasto de destruição que as reformas de Temer fazem prever –, têm no isolamento da Venezuela e no ataque à sua Revolução uma questão prioritária.

O ataque não é, em si mesmo, novidade. Habituámo-nos a ver as conquistas da Revolução Bolivariana – em áreas como a Saúde, a Educação, a Habitação – num contexto de acosso mediático permanente, de repetidas ofensivas económicas, de várias tentativas de golpe político, que eram cozinhadas em Caracas, Washington ou Madrid. Com raras excepções, a Sul, a integração regional funcionava, e, não poucas vezes, os vizinhos uniram-se como uma pinha face a ameaças desestabilizadoras.

Este cenário mudou com o golpe em Brasília: a «nova política externa brasileira» deu asas ao macrismo anti-bolivariano. Com o Paraguai, onde o golpe contra Fernando Lugo teve lugar em 2012, formaram a «Tríplice Aliança», assim designada pela Venezuela, que passou a ser alvo frequente dos seus ataques.

Desde Agosto, com ou sem o Uruguai, Argentina, Paraguai e Brasil apostaram num cenário de confrontação com o país caribenho, destinado a impedi-lo de assumir a presidência temporária a que tem direito no Mercosul. Primeiro, argumentando que a República Bolivariana tinha «presos políticos» e era um «regime autoritário»; depois, insistindo na «falta de cumprimento das obrigações» relativas ao Protocolo de Adesão – razão que alegaram para a suspensão da Venezuela no passado dia 2 de Dezembro.

Curiosamente, a Venezuela é o único país-membro do bloco regional a ter ratificado o Protocolo de Montevideu sobre o compromisso com a democracia no Mercosul, conhecido como Ushuaia II; curiosamente, a Venezuela transpôs, em quatro anos, mais normas do Mercosul para a sua legislação do que qualquer outro país do bloco: 1479 de 1563, ou seja, 95% face aos 50% do Brasil ou do Paraguai.

Mas não interessa: a guinada é à direita e os tempos não são os da «integração irreversível». Enquanto assim for, enquanto os povos não derrubarem os seus déspotas, a Venezuela tem de se manter firme perante esta vizinhança. Para que prevaleça a Revolução.

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