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A história da tenebrosa PIDE «Leninha» e de uma das suas vítimas agora em livro

A história verídica da mais cruel agente da PIDE, e de uma mulher que resistiu às suas torturas, passou a romance, pelas mãos de Ana Cristina Silva, vencedora do Prémio Fernando Namora. 

A agente «Leninha» humilhava e espancava as suas vítimas na sede da PIDE. Quando foi a tribunal desmentiu tudo
Créditos / Sábado

O livro As longas noites de Caxias, editado pela Planeta quando se assinalam 45 anos da Revolução dos Cravos, cruza a história de duas mulheres que ficaram na história da Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE): uma foi torturada, a outra tinha prazer em torturar.

Neste romance, baseado numa história verídica, mas em que nomes e situações foram ficcionados, Ana Cristina Silva cruza a vida de «Leninha», a mais temida agente feminina da PIDE, com a de Laura, mulher que resistiu às suas torturas, e namorada de José Ribeiro dos Santos, o jovem estudante morto a tiro pela polícia.

Os factos relativos a Madalena Oliveira e aos métodos e forma como torturava as presas são absolutamente reais no romance, como são as descrições do sofrimento de quem lhe passava pelas mãos, revela a autora em entrevista à Lusa.

«Leninha» é julgada e condenada a uma pena simbólica de quatro anos e quatro meses de prisão, no romance como na vida real, mas presa e torturadora nunca se encontraram em tribunal. Tal acontece apenas no livro para efeitos dramáticos, como que para apaziguar o trauma que persiste na mulher que inspirou a personagem Laura Branco, contou Ana Cristina Silva, que é também psicóloga e professora de psicologia.


Por isso mesmo, explica, gosta de trabalhar a caracterização psicológica das personagens, e a da «Leninha» foi construída «em função das suas atitudes», aquilo que à escritora parecia ser «plausível».

«Depois há os factos concretos do que ela fazia às presas», afirmou, sublinhando: «Quer as partes da presa política, quer as referentes à Madalena são infelizmente reais, dramaticamente reais, assustadoramente reais e eu quero, com este livro, que as pessoas, ao lerem, se defrontem com esse horror, que recordem esse horror».

Esta é uma preocupação muito presente no discurso de Ana Cristina Silva que refere o caso de uma das testemunhas no processo contra Madalena Oliveira, que afirmava recear que «a história da PIDE fosse rapidamente esquecida».

«Além de alguns testemunhos que apareceram nos últimos anos, eu acho que, ao longo do tempo, [a história da PIDE] tem sido relativamente branqueada», considera, dando como exemplo os seus alunos, que têm uma «ideia muito vaga e muito ténue» do que se passou.

O livro chegou esta semana às livrarias e, reconhece a autora, tem como objectivo «despertar consciências». 

Com agência Lusa

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