«Trinta anos após a Declaração e a Plataforma de Acção de Pequim [documento adoptado na IV Conferência Mundial das Nações Unidas sobre as Mulheres, em 1995] terem estabelecido uma agenda ambiciosa para a igualdade, as mulheres ainda enfrentam barreiras significativas na economia», apontam os mais recentes dados recolhidos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Muito embora as diferenças no que toca à taxa de empregabilidade terem diminuído entre homens e mulheres, de 27,1 para 23,1% desde 1991, a realidade é que as mulheres continuam, à escala global, a ter muito mais dificuldades em aceder a trabalhos remunerados face aos homens: apenas 46,4% das mulheres em idade activa estava empregada em 2024, contrastando com os 69,5 por cento dos homens. A este ritmo, alerta a OIT, «a igualdade nas taxas de emprego demorará quase dois séculos» a alcançar.
«Embora um maior número de mulheres jovens esteja a estudar e a receber formação, este facto não se traduziu em ganhos significativos no mercado de trabalho. As mulheres ocupam apenas 30% dos cargos de direcção a nível mundial, tendo-se verificado apenas uma ligeira melhoria nas últimas duas décadas».
Também no que toca aos rendimentos, apesar de ligeiras melhorias, se regista um largo fosso: as mulheres empregadas (a trabalhar por conta de outrem ou por conta própria) ganharam 77,4 cêntimos por cada dólar ganho pelos homens em 2024, uma melhoria de 7 cêntimos face a 2004.
«Milhões de mulheres ainda enfrentam barreiras persistentes para entrar, manter-se e progredirem num trabalho digno», defende Sukti Dasgupta, directora do Departamento de Condições de Trabalho e Igualdade da OIT. «São necessárias reformas urgentes para fazer face à desigual responsabilidade em matéria de cuidados, às diferenças salariais entre homens e mulheres e à violência e assédio no mundo do trabalho, factores que continuam a tornar os locais de trabalho mais desiguais e menos seguros para as mulheres».
Milhares nas ruas assinalam Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, o 8 de Março, em várias cidades portuguesas
As celebrações em Portugal, que se realizaram este Sábado em cidades como Lisboa, Porto, Guimarães, Aveiro, Faro, Mirandela, Covilhã, Guarda, Leiria, Portalegre, Torres Novas, Santiago do Cacém, Setúbal, Viana do Castelo, Vila Real e Viseu, tiveram um outro destaque. Assinalaram-se hoje os «50 anos da manifestação do MDM comemorativa do Dia Internacional da Mulher, realizada pela primeira vez em liberdade, fruto da Revolução de Abril que constituiu um marco histórico no caminho de igualdade e emancipação das mulheres».
«Esta data, celebrada por nós ininterruptamente, foi símbolo de resistência durante o fascismo e continua a ser, nestes 50 anos de liberdade, uma referência maior na afirmação dos direitos das mulheres», refere comunicado do MDM, divulgado dias antes das manifestações.
Um estudo recente do Observatório das Desigualdades identificou, em Portugal, a prevalência da precariedade entre as mulheres: «no caso do trabalho temporário, os jovens em Portugal são mais pautados pelo trabalho temporário e pelo trabalho temporário involuntário que a generalidade dos jovens europeus, sendo as mulheres as mais afectadas», independentemente do nível de escolaridade.
A chuva forte sentida em todo o País não impediu a realização «de um poderoso momento de luta, em defesa dos valores de Abril, pela melhoria das condições de vida e de trabalho, a emancipação socioeconómica e a plena concretização dos direitos das mulheres» em todos os distritos do País.
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