O jornalista Dan Cohen afirma que o Center for New American Security (CNAS) abriu as portas aos principais correspondentes de segurança nacional, enquanto recebe financiamento massivo da administração dos EUA e da indústria armamentística norte-americana.
«Imaginem um país em que não há separação entre o governo, o Exército e os meios de comunicação. Muitos norte-americanos pensariam na China, na Rússia ou na Coreia do Norte, mas é uma descrição perfeita dos Estados Unidos hoje», pode ler-se no portal thegrayzone.com.
O CNAS, considerado o principal think tank sobre política externa do Partido Democrata, é financiado pelo Departamento de Estado e o Pentágono, e recebeu mais dinheiro das empresas de armamento nos últimos anos do que qualquer outro think tank em Washington.
No último dia do ano, o ministro venezuelano dos Negócios estrangeiros criticou a «vergonhosa manipulação mediática» que o seu país sofre. A acompanhar as festividades da passagem do dezanove para o vinte, não faltaram exemplos, nas nossas TV, de que, a nível internacional, a campanha de manipulação mediática está para durar. No último dia do ano passado, o ministro venezuelano dos Negócios estrangeiros, Jorge Arreaza, recorreu à sua conta oficial de Twitter para criticar a «vergonhosa manipulação mediática» que o seu país continua a sofrer, referindo-se em concreto às fake news (notícias falsas) que alguns órgãos de comunicação espanhóis e latino-americanos «se dedicam a publicar». Enquanto isso, silenciam esses e muitos outros «meios» o facto de a República Bolivariana da Venezuela – mesmo com as dificuldades resultantes «do bloqueio e da agressão» impostos por Washington e amigos – ter conseguido entregar a «casa 3 milhões», no âmbito do programa Grande Missão Habitação Venezuela, criado em 2011 pelo então presidente da República, Hugo Chávez, com o objectivo de enfrentar a abordagem especulativa e capitalista do sector privado ao direito à habitação, e, dessa forma, garantir a pessoas de baixos recursos uma casa digna e o acesso a serviços básicos. No dia 26 de Dezembro, 3 000 000 de casas entregues; até 2025, o objectivo é chegar a 5 000 000 – um marco histórico e uma vontade reafirmada pelas autoridades, que assumem maior relevância no contexto das dificuldades impostas ao país caribenho. Abafar os 3 000 000 de casas entregues e dizer, por exemplo, que Maduro quer os venezuelanos na pobreza é um quase-nada num ano de intensa campanha de ataque à Venezuela, desde que Guaidó se autoproclamou e houve TV e figurões (de cá também) a cobrir no local as «cenas» da extrema-direita e a dar voz aos seus porta-vozes; mas, como bem sabe o ministro e talvez saiba o leitor, a campanha não acabou. De resto, a acompanhar as festividades da passagem do dezanove para o vinte, não faltaram exemplos, nas nossas TV, de que, a nível internacional, a campanha de manipulação mediática está para durar. Até no regaço mais recôndito dos barrocos serranos, com as cavacas a arder e chaminés a fumegar, se viu o Burj Khalifa, que é enorme, fica no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos (EAU), e proporciona espectáculos de «luz e fogo». Os Emirados são uma maravilha, ao que parece, pelos vistos na TV – sobretudo quando nada nos contam do que há anos os Emirados são um dos principais intervenientes na guerra de agressão imperialista ao Iémen, contribuindo para a destruição do mais pobre dos países árabes e para gerar uma das maiores crises humanitárias de sempre. Recentemente, surgiram ainda informações relativas ao saque de peças arqueológicas do Iémen, em que os EAU têm assumido um papel destacado, segundo denúncias realizadas por um arqueólogo norte-americano. Mas, pelos vistos na TV, nada a apontar. Também em destaque nesta passagem esteve, nos ecrãs que levam as festas a planícies e montanhas, o «ataque à embaixada dos EUA no Iraque», em que «aquela gente» parecia desgovernada e sem norte, a insurgir-se contra a sede da «civilização mundial». A propósito, podiam os «meios» ter lembrado a protecção que os EUA deram, em Washington, à ocupação da embaixada da Venezuela, um Estado soberano. Mas não se foi por aí. A novela «Irão» deu logo-logo, mas sobre a ocupação do Iraque pelos EUA, que dura há 16 anos, tudo ficou por dizer, bem como sobre as ditas milícias «pró-Irão» – as Kata'ib Hezbollah –, que combatem o Daesh e foram atacadas pelos EUA. A partir de segunda-feira, temos nova edição do Paris – Dakar, que é na Arábia Saudita (acusada de violações de direitos humanos a nível nacional, de liderar a guerra atroz contra o Iémen e de financiar o terrorismo na Síria). Já há loas e há-de haver mais. O mesmo se passará com o Qatar e o «seu» mundial (de 2022). Pouco parece interessar à «imprensa» que a Síria continue a acusar esse país árabe de gastar milhões no apoio ao terrorismo. O que acima se refere é apenas uma ligeira amostra. Frente às grandes doses diárias de propagação do neoliberalismo, do imperialismo e do neocolonialismo nos vários quadrantes do mundo, a luta que aqui se trava continuará a ser anti-imperialista e pela soberania dos povos. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Editorial|
Imperialismo, comunicação social e ano novo: festival garantido
Contribui para uma boa ideia
O grupo é também financiado por empresas petrolíferas, grandes bancos e governos de direita – basicamente, as forças mais destrutivas do planeta, afirma Dan Cohen.
«Para o presidente Biden, o CNAS serve como uma quinta onde são cultivados postos-chave da sua administração», refere o texto, acrescentando que «pelo menos 16 ex-alunos do CNAS ocupam agora postos-chave no Pentágono e no Departamento de Estado».
Cohen afirma que o «mais chocante» é o facto de vários repórteres de segurança nacional e política externa de «órgãos de comunicação norte-americanos de elite» estarem filiados no CNAS, estando assim indirectamente ligados ao governo e a empresas dos EUA, pelos quais são provavelmente pagos – «precisamente as forças que deveriam responsabilizar».
Vários exemplos de uma situação já denunciada mas que não parou de crescer
The Grayzone afirma que, durante mais de 20 anos, David Sanger, correspondente do New York Times em Washington, promoveu «o engano de forma implacável para levar o público a apoiar a agressão e a guerra dos EUA».
Desde as «mentiras» sobre as armas de destruição maciça no Iraque até às que dizem respeito à tentativa de o Irão criar armas nucleares, passando pelas alegações sem provas dos serviços secretos sobre os ciberataques russos – tudo isto foi levado à letra com o objectivo claro de pressionar o então presidente Trump a intensificar a agressão a Moscovo, enquanto, de forma conveniente, enchia os bolsos dos benfeitores da indústria do armamento de Sanger, destaca o portal.
O militarismo, encarado como uma ideologia de autodefesa da sociedade «ocidental» e dos seus «valores», é a componente essencial para opor o globalismo neoliberal ao seu inimigo jurado, o multilateralismo. A ecologia, a economia «verde», a sustentabilidade e as preocupações com o clima dominam grande parte do dia-a-dia informativo, alimentam enfaticamente os discursos oficiais. Parece que o ser humano identificou finalmente os problemas que afectam o planeta e está disposto a enfrentá-los, a mudar de hábitos e atitudes. Nada mais falso quando do lote de preocupações ambientais e sociais se retira deliberadamente a actividade mais predadora da Terra: a guerra. «A ecologia, a economia “verde”, a sustentabilidade e as preocupações com o clima dominam grande parte do dia-a-dia informativo, alimentam enfaticamente os discursos oficiais. Nada mais falso quando do lote de preocupações ambientais e sociais se retira deliberadamente a actividade mais predadora da Terra: a guerra» Nas cimeiras do clima da ONU não se debatem os efeitos dos conflitos armados na qualidade de vida do planeta nem se equacionam as vantagens que se obteriam erradicando-os; nos tão enaltecidos projectos e programas «verdes» não cabe a dinamização de iniciativas capazes de conduzir à paz e ao desarmamento. Faz-se de conta que a preservação do ambiente pode cuidar da salvação do planeta convivendo com a disseminação da guerra através dos cinco continentes, como se esta fosse um fenómeno inerente à sociedade e que nada tem a ver com o desequilíbrio dos ecossistemas, com a degradação ecológica. A dissociação entre a defesa do ambiente e do clima, por um lado, e a luta contra a guerra, pelo outro, é completamente impraticável em termos objectivos. Mas é fulcral para a afirmação do «capitalismo verde», novo conceito de consumo propagandístico para tentar eternizar o neoliberalismo no quadro da globalização e do seu instrumento de afirmação, o militarismo. Alguns dos conteúdos mais caricatos dos press releases emitidos pela NATO a propósito dos seus permanentes e cada vez mais abrangentes jogos de guerra relacionam-se com a alegada reconversão de certos aspectos dos exercícios militares em actividades «sustentáveis» ou «amigas do ambiente». Como uma espécie de prelúdio da transformação da própria guerra num fenómeno ecologicamente limpo em que morrem sobretudo os «maus» sem que haja danos para o planeta e para os ecossistemas. «A guerra fere a humanidade e o planeta como nenhuma outra actividade. Ignorá-la quando se pretende defender o ambiente e o clima é o descrédito da ecologia tal como é promovida desde que o neoliberalismo globalista dela se apropriou» A guerra, porém, não é sustentável por definição. Não é possível fingir que se compensam os seus danos comprando créditos de carbono em qualquer inovadora bolsa de valores ou plantando árvores a dez mil quilómetros de distância. A guerra fere a humanidade e o planeta como nenhuma outra actividade. Ignorá-la quando se pretende defender o ambiente e o clima é o descrédito da ecologia tal como é promovida desde que o neoliberalismo globalista dela se apropriou. Joseph Biden, um senhor de muitas guerras, tal como os seus antecessores, é o mesmo presidente norte-americano que acarinha o green new deal, a invenção da «esquerda» do seu Partido Democrata para instaurar um «capitalismo verde» perfeitamente compatível com o bem enraizado expansionismo militar, sustentado por uma ideologia militarista. A fuga para a frente assumida pelo neoliberalismo em crise assenta na ideologia dominante do globalismo – que tem o seu expoente no mesmo Partido Democrata norte-americano como principal expressão do chamado «Estado profundo» –, por sua vez apoiada na cultura militarista. «o que incomoda o chamado «mundo ocidental» unilateralista no seu confronto com potências como a China e a Rússia não são questões ideológicas mas sim o tipo de relações internacionais multilaterais por estes países defendido e praticado e que, tornando-se atraente para países em vias de desenvolvimento, põe em causa os velhos hábitos coloniais e expansionista» A pretendida implantação do globalismo pressupõe a supressão gradual dos Estados nacionais e sua substituição por estruturas de governo transnacional emanando das elites económicas, financeiras e tecnológicas – de que o Fórum Económico Mundial de Davos é o exemplo mais visível. A sua campanha pelo Great Reset ou grande reinício capitalista insere-se nestes movimentos. E o «capitalismo verde» é um fortíssimo elemento propagandístico e conceptual desse «reinício». O militarismo, encarado como uma ideologia de autodefesa da sociedade «ocidental» e dos seus «valores», é a componente essencial para opor o globalismo neoliberal ao seu inimigo jurado, o multilateralismo. A cultura do lucro máximo e sem restrições continua a aprimorar-se. O discurso do desenvolvimento sustentado é um dos seus principais suportes propagandísticos. E de repente tudo se tornou sustentável. Dos mais solenes discursos dos poderes à publicidade mais assanhada instando aos mais desenfreado consumismo, a «sustentabilidade» tornou-se um mandamento inapelável; ignorando nós se muitos dos doutrinadores saberão do que estão a falar. Em prol da sustentabilidade faz-se uma mixórdia de conceitos onde cabem a ecologia, o combate às mudanças climáticas, a pegada de carbono e respectiva neutralização, o efeito de estufa, o degelo, as energias renováveis, o desenvolvimento sustentável; num ápice, as coisas que consumimos no dia-a-dia tornaram-se recicláveis, compostáveis, biodegradáveis, obrigatoriamente biológicas. Circula muito e constante ruído para nos obrigar a assimilar coisas de que a generalidade das pessoas não fazem ideia. Ora nada disto é inocente, conjuntural e fortuito. «O capitalismo, o monstro cujas entranhas geraram a crise ambiental em que grande parte do planeta está mergulhado, promete agora limpar a sujeira que provocou – gerando para isso novos negócios» Embalados por tão poderosa como compulsória campanha, caminhamos assim, promete-se, para o melhor dos mundos. E, milagre dos milagres, nada mudou para que isso acontecesse, a não ser «a consciência» do sistema. O capitalismo, o monstro cujas entranhas geraram a crise ambiental em que grande parte do planeta está mergulhado, promete agora limpar a sujeira que provocou – gerando para isso novos negócios. E já sabe como vai fazê-lo: através do desenvolvimento sustentado. Isto é, o capitalismo, na sua versão mais agressiva, o neoliberalismo, tornou-se «verde», ecologicamente correcto. Alcançou-se assim a quadratura do círculo. E, a par da crise ambiental, estamos agora mergulhados também na mais insustentável das mentiras. Foi em 1987 que, através do chamado «Relatório Brundtland», a Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU cunhou o conceito de desenvolvimento sustentado ou sustentável. O que corresponderia a «satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras em suprir as suas próprias necessidades». Para isso funcionar haveria, pois, que «satisfazer as necessidades do presente», meta da qual nos vamos afastando cada vez mais; e haveria também, nos termos do documento, que «criar e aplicar novas normas para o comportamento pessoal e recíproco ao nível do indivíduo em todos os países, a fim de alcançar o desenvolvimento sustentável». O método a seguir: o ardil da propaganda. «a sustentabilidade transformou-se num chavão, numa muleta semântica para garantir o respeito ambiental sempre que seja necessário vender uma intenção, promessa ou decisão do sistema dominante» A partir de então, a sustentabilidade transformou-se num chavão, numa muleta semântica para garantir o respeito ambiental sempre que seja necessário vender uma intenção, promessa ou decisão do sistema dominante. Na década de noventa do século passado, segundo técnicos que trabalharam na instituição, o Banco Mundial inseria pelo menos uma vez por página dos seus documentos e relatórios as palavras «sustentável» e «sustentabilidade». Não é necessário recordar o papel do Banco Mundial como pilar do autoritarismo neoliberal e da asfixia globalista. Mas, para que conste, a sua conduta ecologicamente correcta dir-se-á irrepreensível. Digamos que o conteúdo do citado «Relatório Brundtland» foi o primeiro ataque em forma do capitalismo nos terrenos da ecologia e das preocupações ambientais e pacifistas que emergiram com pujança na década de oitenta, precisamente como oposição ao aumento do poder predador do sistema imperial dominante. Na Alemanha Federal, o Partido Verde conseguiu afirmar-se e quebrar o monopólio bipartidário; é importante não confundi-lo, porém, com o actual Partido Verde alemão e respectivas sequelas transnacionais, convertidos ao colaboracionismo dentro do sistema neoliberal, de que é exemplo maior o grupo Verde no Parlamento Europeu. «da mesma maneira que os partidos oficiais ecologistas foram convertidos à sustentabilidade regimental, deste conceito desapareceram actividades como a guerra, a rapina de recursos naturais, a produção de lixeiras consumistas e a intoxicante agricultura transnacional predadora, entre muitas outras» A conversão, aliás, foi bastante rápida. Durante a década de noventa, com o conceito de «sustentabilidade» afirmando-se de vento em popa, os Verdes alemães chegaram ao governo e então foi possível observar como assumiram, sem pestanejar, o militarismo atlantista na guerra contra a Jugoslávia e o bombardeamento criminoso sobre Belgrado, em 1999. Joscka Fischer, o carismático chefe dos Verdes, era então o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, portanto mergulhado até aos cabelos nesta guerra de facto nada sustentável. Dez a 15 anos antes, porém, o cenário era ainda bem diferente. Os Verdes alemães engrossaram o grandioso movimento de massas em que as preocupações ambientais se manifestavam juntamente com a oposição ao militarismo e à instalação no continente europeu de uma nova geração de armas nucleares norte-americanas. Foram os tempos das gigantescas Marchas da Paz em toda a Europa, em que as preocupações com a sobrevivência do planeta abrangiam, de facto, todas as insustentáveis formas de destruição, desde a degradação ambiental, a rapina de recursos naturais à guerra. Então, o neoliberalismo em vez de combater frontalmente esse movimento dividiu-o e assimilou parte, chamando a si a ecologia. E assim nasceu o desenvolvimento sustentável. Hoje, quando tudo se tornou sustentável, a campanha pretensamente em defesa do planeta tornou-se bastante mais selectiva. E da mesma maneira que os partidos oficiais ecologistas foram convertidos à sustentabilidade regimental, deste conceito desapareceram actividades como a guerra, a rapina de recursos naturais, a produção de lixeiras consumistas e a intoxicante agricultura transnacional predadora, entre muitas outras. Essas práticas sumiram-se da campanha de propaganda em torno da sustentabilidade por serem insustentáveis para o planeta e a esmagadora maioria dos seus habitantes? Nada disso. Apenas porque o sistema neoliberal e respectivas câmaras de eco fabricaram os seus próprios e inatacáveis modelos de sustentabilidade e de agressão ambiental, excluindo deles todas as acções que devem ignorar-se sempre que se fale da destruição do planeta e, por isso, não cabem nos soundbites políticos e publicitários. Ou seja, os predadores do planeta, que são os mesmos que se apropriaram da sua pretensa salvação, reconhecem a crise ambiental mas tentam esconder que é um resultado inevitável do modo capitalista de produção e consumo. Ora, como todos sabemos, o capitalismo nasceu e cresceu com base na extorsão dos recursos da Terra. O resto da estratégia de construção do mito da sustentabilidade é procurado através de lavagens cerebrais, entretendo os cidadãos com infindáveis histórias da Carochinha elaboradas a partir das inconsequentes cimeiras climáticas da ONU, de agendas e recomendações produzidas, com ou sem chancela das Nações Unidas, pelos poderes globalistas responsáveis pela tragédia ambiental. Se o leitor visitar websites de alguns dos principais predadores do planeta, com actividades que vão desde a exploração de combustíveis fósseis, as indústrias mineiras até à produção de armamentos, todos eles prometem ser «neutros em carbono» até 2050, enquanto garantem apoiar acções sustentáveis através de mil e uma medidas. Entretanto, continuam a fazer o mesmo de sempre, a emitir gases com efeito de estufa, a encher o mundo de cidadãos sem direitos nem acesso a bens e recursos essenciais, a arrasar meio planeta através de conflitos de índole colonial. A BP, por exemplo, foi responsável pelo gigantesco desastre ambiental decorrente da explosão da plataforma petrolífera Deepwater Horizon, abstendo-se, entretanto, de completar o trabalho de limpeza das áreas atingidas. Hoje «conduz carbono neutro», isto é, garante a todos os consumidores que se abasteçam nos seus postos de combustíveis que estão a ter comportamento «sustentável» porque os efeitos poluentes da gasolina ou gasóleo que utilizarem são «compensados» pelo patrocínio de acções como a compra de créditos de carbono «gerados a partir de projectos globais», ou a plantação de árvores algures na Zâmbia, México ou Índia – poupando-se assim «dois milhões de toneladas de carbono por ano». Entretanto, o sistema dominante e os seus subprodutos arrasam milhões de hectares de florestas em todo o mundo, da Amazónia à Europa Ocidental, passando pela Califórnia. Ao mesmo tempo, a BP e as suas concorrentes aceleram a exploração e pesquisa de combustíveis fósseis em todo o mundo – e certamente não será para que as jazidas fiquem de pousio. Serão exploradas até ao último mililitro, incluindo os provenientes de fractura hidráulica (fracking), actividade ainda mais insustentável para as terras e as águas atingidas. Por isso, e apesar de todos os avanços em energias renováveis, os combustíveis fósseis são ainda responsáveis por 80% do fluxo energético mundial. Esta situação obriga a reflectir sobre o significado dos veículos eléctricos na propaganda da sustentabilidade. Embora não poluam com emissões de carbono, essas viaturas consomem energia resultante de combustíveis fósseis, sem contar com a exploração não sustentada de recursos naturais, principalmente o lítio, que são componentes essenciais das baterias. Portando, a montante das emissões «zero carbono» da chamada «mobilidade eléctrica» existe o lançamento de gases com efeito de estufa na atmosfera praticamente ao ritmo de sempre; além de actividades mineiras não sustentáveis. «É uma questão de sobrevivência da humanidade: se todos os países emergentes como Brasil, China ou Índia, por exemplo, decidirem copiar o estilo de vida dos países desenvolvidos serão necessários cinco planetas Terra para atender ao aumento da procura» Sha Zukang, diplomata chinês (2012) Quando se fala na propaganda sobre as pretensas actividades sustentáveis dos produtores de combustíveis podem igualmente abordar-se os comportamentos das transnacionais dos refrigerantes e do sector agroalimentar. Dizendo-se muito empenhadas na sustentabilidade – a Nestlé promete borras de café transformadas em grãos de arroz – estão envolvidas, por exemplo, na exploração desenfreada e a preços irrisórios dos recursos aquíferos quando as carências de água atingem pelo menos mil milhões de pessoas no mundo. E a privatização da água apenas agravará esse problema, aprofundado ainda pelo aquecimento global. Quando ao agroalimentar, é conhecida a actividade de grandes grupos como a Monsanto que, desde o envenenamento das terras com pesticidas à manipulação genética, multiplicam actividades nocivas para os seres humanos e o ambiente. É difícil acreditar que a sustentabilidade passe por aqui. Embora se fale até à exaustão em desenvolvimento sustentável, a generalidade das pessoas desconhece do que se trata – e também não são muitos os esforços para informá-las. Desenvolvimento sustentado seria a capacidade de travar ou compensar as actividades que provocam danos irreversíveis ao planeta através da ruptura de ecossistemas, de modo a que houvesse soma zero entre prejuízos e vantagens. Um equilíbrio ideal, sempre precário e delicado na sua dinâmica, perfeitamente incompatível com o modo como o mundo funciona sob o poder neoliberal de tendência global. «Os efeitos nocivos de 30 ou 40 anos de intervenção intensiva [de exploração mineira], entre desperdícios, venenos, desertificação e alterações geológicas, demoram centenas, milhares de anos a desaparecer. São feridas que ficam e que teriam de ser inseridas nas contas de sustentabilidade de uma teoria ecológica séria» A imposição desse poder através dos padrões industrializados e consumistas decorrentes da ideologia de livre mercado como modelo civilizacional único torna impossível que o desenvolvimento sustentado seja alcançado por este caminho. Em Março de 2012, na chamada «Conferência do Rio + 20», o diplomata chinês Sha Zukang, na altura secretário-geral adjunto das Nações Unidas responsável pelo Departamento dos Assuntos Económicos e Sociais, foi muito claro sobre as consequências dessa forma de globalismo: «É uma questão de sobrevivência da humanidade: se todos os países emergentes como Brasil, China ou Índia, por exemplo, decidirem copiar o estilo de vida dos países desenvolvidos serão necessários cinco planetas Terra para atender ao aumento da procura». Está à vista de todos que a política de desenvolvimento sustentado apregoada pelos grandes poderes ocidentais e as instâncias do globalismo neoliberal como o FMI, o Banco Mundial e o Fórum Económico Mundial, assenta numa mentalidade colonial. Não é segredo que as grandes potências, no actual modelo económico, não conseguem sobreviver com os próprios recursos. Essa é uma das origens essenciais dos comportamentos dominantes para impor o modelo neoliberal global: a guerra, a corrida às matérias-primas e a eliminação de fronteiras e soberanias nacionais através da dissolução do conceito de Estado. E nenhum destes caminhos é sustentável do ponto de vista humano e ambiental. A guerra é insustentável por definição. Por isso não surge nas contas de deve e haver que acompanham a doutrina ecológica do capitalismo «verde». As guerras sem fim que hoje constituem a dominante comportamental do neoliberalismo de tendência global arrasam povos, países, territórios e também qualquer doutrina de sustentabilidade. Os efeitos das guerras não são compensáveis por «créditos de carbono», plantações de árvores ou substituição de automóveis a diesel por eléctricos. Estas medidas, tidas como grandes passos no caminho do desenvolvimento sustentável, não passarão de panaceias irrisórias – mas bastante lucrativas - enquanto se mantiver o culto da guerra planetária: assumida ou alimentada por uma tensão permanente geradora de uma infindável – e insustentável – corrida aos armamentos. Não poderá existir qualquer teoria ecológica séria e profícua que não equacione com rigor as componentes belicista e militarista, doutrinariamente dominantes. No entanto, a NATO diz-se comprometida com exercícios militares onde a «sustentabilidade» é uma preocupação; e os gigantes da produção e comércio de armamentos cada vez mais sofisticados prometem «carbono neutro» até 2050 nas suas actividades. A mentira delirante não tem limites. Tão insustentável como a guerra é a corrida desenfreada aos recursos naturais do planeta, que se desenvolve em muitas pistas – algumas delas muito bem guardadas através da implantação de conflitos armados. «A guerra é insustentável por definição. Por isso não surge nas contas de deve e haver que acompanham a doutrina ecológica do capitalismo «verde». As guerras sem fim que hoje constituem a dominante comportamental do neoliberalismo de tendência global arrasam povos, países, territórios e também qualquer doutrina de sustentabilidade» Uma delas é a actividade mineira transnacional, que não conhece direitos humanos e ambientais. Um território abandonado por uma transnacional depois da exploração de uma ou várias minas é uma chaga aberta na crosta do planeta. Os efeitos nocivos de 30 ou 40 anos de intervenção intensiva, entre desperdícios, venenos, desertificação e alterações geológicas, demoram centenas, milhares de anos a desaparecer. São feridas que ficam e que teriam de ser inseridas nas contas de sustentabilidade de uma teoria ecológica séria. Ora isso não acontece. As transnacionais mineiras também prometem «carbono neutro» à luz dos Acordos de Paris, chegam a instalar moinhos eólicos e painéis solares nas áreas de intervenção para simular que as suas actividades de extorsão são apoiadas por energias limpas e renováveis, mas nada disso disfarça, na prática, a insustentabilidade dos seus comportamentos. Os fantasiosos resultados da propaganda, contudo, tornam-se mais reais que os factos perante a opinião pública, e assim se vai disseminando, como virtuosa, uma ideia de ecologia absolutamente insustentável. Estamos perante uma patranha com dimensões planetárias. Enquanto isso, as calotes polares vão-se derretendo, os mares sobem, a água continua a esgotar-se, as zonas desérticas avançam, as tempestades meteorológicas adquirem características e periodicidades cada vez mais agravadas; entretanto, no sector colonialista do mundo os cidadãos estão entretidos com bem-intencionados exercícios ambientalistas, embalados pela conversa fiada do discurso sobre o desenvolvimento sustentado, enquanto o planeta continua a caminhar para o abismo. A pandemia de COVID-19 está a proporcionar um processo de concentração de riqueza nunca visto em apenas meia dúzia de mãos; as instâncias neoliberais preparam o «grande reinício» do sistema capitalista, apresentando a questão ambiental como um dos pilares; a guerra e a delapidação dos recursos do planeta continuam imparáveis; a educação para o consumismo, que transforma a Terra numa lixeira, é uma das mais poderosas vertentes coloniais. A cultura do lucro máximo e sem restrições continua a aprimorar-se. O discurso do desenvolvimento sustentado é um dos seus principais suportes propagandísticos. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Deste modo, o que incomoda o chamado «mundo ocidental» unilateralista no seu confronto com potências como a China e a Rússia não são questões ideológicas mas sim o tipo de relações internacionais multilaterais por estes países defendido e praticado e que, tornando-se atraente para países em vias de desenvolvimento, põe em causa os velhos hábitos coloniais e expansionistas – que têm vindo a ser mantidos com a prestimosa colaboração de instituições como a NATO, o FMI e o Banco Mundial. O militarismo manifesta-se, portanto, pela cultura de um conceito de guerra e de ameaça permanente tornado alegadamente necessário perante inimigos que, nos termos da propaganda ideológica, ameaçam subverter os «valores ocidentais» mas que, na realidade, disputam multilateralmente interesses e domínios há muito dados como adquiridos pelas potências ocidentais. A China e a Rússia não ameaçam invadir ninguém. Têm, contudo, as suas maneiras de agir internacionalmente e regionalmente que interferem com velhos/novos métodos coloniais, neocoloniais, expansionistas e de dominação. Esse é o problema. O militarismo ao serviço do globalismo é a maneira de «expor» esses inimigos e as suas supostas intenções agressivas e ofensivas, tornando lógica a existência de um clima de guerra permanente – através da imposição de conflitos armados que assegurem velhos interesses, da corrida aos armamentos, de exercícios militares que mantenham as relações internacionais no fio da navalha, da propaganda generalizada e de mecanismos belicistas mediante os quais as decisões militares se sobreponham às instituições políticas. A submissão da União Europeia ao poder e influência da NATO é um exemplo flagrante dos avanços do militarismo nos dias que correm. O neoliberalismo não pode dispensar o militarismo nem o clima latente de guerra. É essencial para a estratégia expansionista e de dominação globalizada. «O pacifismo e a contestação da guerra tornaram-se coisas do passado, uma «curiosidade dos anos sessenta», alvejadas duramente pela propaganda oficial como atitudes susceptíveis de minar a segurança da sociedade perante os inimigos que anseiam destrui-la» Ao mesmo tempo, no seu objectivo de assumir o controlo de causas fracturantes a que a opinião pública é muito sensível – à cabeça das quais se encontra a defesa do ambiente – o neoliberalismo necessita de ser «ecológico», de se envolver em rábulas ambientalistas e em novos negócios que lhes estão associados. E para que o militarismo e a «ecologia» assim formatada possam ser compatíveis é necessário que, em situação alguma, a guerra seja apontada a dedo como um fenómeno predador do planeta, destruidor dos ecossistemas. Por isso o pacifismo e o combate à guerra não fazem, nem podem fazer, parte das causas invocadas pelos movimentos ecologistas domesticados pelos «negócios verdes», pelo green new deal tão queridos dos grupos «verdes» oficiais rendidos ao capitalismo. O pacifismo e a contestação da guerra tornaram-se coisas do passado, uma «curiosidade dos anos sessenta», alvejadas duramente pela propaganda oficial como atitudes susceptíveis de minar a segurança da sociedade perante os inimigos que anseiam destrui-la. Defender o ambiente e o clima é uma coisa; a guerra é outra coisa, que nada tem a ver com isso, tornada necessária para conquistar a paz e defender os «valores civilizacionais» – como estabelece a doutrina expansionista da NATO. Entretanto, a paz foi-se esbatendo num conceito abstracto, qualquer coisa no terreno do idealismo, do imaterial – assim desligada ostensivamente do combate à guerra. Em termos da informação/propaganda dominantes, paz e militarismo são compatíveis, ou mesmo afins e complementares, tal como a «ecologia» oficial convive com as agressões militares. O militarismo entranha-se assim insidiosamente através da propaganda, do discurso oficial do regime tendencialmente único. A procura da paz, ao contrário do que estipulam os instrumentos propagandísticos, é um combate de uma actualidade flagrante, essencial mesmo, e directamente associado à recusa permanente da ideologia militarista. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Opinião|
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«A fantasia da guerra cibernética neoconservadora de Sanger foi inclusive transformada num filme pela HBO. Hoje, David Sanger está centrado na teoria das fugas de laboratório da Covid-19. Esteve na vanguarda de todas as campanhas de propaganda que não apenas justificam a agressão e a guerra, mas que também ajudam a gerar enormes lucros para os financiadores do CNAS», revela The Grayzone.
Dan Cohen dá vários exemplos de correspondentes que, em diversos jornais de primeiro plano, violam a ética jornalística por via desta «parceria». Algumas destas ligações «ímpias» entre os media e o aparelho de inteligência militar têm sido denunciadas, como o fez a revista The Nation há mais de uma década. No entanto, refere The Grayzone, este casamento só tem aumentado e tornado mais aberto.
«Como resultado directo, sublinha, a política norte-americana virou mais à direita, as agências de espionagem ganharam um poder sem precedentes e a nova guerra fria acelerou.»
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