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Atingidos pelo maior desastre ecológico do Brasil exigem justiça

Três anos depois da ruptura dos diques da barragem de Fundão, em Mariana (Minas Gerais), as vítimas do «crime da Samarco» continuam a denunciar falta de justiça e reparação, e vão protestar.

A região de Bento Rodrigues, no município mineiro de Mariana, foi a primeira a ser atingida pela lama tóxica
Créditos / camara.leg.br

A 5 de Novembro de 2015, os diques da barragem de Fundão, da empresa mineira Samarco, cederam. Uma avalanche de lama tóxica matou 19 pessoas e contaminou a Bacia do Rio Doce, nos estados brasileiros de Minas Gerais e Espírito Santo.

Três anos volvidos, as vítimas do maior desastre ambiental no Brasil denunciam a situação de desamparo em que se encontram. No final da semana passada, anunciaram uma concentração em Mariana e outra em Londres, junto a uma sede da BHP Billiton (accionista da Samarco).

Na sede do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, em Belo Horizonte, representantes das vítimas revelaram ainda que, durante dez dias, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) vai levar a cabo acções de denúncia ao longo da Bacia do Rio Doce. De acordo com o Brasil de Fato, os protestos têm início em Mariana e passam por mais 13 cidades de Minas Gerais e Espírito Santo.

Enorme desastre ambiental, «crime da Samarco»

A ruptura dos diques da barragem de Fundão, na região de Bento Rodrigues (município de Mariana), onde a empresa Samarco guardava resíduos da exploração mineira de ferro, teve um impacto ambiental tremendo, sendo considerado o maior desastre ecológico na história do Brasil e um dos maiores do mundo.

Na sequência da ruptura, 62 milhões de metros cúbicos de lama tóxica destruíram a localidade de Bento Rodrigues, em Minas Gerais, matando pelo menos 19 pessoas (residentes e funcionários da Samarco), e contaminaram a Bacia do Rio Doce, que abrange mais de 200 municípios no Sudeste do Brasil. O município de Mariana foi destruído, comunidades rurais foram afectadas ao longo de muitos quilómetros, centenas de famílias perderam as suas casas e milhares tiveram prejuízos.

Segundo o MAB, a ruptura da barragem de Fundão atingiu mais de um milhão de pessoas, mas apenas 30 mil cadastros devem ser realizados pela Renova – empresa criada para proceder à compensação dos impactos da ruptura dos diques da barragem, integrada por representantes da Samarco, Vale e BHP Billiton, bem como por entidades ambientais e públicas, a nível estadual e federal.

Um crime não reparado

«Fomos prejudicados, fomos massacrados. Esse crime tocou a gente da nossa realidade, cortou a nossa identidade, apagou o nosso futuro e abortou todos os nossos sonhos», declarou Luzia Queiroz, representante da localidade de Paracatu de Baixo, na conferência de imprensa em Belo Horizonte.


Estiveram também presentes moradores de Bento Rodrigues e técnicos da Cáritas Regional Minas Gerais, entidade que presta apoio às famílias na região, segundo revela o Brasil de Fato.

Antônio da Lua, morador de Bento Rodrigues, localidade surgida no século XVIII e que ficou inabitável após o crime, sublinhou que os habitantes alertavam constantemente para os riscos que a terra corria, com a empresa a responder que «não havia riscos, era seguro».

«Muitos engenheiros falaram que morariam até debaixo da barragem, até chegar o dia em que acabaram com a nossa comunidade. Aquilo foi um crime anunciado!», denunciou, citado pelo Brasil de Fato.

Por seu lado, Luzia Ferreira, moradora de Paracatu de Baixo, lembrou que os prejuízos não foram apenas económicos, na medida em que houve pessoas que perderam ligações a familiares e amigos, ao terem de ir morar na cidade, e que hoje enfrentam dificuldades para se adaptar.

Com a mudança forçada e a dificuldade de adaptação a um novo meio, «muitos adoecem, têm problemas como síndrome de pânico, depressão, tentativas de suicídio e até perdas de memória», sublinhou.

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