Numa espécie de espelho que reflecte o seu próprio estado de espírito, a comunicação social do regime neoliberal e respectiva corporação do comentariado diz e repete, autodiagnosticando-se, que a União Europeia sofre «de ansiedade» perante a entrada em funções do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Não parece haver razões para duvidar. Os profissionais de farmácia poderão confirmá-lo, avaliando o desgaste nos seus stocks de ansiolíticos e confirmando simultaneamente estarmos perante mais um favor, este involuntário, ao monopólio das grandes empresas de medicamentos.
A situação inspira uma primeira nota. A decadente casta política da União Europeia, tão arrogante em relação aos seus povos, é, afinal, um concentrado de medos perante os respectivos patrões, neste caso suscitados pela mudança de ocupante do trono do mais representativo e visível de todos eles.
Em boa verdade, a melhor explicação para o estado de ansiedade dos governos formalmente eleitos e da máfia de burocratas não-eleitos da União Europeia parece ser, analisando o trabalho do tentacular aparelho de propaganda, um sentimento de orfandade pela partida do demente, corrupto e belicista Joseph Biden, o chefe a quem os nossos submissos governantes faziam a devida genuflexão quando o visitavam ou quando este, em missão de presidência aberta para emanar ordens de comando, tinha a deferência de ir ao seu encontro.
Quer isto dizer que, em vez do conforto que, no caso de ser a escolhida, a mãezinha Kamala Harris lhes assegurava, temem que Donald Trump seja o padrasto malvado, capaz até, quem sabe, de os deixar desamparados perante a selva cada vez mais disposta a atormentar a vida aos que, com tanto zelo, cuidam deste encantador jardinzinho.
Será que os governos europeus, para os quais a palavra «aliados» é um sinónimo de «servidores» e «criados», receiam ser ainda mais despromovidos, talvez até à condição de párias e indigentes obrigados a tomar conta da própria vida esgravatando no lixo pestilento que fazem, indefesos perante os «bárbaros»?
Se assim fosse, haveria mais do que justificadas razões para a desenfreada corrida aos ansiolíticos. De facto, a casta serviçal que sempre teve as costas quentes para desenvolver tropelias através do mundo tentando convencer-nos de que receberia o devido dízimo do quinhão da rapina, foi agora assaltada pelo medo de ter de cuidar da sua própria defesa, ou pagá-la bem mais cara.
Trump será mesmo o padrasto?
Os autoritários (para os seus povos) governantes europeus, cada vez mais desleixados no uso dos filtros da mentira, comportando-se segundo éticas rasteiras e governando dentro de um universo paralelo, são capazes, porém, de estar a sofrer antes do tempo.
Embora sejam nulidades em História real, isso não os impede de revisitarem os cinco anos em que Trump viveu na Casa Branca e encontrarem aí razões para não estarem tão inquietos.
Por exemplo, e como devem estar lembrados, Trump inventou um presidente fascista na Venezuela e organizou tentativas de golpes de Estado neste país; para sossego dos dirigentes europeus, sempre tão incomodados com processos eleitorais e governamentais que não cumpram as normas políticas que dogmatizaram como únicas, é natural que o novo/antigo presidente norte-americano retome o caminho, insistindo no golpismo em Caracas e «elegendo» como presidente o mentor e operacional de esquadrões da morte sul-americanos que perdeu as últimas eleições. Bruxelas e os 27 não precisam de inquietar-se.
Nada indica também que Trump tencione amenizar o bloqueio contra Cuba, ressuscitar a ideia de referendo sobre os direitos nacionais do Saara Ocidental, contrariar a ideia de «transição verde» à moda de Bruxelas, neutralizar grupos terroristas como a al-Qaida ou o Isis, tão úteis aos «interesses» dos 27, onde quer que sejam chamados a desempenhar criminosas missões de procuração, como ainda bem recentemente aconteceu na Síria.
O patrocínio por Trump dos arremedos de aproximação entre o Sul e o Norte da Coreia ficou-se por aí; a normalidade regressou e até refinou, desta feita com um recente golpe de Estado «pró-americano» no pró-americano regime de Seul. Não existem, portanto, razões para sobressaltos na União Europeia.
Uma palavra especial para a chamada «questão israelo-palestiniana», eufemismo muito conveniente para usar em vez de genocídio e limpeza étnica por aquelas almas tão sensíveis e motivadas pelos direitos humanos, mas que viram a cara aos rios de sangue e às chacinas enquanto o racismo sionista defende «os nossos interesses», a «nossa civilização» e, claro está, a «tradição humanista» no Médio Oriente. Também nesta matéria nada justifica as ansiedades dos europeus: Netanyahu e os seus homens de mão do «sionismo revisionista» continuarão de pedra e cal, provavelmente com posições e impunidade reforçadas e, por isso, não deixarão de alimentar, agora em condições de maior atrevimento, porque têm as costas ainda mais quentes, a eterna esperança da guerra contra o Irão.
O anunciado cessar-fogo em Gaza poderá provocar algumas convulsões no interior do gang terrorista da cúpula sionista mas, mais dia menos dia, levará o caminho dos muitos estabelecidos anteriormente porque o essencial, a estratégia de anexação dos territórios ocupados, sobrepor-se-á ao acessório. Pode a União Europeia continuar sossegada, emitindo episodicamente os canónicos protestos verbais, certa de que não perturbarão Israel na sua tarefa de defender «a nossa civilização» em tão atribulada região. Afinal, como garante o embaixador sionista em Lisboa, sossegando tantas e tão boas consciências, não existe fome «e até há gordos» em Gaza. Será que o verdadeiro problema das operações de extermínio é o de criarem obesidade?
«Uma palavra especial para a chamada "questão israelo-palestiniana", eufemismo muito conveniente para usar em vez de genocídio e limpeza étnica por aquelas almas tão sensíveis e motivadas pelos direitos humanos, mas que viram a cara aos rios de sangue e às chacinas enquanto o racismo sionista defende "os nossos interesses", a "nossa civilização" e, claro está, a "tradição humanista" no Médio Oriente.»
Nestes e outros assuntos, que merecem ser escalpelizados com tempo e espaço que não existem em horas de solenidade, de posse e juramentos – coisas que os poderes ocidentais muito estimam e cumprem com especial fidelidade – as ansiedades da União Europeia têm raízes bem mais prosaicas, que nada ou pouco terão a ver com Trump, a não ser mais um ou outro buraco no casco do navio em rota de naufrágio por única e exclusiva responsabilidade do carácter artificial, oportunista e, no limite, totalitário da mítica «integração europeia».
Trump, como é natural em quem assume a chefia operacional do império, cuidará com zelo da aplicação da «ordem internacional baseada em regras», cuidará das estratégias coloniais que estejam afinadas pelos interesses imperiais e não deixará de desenvolver as suas próprias guerras, mesmo que estas sejam olhadas com reservas algures neste ou naquele Estado europeu. Mas não foi sempre assim desde Nixon até hoje, no Vietname, na Operação Condor e suas congéneres acções fascistas na América Latina, no Afeganistão, no fabrico do terrorismo dito «islâmico», na Jugoslávia, na Somália, na África Central e Austral, no Iraque, na Líbia, no Iémen, na Síria, até na pobre, inofensiva e indefesa Grenada? E de que serviram as vozes discordantes, tímidas e envergonhadas, as dos governos, mais fortes e poderosas, mas inaudíveis, as dos povos? Se o império considera imprescindível uma guerra, então faz-se e pronto, com Trump ou uma qualquer Kamala ou Obama, manifestem ou não opiniões transitoriamente dissonantes este ou aquele mais atrevido membro da quase sempre afinada, por inerência, claque europeia.
Todos estes assuntos superficialmente inventariados fazem de Trump muito mais um exigente paizinho dos nossos governantes do que um maléfico padrasto.
Os imperadores têm, desde tempos imemoriais, os seus naturais caprichos e idiossincrasias; e este que agora ocupa o trono não é excepção, cultivando peculiaridades muito próprias de quem acumula o cargo de presidente com o de mega-imperador do imobiliário. O que se percebe pela intenção de preferir comprar bocados do mundo em vez de os conquistar, o que aliás nada traz de novo, pelo que não se compreende o espanto que por aí vai.
«Mas não foi sempre assim desde Nixon até hoje, no Vietname, na Operação Condor e suas congéneres acções fascistas na América Latina, no Afeganistão, no fabrico do terrorismo dito "islâmico", na Jugoslávia, na Somália, na África Central e Austral, no Iraque, na Líbia, no Iémen, na Síria, até na pobre, inofensiva e indefesa Grenada?»
O império, mesmo em tempos de mais limitadas capacidades de afirmação e menor submissão de amigos e aliados não deixou de arrendar o Alasca aos czares, esquecendo-se até de pagar a renda e anexando-o como Estado sem que os actuais e tão ameaçadores senhores de Moscovo reclamem; comprou a Louisiana a França, a Florida a Espanha, o Nevada, Utah, Arizona e o Vale de Mesilla (compra de Gadsden) ao México; o Oregon ao Reino Unido; as Filipinas a Espanha, declaradas independentes, mas pouco, em 1946; e as Ilhas Virgens à Dinamarca, um precedente encorajador para a pretendida aquisição da Gronelândia. A Zona do Canal do Panamá foi arrendada por 10 milhões de dólares mais uma prestação/gorjeta anual de 250 mil dólares; a cedência do território e das instalações ao Panamá, formalizada em 1999, parece ter, afinal, direito de recompra levando em conta as recentes intenções proclamadas por Trump. Nesses outros tempos de grandes aquisições territoriais registaram-se também episódios da estratégia depois tornada mais habitual, a anexação – formal ou não – de territórios, nações e Estados como o Texas, Hawai e Porto Rico. Falhou Cuba, fracasso que sucessivos imperadores raivosos ainda não conseguiram digerir.
Nacionalismo e globalismo
Donald Trump é um nacionalista na sua perspectiva de que o controlo imperial deve ser exercido com base numa «América outra vez grande», reforçada e reorganizada internamente (segundo os seus pontos de vista descaradamente fascizantes) para poder dominar o planeta sem dar satisfações aos «aliados», obrigando-os até a assumir as suas tarefas de autodefesa.
Trump é também um globalista, mas não nos termos de uma «fraternidade» mundial idílica (para a ortodoxia neoliberal) num planeta privatizado e sem fronteiras onde «nada teremos e seremos felizes», governado por uma reduzida cúpula sem rosto da máfia dona de tudo.
Para o novo imperador, o planeta global terá fronteiras, as dos Estados Unidos da América, país que tudo decidirá em termos de governo. Embora não seja um apparatchik republicano como os Bush's, por exemplo, Trump está rodeado por eles – Mark Rubio, Elliott Abrams e outros do núcleo dos mais indisfarçados fascistas – e revê-se objectivamente na «doutrina Wolfowitz», segundo a qual Washington não poderá permitir, em caso algum, o crescimento de uma potência capaz de fazer sombra ao império norte-americano, como aconteceu com a União Soviética. Tal não pode suceder nem mesmo com a União Europeia; e todos os presidentes norte-americanos têm tratado zelosamente disso nos últimos 35 anos, rebaixando gradualmente a meros serviçais os membros da ninhada dos 27. Donald Trump será intratável nesse aspecto, mas a clique europeísta não deveria sequer estar ansiosa porque já provou desse veneno no primeiro consulado do regressado presidente.
Matéria mais delicada, como sempre desde que se abordam as posturas de Trump, é da NATO, organização pela qual o novo presidente, diz-se, não terá grandes simpatias.
Isso não é verdade. Para começo de conversa registemos que a Aliança Atlântica sobreviveu ao anterior mandato de Trump e alcançou até umas finanças mais estáveis porque apreciável número de Estados membros responderam afirmativamente ao «apelo» do comandante em chefe para contribuírem com os famosos dois por cento do PIB. Aliás, quem chegou a liquidar a NATO, declarando-a em «morte cerebral», foi o ainda presidente Macron, cada vez mais perdido nas derivas do hexágono francês, outrora «motor» da União Europeia; e como a Alemanha está igualmente com a sua «força motriz» reduzida à mais ínfima potência, pouco mais é preciso para se entender o estado comatoso da «integração europeia». A locomotiva gripou.
«Trump é também um globalista, mas não nos termos de uma «fraternidade» mundial idílica (para a ortodoxia neoliberal) num planeta privatizado e sem fronteiras onde «nada teremos e seremos felizes», governado por uma reduzida cúpula sem rosto da máfia dona de tudo.»
A NATO é o instrumento militar fundamental do expansionismo e do militarismo imperial, pelo que não faria sentido Trump desvalorizar uma organização que lhe permite fazer as guerras que desejar poupando soldados e despesas dos Estados Unidos e fazendo recair esses esforços sobre os outros Estados membros, desde que assegure os postos de comando determinantes. Não nos recomenda o secretário geral da Aliança, o fascistóide Mark Rutte, que todos devemos ter «uma mentalidade de guerra»?
Como nacionalista prático, porém, Trump está muito menos disposto do que os seus antecessores a supostamente sacrificar e onerar a saúde económica e financeira dos Estados Unidos com os custos da responsabilidade de «defender a Europa».
Para grande desespero e visível ansiedade das medíocres e náufragas chefias dos 27, Trump não parece minimamente incomodado com as patéticas efabulações sobre a sempre iminente cavalgada militar russa até à costa ocidental de Sagres a Viana do Castelo, com eventual instalação de uma base estratégica avançada nas Berlengas. Em primeiro lugar , porque o novo presidente norte-americano, como grande parte dos que o antecederam, nem sabe onde ficam estes lugares; e depois porque não está interessado em dar crédito a tais patranhas para manter e sustentar além-mar dispendiosos e volumosos dispositivos militares com a missão de guardar as costas a quem, na sua pragmática opinião, tem obrigação de fazê-lo por conta própria, se quer ser alguém no mundo.
Chegámos ao busílis da questão, agravado com a situação na Ucrânia, como pode perceber-se pela especulação que aí vai.
Trump, obviamente, pretende que a NATO cerque e asfixie a Rússia – e a esfrangalhe em múltiplos Estados fantoches, se possível – mas exige que os esforços para concretizar esse objectivo comum sejam ainda mais partilhados dentro da aliança.
Se a Europa insiste em defender o falido nazi-banderismo de Zelenski «até que a Ucrânia vença» – o que, no estado actual das coisas, só acontecerá depois do dia de são nunca – isso é lá com ela, pensará Trump. Ele terá outra estratégia para lidar com o assunto; qual será? Realisticamente, pouco se pode adiantar, além de vagas especulações sobre os ténues indícios suscitados pela sua insistente mendicância de uma reunião com Vladimir Putin. Amanhã também não será a véspera desse dia porque, apesar das sempre valiosas e muito úteis elucubrações do comentariado, o assunto parece não ter passado ainda de meros «contactos técnicos»
Há uma coisa, porém, que a União Europeia e, pelo menos, os membros europeus da NATO devem ter em consideração: com os arsenais vazios depois de terem enviado não só os monos como os engenhos militares mais modernos e de tecnologia mais apurada para serem transformados em sucata através de todo o imenso território da Ucrânia, esses países serão obrigados a rearmar-se e a comprar aquilo de que necessitam, e também de que não necessitam, como estabelece o ritual atlantista. O esforço terá de ser ainda mais empenhado, sobretudo se as novas responsabilidades de «autodefesa» forem combinadas com a sangrenta teimosia em apoiar o regime de Kiev até ao último ucraniano.
Nessa perspectiva, é natural que a entrada de Trump em funções venha abalar a adquirida convicção das tão encrespadas nulidades europeias de que o paizinho americano estará sempre disponível para vir socorrê-las dos maus humores dos russos que povoam os seus pesadelos.
Se soubessem um pouco de História real e não vivessem voluntariamente embalados pelas historietas que novos, velhos e manhosos «historiadores» cozinharam sobre a Segunda Guerra Mundial, os nossos «europeístas» de turno saberiam que os seus antecessores «democratas liberais», depois de terem confraternizado com Hitler contra a União Soviética e serem arrastados para um conflito que os arrasou, só puderam contar com a ajuda dos benfeitores de Washington quando estes se asseguraram de que o Exército Vermelho e os povos soviéticos tinham ferido de morte o aparelho imperial nazi. E então chegou a vitoriosa cavalaria, como tão bem nos conta Hollywood.
O saber de experiência feito, como cantava o Poeta, e a cumplicidade dos nossos incompetentes e desumanos dirigentes com as velhas e novas formas de fascismo e nazismo, de Kiev a Telavive, garantem-nos que da História apenas usam as versões falsificadas e deturpadas, tornadas oficiais, como instrumentos da sua governação de mentira e manipulação.
Isso significa, repete-se, que depois de se desarmarem para armarem o nazismo de Kiev e assim sacrificarem inutilmente milhões de ucranianos – porque as propostas realistas de paz estiveram nas mãos dos contendores antes de a tragédia atingir as dimensões calamitosas de hoje – os dirigentes europeus vão ter de repor os arsenais. Como? Bem, nesta matéria o mercado não é assim tão independente e soberano; e a «mãozinha invisível» cuidará de proceder a manobras pouco ortodoxas para corrigir a livre concorrência. As compras serão feitas obrigatoriamente aos grandes gigantes da indústria da morte, sobretudo norte-americanos, desde os monos há muito condenados à reciclagem até às maravilhas tecnológicas de extermínio em massa, mesmo assim inúteis em caso de apocalipse nuclear.
Os submissos dirigentes da União Europeia podem ter uma certeza: com Trump não haverá saldos, atenções ou descontos em compras por atacado; também não haverá alternativas: os fornecedores terão de ser os da NATO e aos preços por eles estabelecidos sem quaisquer restrições ao livre arbítrio.
MAGA, Make America Great Again, tornar a América grande de novo, lembram-se? É a receita mágica de Trump, o neoliberalismo puro e duro como o de qualquer outro presidente, mas com o seu toque de nacionalismo num país onde, para a esmagadora maioria da população e a quase totalidade dos seus eleitores, não existe mundo para lá das suas fronteiras. Não se reconhecem aliados, apenas clientes; não pode haver restrições à obtenção de lucros máximos; é cada um por si numa competição selvagem e selvática que terá de ser ganha pelo mais forte por definição, a única nação indispensável, excepcional, e que nunca poderá deixar de existir, os Estados Unidos da América. Esta afirmação de unipolaridade sem sofismas será elevada à máxima potência, em primeiro lugar à custa dos aliados nos campos económico, financeiro, militar e político
«MAGA, Make America Great Again, tornar a América grande de novo, lembram-se? É a receita mágica de Trump, o neoliberalismo puro e duro como o de qualquer outro presidente, mas com o seu toque de nacionalismo num país onde, para a esmagadora maioria da população e a quase totalidade dos seus eleitores, não existe mundo para lá das suas fronteiras.»
Recorrendo ao histórico da primeira administração, Trump também não dará descanso aos dirigentes dos países «relapsos» que não cumprem o mínimo de dois por cento do PIB para financiar a NATO. Há que sugar ainda mais os contribuintes, com a vantagem de ficarem ainda mais cientes da obrigatória «mentalidade de guerra».
Nada disto poderá ser surpresa para a União Europeia e os países europeus da NATO. Não se justifica qualquer ansiedade, já sabiam com o que deveriam contar depois de tanto se rebaixarem perante Washington, a pontos de o chanceler Scholz da outrora determinante Alemanha ter acolhido e homenageado o presidente norte-americano, no caso Joseph Biden, depois de este lhe ter prometido, e cumprido, destruir o gasoduto Nord Stream II; obrigando-o assim a comprar gás natural poluidor norte-americano a um preço cinco vezes mais elevado do que o anteriormente consumido, de origem russa. Com este comportamento, não há dignidade nem economia que resistam; e a realidade está à vista, dispersando por toda a Europa uma crise de intensidade crescente e sem limites previsíveis
Ao fim e ao cabo, os dirigentes da União Europeia têm razões para se encharcarem em ansiolíticos. Mas não culpem Trump por isso: por um lado, já o conheciam e, apesar da imprevisibilidade e da irresponsabilidade que o caracterizam, a situação que aí vem não é mais do que um desenvolvimento da contínua degradação decorrente da sua submissão repelente – dramática para os povos do continente – aos presidentes norte-americanos, sejam eles quem forem.
As verdadeiras causas da vaga de ansiedade que atravessa a clique governante europeia são o seu comportamento, o seu desrespeito pelas pessoas, a viciação escandalosa do funcionamento da democracia, a sua incapacidade inata para ser séria, transparente e falar verdade.
O resultado só poderia ser a tragédia anunciada que já percorre todo o continente europeu – isolado, incapaz, improdutivo, desindustrializado, sem qualquer influência nas grandes mudanças que estão a acontecer no mundo e o irão atropelar.
Nestes tempos, a inércia, o conformismo ou mesmo alienação de sectores populares tendencialmente progressistas e democráticos é um grave perigo que urge sanar para travar a ameaça de uma hecatombe social e humana.
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