«Viagem ao Sol» inaugura ciclo de cinema no Museu do Neo-Realismo

Viagem ao Sol, refere o portal do museu, é uma «reflexão sobre crianças em situação de conflito e pós-conflito, e a potência do seu olhar em revelar realidades obliteradas pelas narrativas oficiais».

Tendo por base «unicamente imagens de arquivo e testemunhos de crianças austríacas enviadas no pós-guerra para Portugal, país neutral durante a Segunda Guerra Mundial, o filme estabelece múltiplas ressonâncias com a Europa actual», acrescenta a entidade, em jeito de sinopse.

No texto «Viagem ao Sol: as "crianças da guerra"», publicado na edição portuguesa de Le Monde Diplomatique), Pedro Cerejo, afirma, em jeito de recensão: «uns meses após o final da Segunda Guerra Mundial, alguém na cúpula dirigente do Estado Novo português teve uma ideia de propaganda genial: acolher crianças austríacas traumatizadas pelo horror da guerra e assim limpar um pouco da dúbia posição das autoridades portuguesas no desenrolar do conflito (simpatias ora para um lado, préstimos ora para outro, ao sabor dos avanços no terreno do terror militar).»

«Foi sobre esse episódio esquecido – de acolhimento por 10 meses de crianças doentes no pós-guerra, que é muitas vezes confundido com a passagem de refugiados judeus durante a guerra para destinos vários no continente americano – que Ansgar Schaefer e Susana de Sousa Dias resolveram debruçar-se a partir de 2016, partindo de trabalhos anteriores de investigação académica», esclarece, sublinhando que «a pedra de toque de Viagem ao Sol é que Ansgar Schaefer e Susana de Sousa Dias escolheram escrever o filme apenas e só do ponto de vista das crianças de 1947 – e o que ouvimos ao longo dos 110 rápidos minutos do filme são impressionantes relatos dessas crianças 70 anos depois».

O filme que abre o Ciclo de Cinema Realismos Contemporâneos 2024 é exibido dia 19 de Janeiro, às 21h. A entrada é livre e os bilhetes podem ser levantados no próprio dia na recepção do Museu do Neo-Realismo, a partir das 20h.