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Migrantes venezuelanos, guerra económica e manipulação mediática

É notícia diária o fluxo migratório de venezuelanos. As autoridades bolivarianas não negam as dificuldades no país, às quais estão a fazer frente num contexto de guerra económica e mediática.

A maioria dos venezuelanos rejeita o intervencionismo norte-americano no país
Créditos / Alba Ciudad

Nos últimos tempos, é certo que, num canal de TV nacional, esteja a passar um peça sobre os migrantes venezuelanos. Encontrar, nos mesmos órgãos de comunicação, algo do género – e, se possível, com maior qualidade jornalística – sobre os retrocessos sociais e económicos no Brasil pós-golpe, sobre a matança diária de dirigentes sociais e defensores dos direitos humanos na Colômbia actual ou sobre a miséria na Argentina de Macri parece coisa do mundo da fantasia.

Já a Venezuela é certa. Distorcida, a um ritmo diário, em peças que, frequentemente, apelam às emoções, centrando-se no «lado humano e pessoal» de quem padece o fenómeno migratório, mas que, de enquadramento político e económico pouco ou nada têm.

E sobre os nossos, a geração troikenta que passou fome ou outras necessidades aqui e acolá, não lhes ocorre nada, até porque, na versão que as nossas TV passam, para os Tugas emigrar é uma festa, uma espécie de turismo, com muitos copos, cenas filmadas em restaurantes com bons pratos e palavras novas para aprendermos, uns e outros. Uma troca feliz, um encontro. E tanto que se falava de remessas, do bom que era, como que a darem razão a quem tinha mandado a malta daqui para fora. Tudo bom, tudo indolor.

Todo o oposto dos venezuelanos, miseráveis e sofridos e fustigados pela Revolução Bolivariana. É um dia sim e o outro também, nas nossas TV. É a «crise dos migrantes venezuelanos».

«Todos os que regressarem são bem-vindos»

Lembra a Prensa Latina, numa peça hoje publicada, que, na passada quinta-feira, Filippo Grandi, director do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e William Lacey Swing, director-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), pediram maior apoio para os estados que recebem refugiados e migrantes venezuelanos – Colômbia, Brasil e, sobretudo, Equador e Peru.

De acordo com estas organizações, mais de 1,6 milhões de pessoas emigraram da Venezuela nos últimos três anos, 90% das quais estão em países da América do Sul. Indicaram ainda que, no total, há 2,3 milhões de venezuelanos a viver no estrangeiro.

Ainda no dia 23, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela, Jorge Arreaza, recebeu o novo representante do Alto Comissariado da ACNUR no país sul-americano, Matthew Crentsil, que se comprometeu a trabalhar em coordenação com o governo de Caracas.

Na véspera, o vice-presidente venezuelano da Comunicação, Cultura e Turismo, Jorge Rodríguez, exortou os seus compatriotas emigrantes a regressar ao país e a participar no programa de recuperação económica que o executivo está a promover, nomeadamente através da criação de uma nova moeda, um novo sistema de câmbio, a fixação de preços para bens de primeira necessidade, a fiscalização apertada da especulação de preços e uma reforma tributária e fiscal.

Por outro lado, o executivo continua a dar primazia aos programas sociais, como o Gran Misión Vivienda Venezuela, criado em 2011 e no âmbito do qual foi entregue, esta quinta-feira, a casa número 2 187 335, no Distrito Capital, segundo informou o Correo del Orinoco. A meta do governo venezuelano é chegar a cinco milhões de fogos entregues antes do final de 2025.

«Aos venezuelanos que se foram embora digo-lhes que serão sempre bem-vindos aqui; dentro de pouco tempo veremos os resultados positivos do programa de recuperação económica», disse ainda Jorge Rodríguez, que é também o ministro venezuelano da Comunicação e da Informação.

Sobre o tema da emigração, que alguns países da região, organismos internacionais e imprensa internacional – como a nossa – catalogam como «crise», disse Rodríguez: «Curiosamente ninguém falou da migração de colombianos e brasileiros, que têm saúde e educação gratuita na Venezuela.»

Os problemas existem, e gringos na parada também

Repudiando o aumento de «agressões políticas, xenófobas e mediáticas» contra o país, Jorge Rodríguez lembrou a situação que se vive na fronteira com a Colômbia, onde há redes criminosas a levar da Venezuela produtos de primeira necessidade, combustível e outras mercadorias.

A Colômbia foi, em anos recentes, o país vizinho de onde chegou mais gente à Venezuela, fugindo à guerra e procurando melhores condições de vida. Quando Hugo Chávez chegou ao poder, em 1999, foram criados programas especiais de apoio para os colombianos.

Se Chávez denunciou a ingerência estrangeira e a guerra económica movida contra o seu país, Nicolás Maduro e o seu executivo continuam a fazê-lo, enfrentando sanções de carácter económico, comercial e financeiro, acções hostis a nível diplomático, ameaças de intervenção externa e campanhas de manipulação mediática.

A forte pressão financeira internacional, conjugada com a tradicional dependência das importações em sectores vitais para o país, deixa a Venezuela exposta às grandes transnacionais e às ameaça de novas medidas discriminatórias decretadas em Washington ou Bruxelas.

Em Maio, a vice-ministra da Saúde, Indhriana Parada, afirmou em Genebra (Suíça) que aqueles que pedem canais humanitários para a Venezuela são os mesmos que bloqueiam a possibilidade de aquisição medicamentos e alimentos para o povo venezuelano.

Parada explicou que, para adquirir 25 medicamentos de tipo oncológico e, assim, atender às necessidades de 135 crianças nas áreas de Oncolongia e Hematologia, a Venezuela teve de recorrer ao Uruguai, porque as grandes transnacionais farmacêuticas se recusam a vender ao seu país, que, por outro lado, enfrenta todo o tipo de dificuldades para efectuar operações bancárias, em virtude do bloqueio financeiro a que é submetido.

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