Num espaço curto de tempo assistimos a uma campanha bem orquestrada – envolvendo a comunicação social dominante, governos ocidentais e organizações não governamentais com ligações aos grupos jihadistas – proclamando a tese de que forças militares sírias haviam usando gás sarin em Khan Sheikoun, na província de Idleb, muito embora não tivesse havido nem condições nem tempo para uma investigação, e existindo fortes indicações de que o contentor de sarin estaria no local, e não acoplado a munições lançadas pelas tropas sírias.
A acção rápida e agressiva de Trump, aproveitando uma onda de reacção às imagens e uma história bem orquestrada, foi bem recebida pelos democratas, que esqueceram a sua vaga de oposição a Trump e a ele se uniram num coro jingoísta e bélico.
Trump cumpria afinal os planos e aspirações dos democratas, que, já em 2013, na sequência de semelhante montagem, estiveram perto de subir a parada contra Assad. Na altura viram a tentativa de escalada frustrada, pois houve condições para desmontar a alegação de que a Síria havia usado armas químicas e conduzir esforços diplomáticos (em particular da Rússia) para acalmar as tensões.
Trump foi, nessa ocasião, grande crítico de Obama e dos seus planos de atacar a Síria. Mas, desta feita, Trump agiu rapidamente, nem se importando em enquadrar este ataque numa clara estratégia militar imediata.
Durante a campanha presidencial, em contraste com a beligerante Hillary Clinton, Trump era classificado como isolacionista, ou não-intervencionista, rejeitando projectos de mudança de regime e intervenção humanitária tão caros aos democratas. Alimentou uma postura mais conciliadora, de conversa e negociação com a Rússia, mostrando-se mais interessado em fortalecer os EUA do que em envolver-se em conflitos externos não vitais para os interesses domésticos.
«Trump nunca foi um pacifista, e, para um império, os interesses domésticos estendem-se muito para além das suas fronteiras. Assim foi na guerra ao comunismo, à droga e agora ao terrorismo.»
Mas Trump nunca foi um pacifista, e, para um império, os interesses domésticos estendem-se muito para além das suas fronteiras. Assim foi na guerra ao comunismo, à droga e agora ao terrorismo.
Este não foi o primeiro ataque dos EUA de Trump à Síria. Sob o seu comando, os EUA têm continuado a bombardear este país, tendo Trump apenas afrouxado as restrições que pretendiam proteger civis. Assim, embora o número de ataques aéreos tenha diminuído em Março, face a Janeiro e Fevereiro, o número de civis mortos atingiu o seu valor mais elevado nesse mês (ver AirWars.org).
Durante a campanha, Trump também criticou a NATO, classificando-a de «obsoleta». Em parte a sua crítica devia-se ao que considerava ser o custo financeiro desproporcional assumido pelos EUA, levando-o a exigir na Conferência de Segurança em Munique, em Fevereiro passado, que todos os países da NATO aumentem as suas despesas militares até 2% do PIB até 2024. (De momento, entre os 28 membros da NATO, apenas a Estónia, a Grã-Bretanha, a Grécia e a Polónia satisfazem esse critério. Os EUA tem o maior orçamento militar do mundo, atingindo 650 mil milhões de dólares, ou cerca de 3,6% do seu PIB, contribuindo para 70% da despesa total em defesa dos países da NATO.)
Esta quarta-feira, porém, numa conferência de imprensa com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, Trump declarou que o bloco político-militar «já não é obsoleto». Stoltenberg partilha o objectivo orçamental de Trump para a NATO.
Um dos temas discutidos na reunião terá sido uma maior intervenção da NATO no combate ao terrorismo, fazendo antever a discussão na cimeira da NATO, a 24 e 25 de Maio, em Bruxelas, onde Trump e uma comitiva do Congresso, liderada por Paul Ryan, deverão estar presentes.
Em simultâneo, prepara-se um largo conjunto de iniciativas e protestos contra a NATO por toda a Europa, culminando na manifestação em Bruxelas, no quadro do Conselho Mundial para a Paz.
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