|Residências Universitárias

Solução para os estudantes ou para as unidades hoteleiras?

O aumento do número de camas apresentado pelo Governo esconde a crónica insuficiência de residências estudantis e é uma solução frágil para este problema de alojamento.

Pela primeira vez desde 2009 o número de candidatos ao ensino superior na 1.ª fase do concurso nacional de acesso superou o número de vagas
Créditos / Uniarea

O Governo anunciou recentemente uma oferta de mais de 18 mil camas para os estudantes que este ano regressam ou ingressam, pela primeira vez, no Ensino Superior. Um número que, comparado com os dados do ano passado, indica um aumento de cerca de 16% do número de camas.

O que à primeira vista poderia parecer um dado positivo para os estudantes que procuram uma oferta de alojamento a preço acessível, esconde uma opção política reiterada de não resolução do problema de fundo.

As medidas de prevenção da Covid-19 no Ensino Superior obrigaram a uma redução generalizada de camas disponíveis na rede pública, desde logo com o fim dos quartos duplos.

Face a esta diminuição, a resposta do Governo passou pela tentativa de reposição do número de camas através de protocolos com a Movijovem e várias estruturas representativas das grandes unidades hoteleiras, sendo através deles que se consegue o aumento do número de camas neste novo ano lectivo.

Neste contexto, torna-se mais evidente que este aumento esconde, na verdade, a crónica insuficiência de residências estudantis e é uma solução frágil para o problema do alojamento.

A resposta que o Governo enceta não vem resolver o problema de fundo que é a reduzida oferta pública e as débeis condições da actual rede de residências públicas, uma vez que mesmo com uma oferta de 18 mil camas, o número de estudantes deslocados continua a ser bem superior, situando-se em cerca de 42 mil estudantes.

Nem mesmo com a adopção do Plano Nacional de Alojamento no Ensino Superior (PNAES), em 2018, que visava em quatro anos um aumento de cerca de quatro mil camas, o Governo conseguiu resolver esta lacuna.

Pelo contrário, a medida agora divulgada visa utilizar os estudantes como ferramenta de auxílio aos grandes grupos hoteleiros de forma a salvaguardar os lucros que estavam ameaçados com a crise no sector, em vez de investir na construção de residências.

Tendo em conta que os estudantes bolseiros têm acesso prioritário a estas camas, resta saber quem vai pagar os 285 euros anunciados como valor para o alojamento em hotéis e pousadas, uma vez que os montantes pagos por estes alunos são muito inferiores.

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