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Guatemala e Sri Lanka avivam lições de Fidel e do assalto a Moncada

No Sri Lanka, a obra A História Absolver-me-á foi traduzida para o tâmil, enquanto na Guatemala quatro latino-americanos destacaram a vigência do 26 de Julho de 1953 para os povos da região.

O Quartel Moncada, em Santiago de Cuba, em 26 de Julho de 2013, por ocasião das cerimónias do 60.º aniversário do assalto   
CréditosFernanda LeMarie / Cancillería del Ecuador

Num debate via Zoom promovido pelo Colectivo de Solidariedade com Cuba Manuel Galich (Guatemala), quatro latino-americanos sublinharam a importância e a vigência do 26 de Julho de 1953, quando os revolucionários cubanos procuraram tomar de assalto os quartéis Moncada e Carlos Manuel de Céspedes, numa etapa decisiva para a afirmação da luta que viria a derrubar a ditadura militar de Batista, a 1 de Janeiro de 1959.

O professor guatemalteco Carlos Maldonado (moderador), o pedagogo cubano Miguel Zaldívar, o investigador colombiano Alfonso Insuasty e o seu compatriota Yani Vallejo concordaram que ainda há muitos «Moncada» para tomar de assalto, informa a Prensa Latina.

Insuasty defendeu que, no contexto histórico actual, é fundamental para a luta recuperar referências históricas como a protagonizada por aquele grupo de jovens cubanos, que atacaram o maior dos baluartes batistianos sem se importar de perder a vida pela defesa de um ideal.

Em seu entender, continua a ser um exemplo essa força transformadora que conseguiu identificar os problemas da sociedade, agitou a vontade de outros e deu o passo para uma gesta daquele tamanho, embora sabendo que se encontrava em total desvantagem.

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«Prensa Latina nasceu em Cuba porque em Cuba nasceu a Revolução da América Latina»

Quando passam 60 anos sobre o primeiro despacho com a sigla PL, lembra-se os entraves do imperialismo ao trabalho da agência cubana, que nasceu ao «serviço da verdade» e não dos monopólios dos opressores.

Fidel e Masetti na Sierra Maestra; Jorge Masetti viria a ser o primeiro director da agência Prensa Latina
Créditos / La Tinta

Surgida em 1959 como «reflexo» da Revolução cubana triunfante, a Agência Informativa Latino-americana Prensa Latina nasceu para divulgar uma visão que «punha em causa a hegemonia dos monopólios mediáticos» de então, aspecto em que mantém hoje a sua vigência, disse Enrique Amestoy, investigador uruguaio e assessor na área de Tecnologia da Informação e Comunicação, em declarações à Prensa Latina no seu escritório em Montevideu.

«A "ideia de Fidel e do Che" de que era necessário dar luta às campanhas de confusão dos inimigos dos movimentos progressistas na América Latina» foi destacada por Amestoy, que atribuiu o epíteto de «enormes» aos que integraram a primeira equipa editorial da Prensa Latina, como o colombiano Gabriel García Márquez, o uruguaio Carlos María Gutiérrez e o argentino Rodolfo Walsh (desaparecido durante a ditadura militar na Argentina).

O investigador uruguaio evocou também a figura do primeiro director-geral da agência, Jorge Masetti, que «destacava o carácter radical, libertador, independentista, latino-americanista, humanista, unitário e anti-imperialista da Prensa Latina», e ia mais além, «fazer a revolução no jornalismo da América Latina» fazendo uso do instrumento recém-criado.

Enrique Amestoy destacou ainda o «trabalho incansável» que a Prensa Latina mantém «em condições totalmente desiguais face ao domínio de velhos e novos oligopólios», num contexto que «actualmente é ainda mais complexo», pois os donos das novas tecnologias, das redes sociais, dos sistemas operativos, dos algoritmos da Inteligência Artificial «escondem a informação».

EUA deram-lhe um mês, mas já lá vão 60 anos de trabalho

No segundo de dois artigos dedicados à fundação da agência cubana, o mexicano Teodoro Rentería, escritor e presidente do Colégio Nacional de Licenciados em Jornalismo, destaca o dinamismo da Prensa Latina, dando como exemplo disso o facto de que, três meses após a sua criação, já tinha 18 escritórios espalhadoes pela América Latina.

Depois de no primeiro artigo, publicado na coluna «Comentario a tiempo», se ter centrado na figura de Jorge Masetti, no segundo Rentería destaca as características da Prensa Latina por oposição às «agências imperialistas», que se disseminaram pelo mundo «para que cada império pudesse esconder aos povos que oprimia as notícias que mais lhes interessavam».

Lembrando palavras de Masetti, o autor mexicano recorda que o imperialismo recorreu a todos os meios para perseguir os correspondentes da Prensa Latina, para que as suas equipas não passassem nas alfândegas.

«Nós somos objectivos, mas não imparciais»

«Acusam-nos de ser uma agência de agitadores», disse então Masetti. «E logicamente que para eles o somos. Porque não escondemos a pressão sobre os operários bananeiros da Costa Rica, nem os ataques da United Fruit, nem as concessões petrolíferas ao imperialismo. Para eles somos agitadores porque dizemos a verdade que faz perder o sono».


«Nós somos objectivos, mas não imparciais. Consideramos que é uma cobardia ser imparcial, porque não se pode ser imparcial entre o bem e o mal. Chamam-nos agitadores, mas isso não nos assusta», disse o primeiro director-geral da agência.

As agências yankees e os círculos mais reaccionários norte-americanos deram um mês de vida à Prensa Latina, como lembrou um dos seus fundadores, Juan Marrero, falecido em 2016. Eles não concebiam uma agência feita ao «serviço da verdade» e não dos monopólios imperialistas.

Masetti disse que a «Prensa Latina nasceu em Cuba porque em Cuba nasceu a Revolução da América Latina», assumindo a missão de fazer a revolução no jornalismo da região. Em 60 anos, teve de se renovar constantemente, por vezes em circunstâncias duras, mas sem abandonar os seus princípios. Teodoro Rentería diz que «tem séculos para viver».

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Uma lição importantíssima que nos deixaram é que a força da convicção moral é superior à força armada do inimigo, destacou o membro do Grupo Autónomo Kavilando, da Colômbia.

Por seu lado, Yani Vallejo referiu-se à luta dos jovens colombianos nas ruas em total desvantagem como a que, então, empreendeu o líder cubano Fidel Castro e o grupo que o acompanhou, disposto a dar a vida pelos seus ideais, e afirmou que os ensinamentos do assalto ao Quartel Moncada «nos continuam a encher de ética revolucionária».

Já o cubano Zaldívar apontou várias qualidades representativas daquela geração, incluindo a pouca idade, compromisso, ideais de justiça e humanismo, e uma grande determinação, «as mesmas que hoje vemos nos rapazes que vêm para as ruas da Colômbia e do Chile pela conquista de direitos mínimos», disse.

«O Moncada de hoje são os jovens colombianos a tomar as ruas privatizadas pelo neoliberalismo, é avançar para uma Constituinte; o Moncada dos chilenos é a sua Constituinte; e o Moncada dos cubanos é destruir a contra-revolução e continuar a construir o socialismo», afirmou Zaldívar, num contexto em que todos defenderam a vigência do Moncada na actualidade.

A História Absolver-me-á traduzido para o tâmil no Sri Lanka

A defesa de Fidel Castro fez de si mesmo no julgamento pelas tentativas de assalto aos quartéis Moncada e Carlos Manuel de Céspedes, em 1953, foi traduzida para o tâmil, língua que é falada por mais de 75 milhões de pessoas, sobretudo na Índia (Tamil Nadu) e no Sri Lanka.

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«Fidel Castro, ¿qué se encontró al triunfo de la Revolución?», acessível em pdf

Para enfrentar a manipulação histórica e a ofensiva mediática que procura apresentar Cuba dos anos 40 e 50 como país de abundância e glamour, o acesso ao livro «contra a desmemória» tornou-se mais fácil.

Nos campos de Cuba, 200 mil famílias sem uma vara de terra para cultivar umas hortaliças para os filhos. Viviam em cabanas com tectos de guano, chão de terra, sem saneamento nem latrina, sem água corrente
Créditos / medium.com

Os portais Cubadebate e Fidel Soldado de las Ideas convidam os seus leitores a fazer o download gratuito da obra Fidel Castro, ¿qué se encontró al triunfo de la Revolución?, compilada por Juan Carlos Rodríguez e publicada em 2016 pela editorial Capitán San Luis, em Havana.

Com uma linguagem acessível e amplamente ilustrado, o livro aborda a entrada de Fidel em Havana e os primeiros meses da Revolução. «Através da fotografia, da imprensa da época e alguns testemunhos, o volume dá conta da Cuba que encontraram os barbudos» e da transformação que o país caribenho sofreu às mãos do governo revolucionário: campanha de alfabetização, Reforma Agrária, criação do Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográficos (Icaic), cuidados de saúde, refere o Cubadebate.

A realidade com que Fidel se deparou no triunfo da Revolução, em 1959, é muito distante do «salão de jogos, festas e luxos» que alguns queriam vender como postal de Havana e da Ilha. Nos campos de Cuba, despejos de camponeses, tempo morto, fome e miséria. Duzentas mil famílias sem uma vara de terra para cultivar umas hortaliças para os filhos. Viviam em cabanas com tectos de guano, chão de terra, sem saneamento nem latrina, sem água corrente.

«Do malecón habanero, a cidade mostrava a sua melhor cara, enfeitada com uma fita luminosa. Mais atrás escondia-se a penúria e a miséria mais dolorosa. A tragédia do mundo rural expressava-se em textos de escritores e em estúdios de investigadores das mais variadas tendências ideológicas. Eram as crianças raquíticas, devoradas pelos parasitas, os adultos consumidos pela tuberculose».

«Quando vieram a Havana, em 1959, desdentados e macilentos, em muitos casos, habitantes de uma ilha comprida e estreita não tinham visto o mar nem sabiam o que era a electricidade. Pesava sobre eles o analfabetismo, a desprotecção sanitária, a sujeição à interminável cadeia de arrendatários, subarrendatários, à ausência de caminhos para vender o resultado das suas pobres colheitas. Não conheciam o cinema e, muito menos, a televisão», lê-se na obra [tradução nossa].

Que encontrou Fidel quando a Revolução triunfou?

Nos anos 50 eram divulgados os números da «prosperidade»: aumento do número de automóveis que circulavam nas cidades, residências e casas de apartamentos, introdução da televisão no país. Mas, nota o portal, aquilo não representava uma melhoria geral do nível de vida, uma vez que Cuba tinha mais de seis milhões de habitantes e o dito progresso alcançava algumas dezenas de milhares.

Os bairros eram insalubres, havia despejos, o preço dos alugueres era elevado e o das tarifas eléctricas não estava ao alcance dos mais pobres, revela o sítio cubano. «Em 1953, 22% das casas em Cuba pertenciam aos seus ocupantes; 65% careciam de canalização e 72% não possuíam serviço de saneamento próprio; 42% não tinham serviço de electricidade e 13% dispunham de um só quarto».

No campo, «55% de todas as casas careciam de sanita ou mesmo de latrina, o que explicava, em parte, o espantoso apogeu do parasitismo. 14% dos trabalhadores agrícolas tiveram tuberculose, 13% tiveram febre tifóide e 36% diziam ter parasitas».

Havia crianças que viviam nas ruas e dormiam onde calhava. Muitas viam-se obrigadas a trabalhar para ajudar a economia empobrecida da casa. Vendiam bilhetes de lotaria, jornais e revistas, engraxavam sapatos ou pediam esmola nas ruas – por vezes, pediam umas moedas aos passageiros de autocarros depois de improvisarem um canto.

«Crianças que passavam fome. Nenhuma ia à escola», num país onde havia 600 mil desempregados e onde 1,5 milhões de cubanos, maiores de seis anos – numa população de seis milhões – não possuíam aprovação em qualquer grau de escolaridade, indica o portal cubano.


As zonas costeiras estavam nas mãos de entidades privadas. Em 1959, acabou o regime de exclusivismo e diversas formas de discriminação racial que eram praticadas nesses locais, e foi declarado o acesso público às praias.

Apesar de tudo isto, dos avanços alcançados e reconhecidos internacionalmente, designadamente ao nível da Educação e da Saúde, num contexto agressivo de bloqueio, a ofensiva mediática e manipulação persistem, tentando passar junto de gerações que não tiveram contacto com a realidade de Cuba pré-revolucionária a imagem dos anos 40 e 50 do século XX como uma «época dourada», como explica Fabio Fernández Batista, professor de História de Cuba na Universidade de Havana, numa entrevista recente ao diário Granma – «Los cubanos de hoy ante la manipulación histórica y la guerra mediática».

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O embaixador cubano no Sri Lanka, Andrés González, recebeu um exemplar da obra das mãos da tradutora, Gayathri Ganathapillai, que é também solidária com Cuba, indicou uma fonte diplomática.

A História Absolver-me-á mostra que Fidel, jovem licenciado em Direito Civil, assumiu a sua própria defesa e, ao fazê-lo, apontou «os males da Cuba de então», refere a Prensa Latina, circunscritos a seis problemas fundamentais: a questão da terra, a industrialização, a habitação, o desemprego, a Educação e a Saúde.

No «julgamento do Moncada», Fidel Castro denunciou igualmente o golpe de Estado de Fulgencio Batista em 1952 e os crimes cometidos pela ditadura contra os seus companheiros de luta, e anunciou o seu futuro programa de governo.

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