«O que a exposição traz de novo é a relação que vamos estabelecer com o Neo-realismo, na medida em que Carlos Paredes partilha os objectivos com os neo-realistas, que vinte anos antes iniciaram um movimento da arte do povo para o povo», explicou à Lusa Jorge Carvalho, um dos curadores.
Em ano de centenário do seu nascimento, a exposição «Uma guitarra com gente dentro» procura «dar uma nova imagem sobre Carlos Paredes, sobre algo que era mais desconhecido na vida dele, o percurso intelectual, as suas concepções sobre Cultura, o seu percurso político de militante comunista, resistente antifascista».
Numa das salas do Museu do Neo-Realismo, a mostra apresentará «algumas fotografias que estavam perdidas, com [o escritor] Manuel da Fonseca, com [os músicos] Adriano Correia de Oliveira e Luís Cília», além de capas de álbuns, textos que Carlos Paredes escreveu para a imprensa.
Estará ainda exposto o manuscrito de um conto de Soeiro Pereira Gomes que inspirou Carlos Paredes a compor o tema Amargura, do álbum «Asas sobre o mundo» (1989).
Para os curadores, a exposição tenta fazer «uma espécie de biografia cultural» sobre Carlos Paredes, sobre a sua formação, a influência não só do pai, o guitarrista Artur Paredes, mas também da mãe, Alice, «que teve um papel essencial na formação dele».
«É ela que lhe vai dar muita da consciência política e social, e na forma como se vai ligar ao Partido Comunista», disse Jorge Carvalho.
Para o curador, a exposição, que ficará patente até 8 de Junho, demonstra «que a música do Carlos Paredes não nasce do nada, não é arte pela arte. É uma arte baseada na realidade».
Carlos Paredes nasceu em Coimbra, a 16 de Fevereiro de 1925, e morreu em Lisboa, a 23 de Julho de 2004. O artista deu continuidade a uma linha familiar de gerações de músicos, mantendo-se leal à tradição e ao estilo de origem, tocando a guitarra de Coimbra, com a afinação do fado de Coimbra, mas imprimindo uma abordagem pessoal. Actuou nos principais palcos mundiais e trabalhou com outros grandes intérpretes, como o contrabaixista norte-americano de jazz Charlie Haden, com quem editou o álbum «Dialogues».
Combatente antifascista, opôs-se à ditadura de Salazar e foi preso pela PIDE, no final da década de 1950, tendo sido encarcerado na Cadeia do Aljube e no Forte de Caxias.
Até à década de 1990, conciliou a guitarra com a actividade como administrativo no Hospital de São José, em Lisboa. Em Dezembro de 1993 foi-lhe diagnosticada uma mielopatia, doença que lhe atacou a estrutura óssea e que o impediu de tocar a guitarra. Ainda assim, nesse ano começou a gravar o último álbum, «Canção para Titi», que seria editado apenas em 2000.
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