Sobre o facto de Israel ser um Estado terrorista não restam grandes dúvidas objectivas, a realidade comprova-o quotidianamente numa acumulação trágica de acontecimentos onde se misturam a ocupação, o roubo e extorsão, o assassínio, o racismo, espancamentos e ameaças aterrorizadoras.
Só nos últimos dias, e apenas a título de exemplo, o preso político palestiniano Yasser Thiyab Hamduna foi assassinado na prisão israelita de Ramon por omissão de assistência médica, os deputados árabes do Parlamento israelita continuam sujeitos a violência discriminatória, os advogados e juristas judeus reuniram-se numa sinagoga de Paris para discutirem a luta contra o antissemitismo por «meios legais ou outros…»
Importa saber que a definição de antissemitismo estabelecida pelo regime fundamentalista de Israel e seus seguidores inclui todas as pessoas e actividades que não estejam de acordo com as atitudes ou de alguma forma critiquem o comportamento do regime fundamentalista de Israel.
Este cenário de violência cultivado por um país que integra a elite protectora do nosso «civilizado modo de vida» instituiu-se como uma rotina encarada com bonomia, cumplicidade e muita simpatia pelos principais dirigentes mundiais e, por simbiose, tratada com complacência, compreensão e mesmo em tons encomiásticos pelos meios de comunicação globais e respectivos tentáculos. Não hesitam estes em seguir as boas regras de propaganda que mandam até silenciar os factos que podem ser, digamos, mais chocantes, ou então manipulando-os com jeitinho: um rocket disparado algures a partir de Gaza justifica, sem grandes remoques, uma agressão capaz de matar milhares de pessoas e de destruir a essência da sobrevivência num território asfixiado e em ruínas.
Quanto à ONU e à violação das suas normas e decisões pelo Estado de Israel, nem valerá a pena falar. Aliás qualquer dos actuais candidatos a secretário-geral evita comprometer-se perante uma matéria pelos vistos tão irrelevante como é a atitude israelita de ostensiva hostilidade e desrespeito para com a organização.
«os soldados israelitas praticantes estão dispensados de participar em actividades conjuntas com mulheres,
de viajar nos mesmos transportes militares ou até de serem instruídos ou comandados por graduados
do sexo feminino»
Mas já que falei em propaganda, eis um exemplo fresquíssimo e que pode facilmente ser repescado – tal como os outros atrás citados – nos órgãos de comunicação social israelitas que ainda não foram devorados pela nazificação gradual do regime. Um parêntesis para especificar que a palavra derivada de nazismo foi trazida para o debate pelo ex-primeiro-ministro Ehud Barak, insuspeito de estar associado a quaisquer tendências de esquerda e que, na sua administração, não manifestou qualquer compreensão pela questão palestiniana.
Explica o jornal Haaretz que, segundo recentes deliberações do governo chefiado pelo insuspeito e impoluto democrata Benjamin Netanyahu, os soldados crentes hebraicos já podem desempenhar as suas funções sem terem a companhia indesejada de mulheres.
Não se trata neste caso, como é bom de ver, de questões que tenham a ver com burkas, burkinis, véus, lenços e outras tapaduras femininas tão do agrado da comunicação social livre e judiciosa, capazes de produzir torrentes de gritantes manchetes sobre a discriminação das mulheres no Islão.
Tão pouco se trata de medidas destinadas aos grupos de ortodoxos judeus, os quais, quando é necessário, servem de bodes expiatórios como exemplos de um extremismo marginal que, afinal, ataca toda a sociedade israelita, cada vez com mais ferocidade, no Estado que chegou a orgulhar-se do seu «laicismo». Os militares ortodoxos hebraicos têm as suas próprias brigadas unicamente masculinas, há muito que são uma tropa dentro da tropa.
As novas medidas de separação de sexos destinam-se aos soldados que sejam crentes vulgares e são assim poupados a situações, no exercício da actividade militar, em que poderiam ter de conviver com mulheres. Em poucas palavras: passou a vigorar a segregação sexista no exército israelita, a mais importante instituição do país.
Isto é, os soldados israelitas praticantes estão dispensados de participar em actividades conjuntas com mulheres, de viajar nos mesmos transportes militares ou até de serem instruídos ou comandados por graduados do sexo feminino. As decisões são extensivas às actividades de lazer e recreio, designadamente grupos corais e musicais até agora mistos e cuja existência era combatida, há muito, pelas hierarquias religiosas. Os ginásios, campos desportivos e piscinas deverão ser resguardados só para homens ou para mulheres durante duas a quatro horas por semana, consoante a unidade. Os comandantes deverão propor aos militares crentes as actividades em que haja separação de género, com excepção de duas onde, pelo menos por ora, a convivência continua: tarefas de limpeza e de cozinha.
Olhando os nossos jornais, escutando as nossas rádios, olhando as nossas televisões, as informações e opiniões sobre as burkas, os burkinis, véus e lenços continuam a pontilhar aqui e ali, demonstrando, sem descanso, o quão o Islão é retrógrado e cruel para com as mulheres. Mas quando se trata de Israel, país abusivamente confundido com a religião hebraica, as leis impondo a segregação das mulheres não chegam às notícias, situação que parece indiciar o seu cabimento no «nosso civilizado modo de vida».
Como em tantas outras coisas da vida, existem também a segregação boa e a segregação má.
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