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Grécia: a ilusão do fim do «resgate»

O anúncio do fim do «resgate» não dá aos gregos razões para comemorar. Foram oito anos de empobrecimento, perda de soberania nacional e ataque aos direitos sociais, que alguns querem perpetuar.

 Alexis Tsipras foi o executante das políticas da troika apesar do seu programa eleitoral, que prometia reverter as políticas de austeridade
CréditosOlivier Hoslet / EPA

Na verdade, o anunciado fim do terceiro programa de assistência financeiro não permitirá aos gregos respirar de alívio, considerando o programa de acompanhamento de que a Grécia continua a ser alvo, por parte do FMI e da UE, que lhe limita a soberania e a resposta aos graves problemas económicos e sociais, nomeadamente através de imposições orçamentais.

Os dados do Eurostat aí estão para comprovar o efeito sanguessuga dos chamados «credores». A riqueza criada no país helénico em 2017 foi inferior àquela que se produziu em 2004. O PIB per capita em PPP (paridade de poder de compra), que dois anos antes da entrada da troika (2008) era 16,6 pontos percentuais (pp) inferior à média da União Europeia (UE), passou em 2017 para 37 pp abaixo da média. 

Lá, como cá, a emigração de quadros qualificados foi uma realidade alicerçada no trabalho cada vez mais precário e no desemprego galopante, que chegou a 27,5% em 2013, sendo apenas de 7,8% em 2008. No período compreendido entre 2008 e 2017, o rendimento médio dos gregos caiu 32%. Em 2015, a exclusão social atingia cerca de quatro milhões de gregos.

180%

A dívida da Grécia aumentou para 180% do PIB e é a maior da zona euro

Os direitos do trabalho não escaparam à chantagem da troika que Alexis Tsipras executou enquanto acenava com a proximidade da «saída limpa», pese embora ter sido eleito com um programa que prometia reverter as políticas de austeridade. 

Foram parcelas de dinheiro a troco de menor estabilidade profissional, vínculos laborais precários e rendimentos insuficientes para assegurar condições de vida dignas. Até o direito à greve, enquanto forma de protesto contra as medidas impostas, foi alvo de cerceamento.

Por isso, «não é o regresso à normalidade», como ontem tentou fazer crer o presidente do Eurogrupo, Mário Centeno. Mais condizente com a realidade é o «bem-vindos de volta», infeliz saudação escolhida pelo ministro português das Finanças, uma vez que os constrangimentos que decorrem da «vigilância» realizada pelo FMI e pela UE impossibilitam o desenvolvimento da Grécia num quadro de soberania capaz de responder aos problemas que o país tem pela frente. 

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