A dimensão da derrota do imperialismo na grande cidade do Norte da Síria é mais fácil de aferir se tivermos presente a intensa campanha mediática de manipulação e ocultação que envolveu – e envolve – a libertação de Alepo.
Se aterrasse agora, aqui, um desconhecido vindo do longe e afastado dos andares do mundo há uns bons anos, ter-lhe-íamos de contar, resumidamente, o entretanto sucedido na Síria e, na tarefa, incluiríamos seguramente a partilha da alegria pela libertação de Alepo, que há coisa de três anos e menos ainda chegou a parecer montanha a cujo cume não se subiria.
Haveria igualmente que avisar o de longe e apartado que não estranhasse se pouco ou nada visse da alegria dos alepinos e demais sírios nas TV, onde parecem prevalecer critérios informativos que não passam pela defesa do interesse público. Vendo muitas «notícias», poderia até dar-se o caso de ficar confuso, baralhado: os que são maus aqui são bons acolá, «terroristas» aqui, «rebeldes» acolá.
No actual panorama, teria mais aliviada missão se abrisse uma conta no Twitter ou noutra rede social: aí, sim, correram vídeos a mostrar celebrações nas ruas depois de declarada a vitória das forças do legítimo Governo sírio e seus aliados, e viu-se gente aos magotes a encher uma praça enfeitada com uma árvore natalícia e onde se agitavam bandeiras da Síria, da Federação Russa e do Hezbollah. Mas, claro, sabe-se bem que essas redes não alcançam os sítios onde as TV vão lestas.
Seria igualmente necessário explicar ao forasteiro e distanciado, no caso de disso ter ouvido falar – e sendo muitas as probabilidades – que não foi o assassinato do embaixador russo em Ancara ou o ataque em Berlim, nesta segunda-feira, a fazer descer uma cortina enlutada sobre os festejos de Alepo ao cabo de quatro anos de dura guerra.
Aqui, teria o de longe provindo de haver paciência, recostar-se e ouvir uma história bem comprida, onde coubessem os acometimentos do imperialismo e a sua pouca propensão para aceitar festivamente a libertação dos povos e a resistência dos que não se submetem ao seu jugo – uma enfiada onde não faltassem Coreia, Vietname, África, América Latina, com histórias do pátio traseiro e uma breve explicação sobre como agora elas se fazem e contam, até em cenários de fantasia de estúdios de cadeia de TV.
E haveria que guardar tempo e disposição para ir do Iraque ao Afeganistão, da Líbia ao Iémen, antes de regressar à Síria, mas tendo o cuidado de não afogar o ouvinte com tanta história de terror assim junta. É que, chegados a este ponto, não se poderia falhar a parte do quem «instigou e promoveu, apoiou e financiou».
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