As bombas atómicas lançadas pelos EUA sobre Hiroxima e Nagasaki, a 6 e 9 de Agosto de 1945, mataram mais de 250 mil pessoas de forma imediata. Estima-se que outras tantas tenham morrido nos meses subsequentes e que muitos outros milhares tenham falecido ao longo dos anos, devido a doenças relacionadas com a exposição à radiação nuclear, sofrendo diferentes tipos de enfermidades crónicas, deformações e mutilações.
Tanto os EUA como certo tipo de historiografia apresentaram os bombardeamentos como inevitáveis para a derrota do Japão, procurando assim esconder a natureza hedionda do crime – ainda hoje impune –, bem como o facto de que o país do Extremo Oriente estava à beira do esgotamento e da capitulação.
Em 1950, tendo presentes o holocausto nuclear de Hiroxima e Nagasaki e o perigo da sua repetição, o Conselho Mundial da Paz lançou o Apelo de Estocolmo, que foi assinado por centenas de milhões de pessoas e no qual se exigia «a interdição absoluta da arma atómica, arma de terror e de extermínio em massa de populações». Quando passam 71 anos sobre o crime cometido nas duas cidades japonesas, o movimento mundial da Paz relembra o Apelo de Estocolmo, reafirmando a exigência de pôr fim às armas nucleares e de destruição massiva. Fá-lo, no entanto, deixando vários alertas.
No final de Maio deste ano, no âmbito da cimeira do G7, o presidente norte-americano, Barack Obama, deslocou-se ao memorial às vítimas em Hiroxima. Como nenhum presidente dos EUA em funções antes ali havia estado, a visita assumiu um carácter inédito e histórico. Contudo, a constatação de que «a Humanidade tem meios para se destruir», o apelo à reflexão e a uma «revolução moral» ou – em entrevista a um canal de TV – a afirmação da «visão comum sobre um mundo livre de armas nucleares», saídos da boca de Obama, dificilmente se podem levar a sério.
Pese embora os EUA terem assinado e ratificado o Tratado de Não Proliferação Nuclear e Obama não perder ocasião de anunciar ao mundo que «a América procura a paz e a segurança num mundo livre de armas nucleares», os indicadores demonstram o contrário: o perigo nuclear é real, persiste a corrida aos armamentos, prossegue a modernização de armas nucleares por parte dos Estados Unidos – o único país que usou a arma atómica e que tem em curso um programa, para a «revitalização atómica», com um custo estimado de um milhão de milhões de dólares, a ser dispendido ao longo de três décadas.
No contexto actual, é também preocupante a política de hostilização que, no seio da NATO, os EUA promovem contra a República Popular da China e a Federação Russa – de que é exemplo a ingerência e tensão crescentes no Mar do Sul da China e a instalação de sistemas anti-míssil e de armas nucleares em diversos países europeus. Crescem, deste modo, os riscos de ocorrência de um incidente nuclear.
As últimas décadas, após o fim da União Soviética, ficaram ainda marcadas pelo aumento do número de guerras com o envolvimento e a afirmação do poderio militar dos EUA, da NATO e da União Europeia – vejam-se os exemplos da Jugoslávia, do Afeganistão, do Iraque, da Líbia, da Somália, da Síria ou da Ucrânia, em que os estados foram destruídos, milhões de pessoas foram mortas e milhões tiveram de fugir à guerra.
Nestes tempos de tensão, belicismo crescente e guerras de agressão contra estados soberanos, não é um bom augúrio a alteração recente da Constituição japonesa – promovida pelo primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, sob fortes protestos do movimento pela Paz ali existente –, permitindo às tropas do país participar em conflitos externos – algo que lhe era interdito desde a Segunda Guerra Mundial.
No mês passado, num debate sobre o programa nuclear britânico na Casa dos Comuns, a nova primeira-ministra britânica, Theresa May, mostrou-se disposta a carregar num botão e desencadear um ataque nuclear capaz de matar 100 mil pessoas. Lembrando o horror de Hiroxima e Nagasaki, é urgente contrariar a disposição de May, os maus augúrios nipónicos, o legado de Obama em curso e lutar por um mundo sem armas nucleares e de destruição massiva.
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