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Ante a ofensiva da direita, os estudantes não arredam pé: «A propina é para acabar!»

Com as ameaças do Governo PSD/CDS-PP em elitizar o Ensino Superior, os estudantes encheram as ruas de Lisboa numa prova de força e unidade. Sob o mote «Não Recuamos, Gratuitidade Já!», o Dia Nacional do Estudante foi assinalado com uma grande manifestação nacional. 

CréditosMiguel A. Lopes / Lusa

No ano passado, logo após as eleições legislativas, foram os estudantes do Ensino Superior a sair à rua para mostrar ao Governo PSD/CDS-PP que não iam ser meros espectadores da política de desastre que queria meter em marcha. Passado um ano, o Governo não resistiu ao chumbo de uma moção de confiança e, apesar de não ter tido tempo para colocar em prática todo o seu projecto, as ruas de Lisboa encheram-se de jovens de vários pontos do país para responder às intenções da direita. 

Confirmado pelo ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, o Governo preparava-se para descongelar as propinas, ou seja, materializar um roubo aos estudantes e suas famílias. Além deste claro ataque, em marcha estava também a alteração ao Regime Jurídico de Instituições de Ensino Superior, a desresponsabilização do Estado face a este sector e a entrega do financiamento da universidade e politécnicos aos grandes grupos económicos. 

É certo que o ex-governo do PS, tendo todas as condições, não salvaguardou a gratuitidade do ensino, mas executivo liderado por Luís Montenegro carregava consigo um ímpeto revanchista e pretendia regressar aos tempos da política terrorista do executivo de Passos Coelho que se orgulhava de ter ido além da Troika. 

Para muito dos jovens que hoje corresponderam ao apelo lançado pela Associação de Estudantes da Faculdade de Ciência Sociais e Humanas (AEFSCH), pela Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (AEFLUL), entre outras estruturas, os tempos da Troika não estão presentes na memória, mas o ataque que o Governo agora em gestão queria realizar era digno de uma resposta em luta.

Neste sentido, o Dia Nacional do Estudante foi hoje assinalado em luta com milhares de jovens a virem de vários pontos do país para se concentrarem no Rossio e daí deslocaram-se até à Assembleia da República, num evidente espírito de unidade. Estudantes trajados e não trajados, de todas as formas, com diferentes visões do mundo, marcharam lado a lado, uniram as suas vozes e em uníssono gritaram as mesmas palavras de ordem. 

Durante a manifestação distribuíram-se cravos, os jovens mostraram com orgulho os cartazes que continham reivindicações em jeito de revolta e desabafos, a espontaneidade e irreverência agitou as faixas, os megafones eram abafados pelos gritos de uma geração que não revê na política de direita a solução para o seu futuro. 

 «Venha quem vier, avançaremos. Venha que Governo vier, não nos enganam»

Em frente à Assembleia da República, Guilherme Vaz, presidente da AEFCH tomou a palavra e fez uma intervenção, na qual apontou o caminho que deve ser seguido no Ensino Superior. Considerando que a manifestação é «expressão bem viva» da «força enquanto estudantes», o jovem dirigente associativo elencou todos os motivos que levaram à forte mobilização verificada. 

«Na Acção Social não há avanços», «o Governo que agora caiu meteu o Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior na gaveta» e «afirmou o seu objectivo de aumentar as propinas», foram as críticas deixadas à actuação do executivo PSD/CDS-PP. «Venham eles com as artimanhas que quiserem - esta massa de gente não se conforma e não se cala», considerou Guilherme Vaz face à mobilização estudantil alcançada após todos os ataques desferidos.  

Num momento em que, segundo o mesmo, 10% dos estudantes desistem por falta de condições económicas, 100 mil estudantes deslocados não têm cama nas residências públicas, quatro mil estudantes entram no Ensino Superior e não conseguem matriculam-se, 48% dos estudantes mostra sinais de complicação de saúde mental, e a justificação para a não resolução dos problemas é não haver dinheiro, o jovem não tem dúvidas: «Quantas vezes ouvimos que não há dinheiro? Nunca há dinheiro para o Ensino Superior. Mas quando se trata de dinheiro para a Guerra, 800 mil milhões de euros para as armas, para dar borlas fiscais aos grandes grupos económicos, para entregar lucros à banca, para dar aos privados na saúde, aí nunca lhes falta a vontade de esbanjar o que é preciso, de abrir os cordões à bolsa». 

Face a tudo, o presidente da AEFSCH terminou a sua intervenção com a promessa de que «venha quem vier, avançaremos. Venha que Governo vier, não nos enganam. São anos e anos de desinvestimento no Ensino Superior, de ataque aos nossos direitos, de mentiras que já estamos fartos de ouvir». 

 

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