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Cabo Verde propõe Tarrafal a Património da Humanidade

Candidatura deverá integrar, além de Cabo Verde, Portugal e Angola, e envolver a Guiné-Bissau. Pretende-se que o ex-campo da morte, além de local de memória, seja um «campo internacional pela paz».

O campo de concentração do Tarrafal foi inaugurado em 1936 e encerrado em 1954. Em 1962 voltou a reabrir mas só para elementos das ex-colónias e foi definitivamente encerrado após o 25 de Abril de 1974, Tarrafal, Cabo Verde, 04 de dezembro de 2012.
CréditosAntónio Cotrim / LUSA

O ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, revelou a intenção do seu Governo de promover uma candidatura conjunta do ex-campo de concentração do Tarrafal a Património da Humanidade, fazendo dele «uma espécie de campo internacional pela paz».

As declarações foram prestadas à Agência Lusa no final de um encontro com o ministro da Cultura português, no qual essa questão foi discutida. O ministro cabo-verdiano explicou que o Governo a que pertence defende «uma candidatura conjunta: Cabo Verde, Angola e Portugal, envolvendo a Guiné-Bissau».

Promover diálogos pela paz

Abraão Vicente referiu ainda a vontade de «apresentar uma candidatura que não retrata apenas o sofrimento e um certo estigma que existe sobre o ex-campo de concentração do Tarrafal», através de «um projecto museológico que ensina aos cabo-verdianos, aos portugueses, aos angolanos, aos guineenses e ao mundo que passa por Cabo Verde o que nós, como povo, aprendemos com a existência de um campo de concentração no nosso território e criar um campo em que se possam promover diálogos pela paz».

O ministro da Cultura português, segundo Abraão Vicente, defendeu a ligação do Tarrafal à Fortaleza de Peniche, em Portugal, num projecto cuja intenção é «ligar o campo de concentração do Tarrafal a todo o sistema prisional construído durante a época salazarista, mas numa perspetiva cabo-verdiana», mostrando «o período do final do colonialismo, a nossa ligação com Portugal e as outras colónias portuguesas, o modo como fomos inseridos num processo que também foi doloroso para Portugal».

Identificar cada preso: ninguém será esquecido

O ministro cabo-verdiano defende que o projecto a apresentar considere «a história de todos os prisioneiros que passaram por Cabo Verde», os quais irão ter «a sua ficha, o motivo por que foram presos», contando «a história de cada prisioneiro». Será uma homenagem a todos os que se opuseram ao fascismo – anarquistas, comunistas, nacionalistas africanos, principalmente – aproveitando «o sistema montado que garantiu a sobrevivência pela opressão de todo um regime durante tantas décadas». Referiu ainda o caso particular dos primeiros deportados, nos anos 30, «que foram expatriados, não só para serem presos, mas para construírem a sua própria prisão».

A apresentação da candidatura deverá ocorrer em 2020, tendo sido criado um grupo técnico que já está a trabalhar neste projeto.

O campo de concentração do Tarrafal

O Campo de Concentração do Tarrafal, conhecido como «Campo da Morte Lenta», foi mandado construir por Salazar nos anos 30, inspirando-se nos campos de deportação italianos e nos campos de concentração alemães, a fim de nele manter, em difíceis condições de existência e até à sua morte, os opositores ao fascismo português.

Durante o seu funcionamento, entre 1936 e 1954, trinta e dois antifascistas aí perderam a vida e muitos outros regressaram com a saúde arruinada. Entre os falecidos destacam-se Bento Gonçalves, secretário-geral do Partido Comunista Português, e o destacado militante anarco-sindicalista Mário Castelhano.

Em 1961 o ministro Adriano Moreira ordena o estabelecimento, na mesma localização do Tarrafal, do Campo de Trabalho de Chão Bom, onde serão encarcerados os militantes nacionalistas africanos em luta pela independência e contra o regime colonial. Apenas a Revolução do 25 de Abril pôs fim ao campo, que foi encerrado no simbólico dia 1 de Maio de 1974.

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