É mais um reflexo da degradação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) a que o Governo do PSD e do CDS-PP, que quer entregar cinco hospitais e mais de 100 centros de saúde aos privados, vem dando seguimento, apesar de Luís Montenegro, depois da queda do Governo, ter alegado que «a razão para a situação actual é o sucesso do Governo e popularidade do primeiro-ministro».
A dificuldade em aceder à saúde é um dos aspectos a contrariar a retórica do Executivo e a evidenciar as opções de desinvestimento. Só esta segunda-feira, o Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) e as unidades hospitalares de Abrantes e do Barreiro estão sem urgência de ginecologia e obstetrícia, e a urgência de obstetrícia de Santarém também está encerrada. Já a urgência de obstetrícia e ginecologia do Hospital São Bernardo, em Setúbal, funciona apenas para casos referenciados pelo CODU/INEM, entre as 9h e as 24h.
Neste domingo, o portal do SNS registava o encerramento das urgências de obstetrícia e ginecologia dos hospitais de Almada (Garcia de Orta), Barreiro, Caldas da Rainha e Leiria, e das urgências pediátricas do Hospital Vila Franca de Xira e Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, com a urgência pediátrica do Amadora-Sintra a funcionar apenas para urgências internas ou sinalizadas pelo CODU/INEM ou linha SNS24, entre oh e as 8h e as 20h e as 24h.
No dia anterior (15), o Serviço Nacional de Saúde teve sete urgências de ginecologia e obstetrícia ou pediátricas encerradas e três outros serviços no País a funcionar apenas com referenciação, segundo dados oficiais disponíveis.
Numa audição na Assembleia da República, em Janeiro último, dedicada ao acompanhamento do chamado Plano de Emergência e Transformação de Saúde, a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) denunciou que este «ignora a principal carência do SNS», que é a falta de profissionais de saúde, sobretudo médicos. Sem os quais, defendeu, não é possível assegurar equipas completas e motivadas nos cuidados de saúde primários e hospitalares.
«O Ministério da Saúde, sob a liderança de Ana Paula Martins, rejeitou investir na renovação dos quadros médicos. Em vez disso, o PETS privilegia medidas como a contratação de médicos aposentados e prestadores de serviço, o aumento do trabalho suplementar e a criação de Unidades de Saúde Familiar modelo C, que são de natureza privada», criticava a FNAM num comunicado. Acrescentava a estrutura sindical que estas acções «não só não resolvem o problema como agravam a escassez de médicos no SNS», dando como exemplo o último concurso público, onde 75% das vagas solicitadas pelas Unidades Locais de Saúde para médicos de família ficaram por abrir. Salientando, no entanto, que as vagas para saúde pública e especialidades hospitalares «não atendem às necessidades reais».
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui