|FRANCISCO PALMA

A fragilidade da interação humana com o meio ambiente

Exposição de Catarina Castel-Branco e Manuel San-Payo em Abrantes, instalação de Gabriel Seixas em Évora, exposição de Catarina Botelho em Almada e exposição de MadFildz em Lagos.

Exposição «Catarina Castel-Branco e Manuel San-Payo: Voltar a Casa» no MIAA – Museu Ibérico de Arqueologia e Arte, em Abrantes, até 4 de maio de 2025 
Exposição «Catarina Castel-Branco e Manuel San-Payo: Voltar a Casa» no MIAA – Museu Ibérico de Arqueologia e Arte, em Abrantes, até 4 de maio de 2025 Créditos / MIAA

O MIAA – Museu Ibérico de Arqueologia e Arte1, em Abrantes, apresenta a exposição «Catarina Castel-Branco e Manuel San-Payo: Voltar a Casa», que decorre até 4 de maio de 2025.

«Voltar a casa, reúne obras recentes em diálogo de Catarina Castel-Branco (Abrantes) e Manuel San-Payo (Lisboa), cúmplices na prática artística e na amizade que partilham há trinta anos, bem como uma obra inédita criada especialmente para esta exposição e assinada pelos dois artistas. Um diálogo expandido que começou quando, depois de se conhecerem nas aulas de Gravura, na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, voltam a encontrar-se enquanto vizinhos no Campo de Santana, em Lisboa», segundo o texto de Marta Rema, curadora da exposição.

O texto da curadora revela-nos ainda que «com um percurso de mais de quarenta anos de carreira, a obra de Catarina Castel-Branco… acaba por revelar um olhar contemplativo, de algum modo tão solitário e melancólico como celebratório». Já acerca da obra de Manuel San-Payo, o texto refere que, embora «fruto de uma observação disciplinada do quotidiano…», pode assumir «subitamente uma conflagração de significados e, abstrata ou figurativa, de forma inevitável a sua pintura acaba por evidenciar o potencial de interrogar a existência.»

Instalação «O Peso da Humanidade», de Gabriel Seixas, no Parque de Esculturas Terra e Sol – atelier do artista, em Évora, até 22 de março  Créditos

Quanto aos trabalhos apresentados na exposição, a curadora chama-nos a atenção que «vemos a noite e o dia, sombras, texturas sulcadas pelo tempo e pelos elementos, e objetos reveladores de um habitar contemporâneo, como cadeiras, estendais, arame farpado ou ares condicionados. Mas se os objetos lá estão, a presença humana está reclusa ou desapareceu num horizonte de sobreposição de paredes, um labirinto de repetições irregular, anguloso e poroso onde a poesia – afinal – assoma. É esse horizonte a nossa casa.»

O Peso da Humanidade é uma instalação do escultor Gabriel Seixas e pode ser visitada no Parque de Esculturas Terra e Sol – atelier do artista2, em Évora, entre 25 de fevereiro e 22 de março.

A instalação O Peso da Humanidade, de grandes dimensões, apresenta-se «como um convite à reflexão sobre a relação entre o ser humano e a natureza… a obra utiliza uma combinação de materiais que simbolizam tanto a força quanto a fragilidade da interação humana com o meio ambiente», segundo o texto de apresentação.»

«Através desta obra, o espetador é convidado a ponderar sobre o impacto das suas escolhas e a urgência de procurar um equilíbrio sustentável. A instalação torna-se num espaço de diálogo, onde cada elemento materializado carrega consigo a história de uma relação.»

O Parque de Esculturas Terra e Sol – atelier Gabriel Seixas é um projeto evolutivo localizado, no Alentejo, tem várias dezenas de esculturas de grande dimensão, criadas a partir de mármore e iluminadas intrinsecamente pela energia solar, promovendo uma fusão harmoniosa entre a terra e o céu.

Gabriel Seixas nasceu no Fundão, em 1963, frequentou o curso de Arte e Design, e iniciou-se como escultor profissional em 1989. Desde então, tem participado em diversas exposições individuais, coletivas, simpósios e bienais, foi distinguido com oito prémios na área das artes plásticas e é autor de diversas obras públicas.

Exposição «Matéria Vibrante», de Catarina Botelho, na Galeria Municipal de Arte de Almada, até 15 de março de 2025  Créditos

A Galeria Municipal de Arte de Almada3 apresenta a exposição «Matéria Vibrante» de Catarina Botelho, tem a curadoria de Maribel Mendes Sobreira e decorre até 15 de março de 2025.

Nesta exposição, a artista «convida-nos a interrogar a vitalidade da matéria e as memórias ocultas dos espaços. Inspirada pela teoria de "matéria vibrante" de Jane Bennett, a exposição explora a ideia de que os materiais não são meros recipientes passivos de experiências, mas entidades activas, portadoras de histórias», segundo o texto da exposição.

No texto de reflexão sobre o trabalho criativo de Catarina Botelho parte-se da premissa que existe «uma energia latente em tudo o que existe: uma potência que vibra, embora invisível, permeia o mundo com uma presença além da humana». É com esta noção que a artista vai procurar «refletir sobre como os corpos invisibilizados, especificamente o corpo lésbico, continuam a vibrar e a inscrever-se, silenciosamente, no tecido do espaço urbano e do tempo, mesmo que remetidos para a invisibilidade.»

Acrescentando ainda, o texto, que em cada um dos trabalhos apresentados, «percebemos que não só os seres humanos têm agência, mas que os objectos e as substâncias, mesmo que inanimados, possuem uma espécie de "vitalidade" própria, uma influência que molda o mundo e as relações que nele se desenrolam. Um campo de força invisível que, mesmo silenciado, age sobre o mundo e nos convida a questionar as fronteiras entre o que vive e o que se julga inerte.»

A exposição «(De) Saia em Punho» de MadFildz pode ser visitada na Escola Secundária Júlio Dantas4, em Lagos, e decorre de 3 a 28 de março, durante o mês em que se celebra o Dia da Mulher. Esta exposição é realizada no âmbito da dupla adoção Escola/LAC – Laboratório de Actividades Criativas5 – LAC/Escola, motivada pelo PNA (Plano Nacional das Artes), assim como um conjunto de dinâmicas participativas alusivas ao tema.

Exposição «(De) Saia em Punho», de MadFildz, na Escola Secundária Júlio Dantas, em Lagos, 3 a 28 de março  Créditos

A artista MadFildz desenvolve trabalhos participativos e colaborativos, utilizando técnicas de pintura, transferência de imagem com gelatina, stencil e serigrafia e pretende refletir sobre questões de género, como estereótipos de moda, domesticidade e violência doméstica. O seu trabalho artístico «tem como objetivo dar nome às mulheres, nomes que normalmente desaparecem, tanto na história de arte como das histórias das vivências diárias… trabalha também o corpo humano numa vertente ambiental e com preocupações em relação ao nosso mundo, como as questões ligadas à ecologia, que também não deixam de estar relacionadas com as questões de género…», como referiu a artista numa recente entrevista registada pelo PRALAC.

MadFildz é licenciada em Pintura pela FBAUL (2010) e concluiu Mestrado em Belas Artes na Newcastle University UK (2012). Especializou-se em Mosaico, desenvolveu projetos de Instalação e fez Curadoria em diversos contextos. O seu trabalho traduz um interesse pelas problemáticas da tecnologia vs. genética e natureza. Em 2020 integrou o coletivo do LAC, em Lagos, e desde agosto de 2021 assume funções de coordenadora do Serviço Educativo da Associação.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

  • 1. O MIAA – Museu Ibérico de Arqueologia e Arte está instalado no Convento de S. Domingos, edificado no século XVI, peça central do património edificado da cidade de Abrantes. O MIAA integra de forma permanente os acervos municipais de arqueologia e arte do Município de Abrantes e da Coleção Estrada, bem como a obra da pintora Maria Lucília Moita e organiza exposições temporárias.
  • 2. Parque de Esculturas Terra e Sol – atelier Gabriel Seixas – Herdade da Mascarenhas caixa 34 São Miguel de Machede – Évora. Visitas com marcação prévia através do link da página do artista.
  • 3. A Galeria Municipal de Arte de Almada – Avenida Dom Nuno Álvares Pereira 74A – Almada. Horário: Terça a sábado: 11h-13h / 14h-19h. Encerra domingos, segundas e feriados.
  • 4. Escola Secundária Júlio Dantas – Largo Prof. Egas Moniz, Apartado 302, 8601-904 Lagos.
  • 5. O LAC – Laboratório de Actividades Criativas é uma associação cultural sem fins lucrativos, formada em 1995 e com sede na Antiga Cadeia de Lagos. Tem como principal objetivo dinamizar e promover a criação artística no Algarve. A sua atividade assenta em três domínios: Criação, Programação e Desenvolvimento de públicos.

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