Pelo menos dois mortos e 40 feridos foi o saldo da intervenção do conhecido Esquadrão Móvel Antidistúrbios (Esmad) contra as manifestações que esta segunda-feira à noite tiveram lugar na localidade de Usme, a sul de Bogotá.
De acordo a imprensa colombiana, Jaime Alonso Fandiño, de 33 anos, foi morto quando participava nos protestos antigovernamentais no Bairro de Yomasa. Uma outra morte foi confirmada pelo Primera Línea Colombia.
Testemunhas afirmaram que o Esmad disparou uma granada de gás lacrimogéneo directamente contra o peito de Alonso Fandiño, que, devido à gravidade dos ferimentos, necessitava de assistência médica imediata.
No entanto, refere a TeleSur, os agentes do Esmad lançaram mais gás lacrimogéneo para o local, impedindo que o homem fosse assistido ou levado para um hospital.
Na cidade de Cáli, a Associação Nacional dos Estudantes do Secundário reportou várias situações de abuso perpetradas pela Polícia contra os manifestantes mobilizados contra as políticas de Duque. Em comunicado, a associação estudantil referiu que, ontem à tarde, a Polícia efectuou disparos directamente contra vários jovens – alguns dos quais membros da associação – que realizavam uma acção de luta cultural no chamado Puerto Resistencia, em Cáli (departamento de Valle del Cauca). Como dois dos jovens foram atingidos pelas balas – um na cabeça e outro numa perna –, alguns estudantes decidiram mudar-se para o Paso del Comercio, onde, refere o texto, a Polícia os recebeu com disparos de pistolas e espingardas. Neste sentido, a associação estudantil pede ao Município de Cáli que garanta o direito ao protesto e à vida dos manifestantes, exige a retirada imediata das forças policiais e militares dos pontos referidos, bem como a abertura de investigações que permitam esclarecer os factos e condenar os responsáveis. Heidy Sánchez, vereadora no Município de Bogotá, denunciou que o jornalista Diego Otavo, do órgão comunitário Noti Barrio Adentro, foi agredido presumivelmente por membros da Polícia colombiana quando cobria uma mobilização social, esta quarta-feira. No hospital, foi-lhe diagnosticado um trauma cranioencefálico leve, indica a Prensa Latina. Também há registo de diversas denúncias contra a Polícia na cidade de Medellín, onde esta quarta-feira teve lugar uma grande manifestação contra o governo de Iván Duque. De acordo com a TeleSur e vários utilizadores da rede social Twitter, o Esquadrão Móvel Antidistúrbios (Esmad) atacou membros dos serviços de atendimento médico (APH), bem identificados, com bombas atordoantes e gás lacrimogéneo, e agrediu uma fotógrafa que cobria a manifestação. O Comité da Greve afirma que Duque quer enganar os colombianos. Em Cáli, uma das cidades com mais mortos, feridos e desaparecidos no contexto das mobilizações, o povo inaugurou o Monumento à Resistência. As grandes manifestações e greves contra o governo colombiano iniciadas a 28 de Abril, «por causa de uma reforma tributária» que uma boa parte da população rejeitava, continuam a verificar-se no país sul-americano e prevê-se que prossigam pelo menos ao longo desta semana, tendo em conta que as negociações entre o Comité da Greve e o governo de Iván Duque estão paradas. Diógenes Orejuela, dirigente da Central Unitária dos Trabalhadores (CUT) e porta-voz do Comité, afirmou que a proposta avançada pelo governo de realizar negociações a nível regional com representantes do Comité da Greve em cada departamento, com a participação dos governadores e presidentes dos municípios, é uma «acção para os enganar», informa a TeleSur. Para o Comité, não se trata de negociações mas de «simulacros e negociações para enganar os colombianos», o que é «uma grande falta de respeito para com o país, com os milhões de colombianos que se manifestaram em mais de 800 municípios», disse Orejuela. Com esta atitude, sublinhou, o governo não se pode queixar de que o país está a ser prejudicado pelas greves e as manifestações. «É o país que é terrivelmente prejudicado por este presidente, Iván Duque», frisou. No domingo, na cidade de Cáli, uma das cidades onde há registo de mais mortos, feridos e desaparecidos na sequência da repressão policial e militar exercida sobre os manifestantes, milhares de pessoas inauguraram o Monumento à Resistência no chamado Puerto Resistencia, local de grandes protestos antigovernamentais. «Sabem porque é o melhor monumento da Colômbia? Porque o fez o povo sem descansar; trabalharam dia e noite com as suas mãos e dignidade para homenagear a luta e os que nela caíram. Obrigado, Puerto Resistencia», disse à Prensa Latina Francisco Romero, presente no local durante a inauguração. Feliciano Valencia, senador pelo Movimento Alternativo Indígena e Social, destacou aquilo que foi alcançado neste «paro nacional», que já vai em 49 dias, como travar a reforma tributária e a reforma de Saúde, a renúncia do ministro das Finanças, Alberto Carrasquilla, bem como da ministra dos Negócios Estrangeiros, Claudia Blum, e do comandante da Polícia de Cáli, Juan Carlos Rodríguez, entre outras coisas. No sábado, houve grandes mobilizações em vários pontos do país, sendo uma das maiores a que ocorreu na cidade de Medellín. Além disso, registaram-se cortes de estrada em diversos locais. Com o que realizaram em Cajamarca (departamento de Tolima), os manifestantes quiseram denunciar a ausência de respostas do governo a temas como a brutalidade policial e a acção dos paramilitares. Na região do Catatumbo (departamento de Norte de Santander, no Nordeste do país), indivíduos que se identificaram como «paramilitares» atacaram agricultores que se manifestavam, chamando-lhes «guerrilheiros», batendo-lhes e roubando-lhes telemóveis. Depois, efectuaram pelo menos 150 disparos, ferindo múltiplos manifestantes, também com «armas traumáticas», segundo refere o Equipo Jurídico Pueblos. O mesmo organismo denunciou, esta segunda-feira, que «paramilitares» mantiveram retidos por várias horas representantes dos camponeses, defensores dos direitos humanos e o governador do departamento de Norte de Santander na Escola Mercedes 2. Enquanto isto ocorria, denunciou o Equipo Jurídico Pueblos, agentes da Polícia Nacional entraram e saíram da escola sem qualquer restrição. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. As mobilizações contra as políticas neoliberais do governo de Iván Duque continuaram em vários pontos do país, apesar de, na segunda-feira, o Comité da Greve ter anunciado que ia interromper temporariamente estas iniciativas, que têm tido lugar no país sul-americano deste 28 de Abril último. Numa conferência de imprensa, representantes do Comité justificaram a decisão com o facto de o governo de Duque não ter reconhecido o pré-acordo sobre garantias mínimas para o exercício do direito à manifestação e com a necessidade de proteger os manifestantes da violência. No entanto, a decisão não foi bem acolhida por múltiplos sectores, que anunciaram que iam continuar a fazer greve e a protestar contra o governo «criminoso» de Duque nas ruas do país. Também houve manifestações nas cidades de Pasto (Nariño) e Bucaramanga (Santander), onde foi denunciada a presença e a acção repressiva do Esmad em zonas residenciais. De acordo com a informação divulgada esta terça-feira pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz), 70 pessoas foram assassinadas desde o início da greve na Colômbia, sendo que 46 homicídios terão sido perpetrados pelas forças policiais. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Na Colômbia, os protestos não param e as denúncias de abusos também não
Denúncias de abusos também em Bogotá e Medellín
Internacional|
Continuam as mobilizações contra o governo de Duque na Colômbia
Louvor à Resistência popular em Cáli
Paramilitares atacam agricultores em Norte de Santander
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Ao ter conhecimento da morte de Jaime Alonso Fandiño, a vereadora Heidy Sánchez lamentou o facto e afirmou que, até à data, três pessoas foram mortas em Bogotá desde o início da Greve Geral, a 28 de Abril.
Posteriormente, as autoridades referiram que Jaime Alonso Fandiño chegou a um centro de saúde já sem sinais de vida. Num comunicado, a Campaña Defender la Libertad, denuncia que a Polícia Metropolitana e o Esmad «estão a ignorar o cumprimento dos protocolos de intervenção e acção no contexto dos protestos».
Até 22 de Junho, o organismo regista 83 vítimas mortais no âmbito das greves e manifestações contra o governo de Iván Duque.
Comité da Greve rejeita «criminalização do protesto»
O Comité rejeitou, esta segunda-feira, a limitação do direito ao protesto imposta por decreto, na última sexta-feira, pelo governo colombiano. De acordo com a definição agora estabelecida, os bloqueios de vias, que têm sido amplamente utilizados como forma de protesto no país, deixam de ser «permitidos» e as forças de segurança ficam autorizadas a recorrer ao «uso da força» para os dissolver.
Rodrigo Uprimny, professor da Universidade Nacional da Colômbia, considerou a medida como «grave e inconstitucional», uma vez que «não se pode alterar o direito ao protesto por decreto», refere a TeleSur.
O anúncio, pela pena do governo, daquilo que é «pacífico ou legítimo» mereceu a condenação de partidos, sindicatos e organizações sociais, e também do Comité da Greve, que na semana passada anunciou uma paragem temporária nas mobilizações, que «não significa o fim da mobilização na Colômbia», pois as razões que levaram os colombianos às ruas desde 28 de Abril «mantêm-se vigentes», afirmaram.
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