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A Palestina a ferro e fogo

Quarenta e seis mortos e milhares de feridos depois, entre eles crianças, mulheres, jornalistas e paramédicos, prossegue o massacre de palestinianos, civis e desarmados, por soldados israelitas

Palestinianos gritam palavras de ordem nos protestos de dia 27 de Abril de 2018, junto à fronteira entre Gaza e Israel.
CréditosMustafa Hassona/Anadolu Agency Fonte: Al-Jaeera

Fontes militares israelitas estimaram à Reuters em 14 mil o número de manifestantes que, nesta quinta semana da «Grande Marcha do Retorno», se concentraram junto à linha de fronteira para tentar romper a mesma, durante mais uma jornada de luta pelo direito ao regresso à sua terra natal.

A contagem fúnebre prossegue

A morte, neste sábado, dia 28 de Abril, de Azzam Aweida, um jovem palestiniano de 15 anos gravemente ferido no dia anterior por soldados isrelitas, elevou para entre 43 a 46 (as fontes divergem) o número de mortos durante os protestos que desde o dia 30 de Março passado ocorrem semanalmente, na fronteira entre a faixa de Gaza e Israel.

A morte, noticia a Reuters, foi anunciada pelo Ministério da Saúde da Palestina. «O meu filho é um mártir e estou muito orgulhoso dele», afirmou Helal Aweida, pai do jovem, em declarações registadas pela agência.

Segundo a Reuters, «centenas de pessoas juntaram-se junto à sua casa, na cidade de Khan Younis, para assistir ao funeral», durante o qual «o seu corpo foi carregado, envolto numa bandeira da Palestina, para uma mesquita próxima». A cadeia iraniana Press TV divulgou um vídeo do funeral, o qual se tornou numa combativa e indignada manifestação «de centenas de pessoas», número que a televisão Al-Jazeera confirma, referindo a «homenagem prestada ao jovem falecido» pelos manifestantes.

Mais de 6 mil feridos

Na terça-feira passada, dia 24 de Abril, o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (UNOCHA) anunciava terem-se registado «5511 feridos pela repressão dos protestos», segundo informação distribuída pelo Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM). Com os 833 verificados ontem, dia 27, esse número aumenta para quase 6400.

Entre os feridos, dos quais «pelo menos 174» foram atingidos por «balas reais», «contam-se quatro funcionários dos serviços de saúde e seis jornalistas», refere o MPPM em notícia colocada no seu Facebook.

Força desproporcionada e armas proibidas

Israel tem estado debaixo de crítica internacionalmente pelo uso desproporcionado da força contra manifestantes desarmados. As Forças de Defesa Internas (IDF), para justificar o nível de força letal empregue, insistem em considerar manifestantes armados de pedras, fundas, alicates e pneus, uma séria ameaça às suas forças na fronteira.

«Gaza está prestes a explodir», declarou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) o Coordenador Especial das Nações Unidas para o Processo de Paz no Médio Oriente, Nikolay Mladenov, no passado dia 26 de Abril.

O enviado especial da ONU reportou «brevemente a situação na Síria, no Iémen e no Líbano», antes de se «focar longamente na crise que se desenvolve ao longo fronteira» de Gaza com Israel. Mladenov convidou Israel «a calibrar o uso da força e minimizar o uso de munições reais» e «apelou ao Hamas e aos líderes dos protestos para manterem os manifestantes longe da fronteira».

A Prensa Latina noticiou o emprego por parte de Israel, nas manifestações de ontem, de um «gás atípico» para reprimir os manifestantes, o qual causou «asfixia, convulsões e vómitos extremos a dezenas de manifestantes», muitos dos quais «tiveram de receber tratamento hospitalar devido à gravidade do seu estado». Em artigo de opinião intitulado «Israel usa armas químicas com bênção global» o nosso colaborador José Goulão denunciara, na véspera, essa situação.

O canal Al-Masdar News (AMN) dá conta da utilização, pelas forças de Israel, de «granadas de gás lacrimogéneo internacionalmente proibidas» e publica fotografias de um jovem palestiniano com o rosto desfeito por uma dessas granadas

Os protestos da Grande Marcha do Retorno

Esta foi a quinta sexta-feira consecutiva de protestos massivos na Faixa de Gaza, durante os quais milhares palestinianos se dirigem até à fronteira fortemente militarizada com Israel para exigir o seu direito colectivo de retorno à sua terra natal.

Desde o início da Grande Marcha do Retorno, a 30 de Março (Dia da Terra), as forças israelitas mataram entre 43 a 46 palestinianos, segundo a contagem hoje actualizada. Dois dos palestinianos foram mortos a tiro em Israel, depois de atravessarem a vedação, e os seus corpos ficaram retidos pelas autoridades israelitas. O número de feridos é superior aos 6 mil, segundo o Ministério da Saúde da Palestina em Gaza. Destes, mais de 1700 foram atingidos por fogo real.

Os protestos designados como Grande Marcha do Retorno – durante os quais milhares palestinianos se dirigem até à fronteira com Israel para exigir seu direito colectivo de retorno à sua terra natal – devem prolongar-se até 15 de Maio, quando se assinala o 70.º aniversário da Nakba («catástrofe») palestiniana.

O termo refere-se à expulsão de cerca de 750 mil palestinianos e à limpeza étnica levada a cabo quando da criação do Estado de Israel. Hoje, existem milhões de refugiados palestinianos no mundo e estima-se que 70% dos habitantes de Gaza sejam refugiados ou seus descendentes.

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