Proclamado pela ONU, em 2010, como o Dia Internacional de Recordação do Holocausto, em memória das suas vítimas, 27 de Janeiro é também o dia em que se assinala a libertação do campo de concentração de Auschwitz, o maior e mais conhecido campo de extermínio nazi, pelo Exército Vermelho – o exército da União Soviética.
Horrorizados com o que viram, os soviéticos, vindos da frente ucraniana, designaram o complexo de Auschwitz como a «Fábrica da Morte». A este propósito, são de fácil acesso as leituras que nos indicam que, na altura da libertação, havia no campo uns 7000 prisioneiros – sobreviventes de um total de, pelo menos, 1 300 000 que ali foram assassinados, entre 1940 e 1945. As mesmas fontes – comuns – nos dizem que foram poucos os que conseguiram escapar ou sobreviver às câmaras de gás, aos fornos crematórios, ao trabalho escravo, às torturas, à fome, ao frio, às doenças e às experiências macabras em que eram cobaias.
Menos habitual é encontrar registos como o de Rui Paz, em «A Libertação de Auschwitz», a lembrar-nos que, naquele complexo de três campos, «tudo era financiado pelo Deutsche Bank, cuja direcção se encontrava representada na IG FarbeBayer, empresa beneficiária do trabalho escravo e fornecedora do Zyklon B, o gás da morte com que os prisioneiros considerados inaptos para trabalhar eram asfixiados».
Antes que as tropas soviéticas libertassem Auschwitz e alcançassem o Reichstag, o grande capital engordou. Diz-nos Rui Paz que «Siemens, Krupp, Opel, BMW, VW, Daimler, IG Farbe, Alianz, Flick, Deutsche, Dresdner e Commerz Bank são apenas os nomes mais sonantes de dinastias do mundo empresarial e da finança cujo poder foi consolidado pelo terror do regime hitleriano. Só entre 1939 e 1944 o volume de negócios do Deutsche Bank aumentou de 4,2 para 11,4 mil milhões de Reichsmark».
Não é demais recordar tal lembrança, a propósito de Auschwitz e da sua libertação. Como não vem a despropósito recordar o enorme sacrifício da União Soviética com a guerra levada a cabo pela Alemanha de Hitler (mais de 20 milhões de mortos) e o grande, decisivo contributo dado pelo Exército Vermelho para a derrota do nazi-fascismo – desde o início sujeitos a campanhas de enredo e descentramento. O capital, com seu hollywood, deslocou, quase em exclusivo, os heroísmos mais para ocidente.
Em tempos mais recentes, com alguns dos antigos países socialistas e das ex-repúblicas soviéticas devidamente integrados nas democráticas estruturas europeias – e com a NATO por casa –, não têm faltado revisionismo histórico e branqueamento do nazi-fascismo. Na Net, há muito quem se lembre – é só vasculhar. Bastante mais se silencia nos «meios» tradicionais da comunicação social.
Ponhamos exemplos: na Ucrânia, tributa-se culto oficial ao fascista Stepan Bandera e perseguem-se símbolos, nomes, estátuas e... militantes comunistas; na Letónia, são habituais as marchas de glorificação do nazismo e de louvor aos legionários letões das Waffen SS; na Polónia, ainda há dois anos, por ocasião do 70.º aniversário da libertação de Auschwitz, um ministro polaco dizia que haviam sido «os ucranianos» os libertadores, desprezando, de forma intencionada, o lado soviético da questão e cuspindo na memória de centenas de milhares de soldados – soviéticos – que deram a vida para libertar a Polónia.
Em ano de centenário (1917-2017), a faísca do revisionismo e do branqueamento está para dar labaredas. António Santos, em «Apocalipse: RTP», e Miguel A. Montes, em «Gernika de Koldo Serra, una peli de barrio y anticomunista», bem nos lembraram, há dias. Entretanto, não esqueçamos Auschwitz. E a sua libertação.
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