|Manuel A. Domingos

«Luta de classes? Isso já não existe!»

A verdade é que os professores demonstraram, mais do que uma vez, que as suas reivindicações são justas. Quem, no seu perfeito juízo, ficaria indiferente ao apagamento de 6 anos, 6 meses e 23 dias de tempo de serviço pelo seu patrão?

CréditosMiguel A. Lopes / Agência Lusa

A questão da luta de classes tem sido relegada para segundo plano, pois vingou a ideia de que é algo anacrónico, fora de moda e desnecessário, pois as classes deixaram de existir, fruto das «benesses» do capitalismo. Desde «o fim da história» que temos assistido a este tipo de retórica. Mas adiante.

A pertinência, a necessidade e a realidade da luta de classes são inegáveis. Determina eventos, instituições e formas de pensar, desempenhando, dessa maneira, um papel importante e decisivo na transição de uma época histórica para outra. Um bom exemplo disso é a luta que tem vindo a ser desenvolvida pelos professores. Não ter isto em conta é ignorar, e querer que os outros ignorem, todos os anos lectivos marcados por uma intensa, justa e justificada luta dos professores. É ser desonesto. A verdade é que os professores demonstraram, mais do que uma vez, que as suas reivindicações são justas. Quem, no seu perfeito juízo, ficaria indiferente ao apagamento de 6 anos, 6 meses e 23 dias de tempo de serviço pelo seu patrão?

«Determina eventos, instituições e formas de pensar, desempenhando, dessa maneira, um papel importante e decisivo na transição de uma época histórica para outra.»

E ao contrário da ideia que a comunicação social dominante quis fazer passar, os professores também reivindicaram: garantir às escolas todos os professores de que os alunos necessitam; determinar uma solução justa para o enquadramento dos docentes em Mobilidade por Doença, garantindo o respeito pela dignidade humana; dar resposta aos problemas acrescidos que se vivem na monodocência; aprovar o regime de concursos e de vinculação extraordinária dos docentes das escolas de ensino artístico; definir medidas de combate à indisciplina e violência nas escolas; assegurar a dotação das escolas com todos os docentes, bem como de todos os recursos, que sejam indispensáveis para o seu funcionamento; atrair mais jovens para a profissão docente e criar condições para que todos aqueles que já a exercem, queiram continuar. Não esquecer ainda – e antes de acusarem os professores de «corporativismo» – que a classe docente esteve presente em várias lutas e frentes: defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS), aumento geral dos salários, pelo fim da guerra e pela paz, pelo fim do genocídio em Gaza, por uma vida justa.

Enquanto as «democracias liberais», sustentadas pelo regime capitalista, permitirem que uma minoria se aproprie do trabalho da maioria (e foi isso que o governo PS fez com o tempo de serviço dos professores e com as sucessivas recusas em o devolver, várias vezes com o apoio do PSD, CDS, IL e CH), e permitirem que uma minoria decida de forma autocrática – mas travestida de democrática – o destino da maioria, haverá inevitavelmente e necessariamente luta de classes. A luta dos professores foi, e continua a ser, exemplo disso.

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