Os Jogos Olímpicos (JO) são sempre uma forma de o país anfitrião se mostrar ao resto do mundo. Este ano, em particular este mês, todos os olhos estão postos no Brasil, não surpreendendo que Temer queira que os JO «irmanem» o país, profundamente desestabilizado após a destituição de Dilma Rousseff, no passado dia 12 de Maio. Um processo que dia após dia se comprova ter sido parco em provas e célere na condenação.
Desde então sucedem-se as manifestações contra e a favor desta destituição – sobre os intervenientes e as dimensões de umas e outras, muito haveria a dizer acerca do trabalho da comunicação social, cá e lá.
Seja como for, o nome de Michel Temer à frente da presidência do Brasil está muito longe de ser consensual, como demonstra a sondagem da Ibope, do dia 1 de Agosto. Apenas 13% da população considera o governo de Temer bom ou óptimo, enquanto 39% o considera ruim ou péssimo. 53% estão em desacordo com a forma como Temer governa, ainda segundo a sondagem.
O site da Folha de São Paulo informa, numa notícia de dia 3, que a organização dos Jogos está a planear uma operação «abafa vaia», na cerimónia de abertura que se realiza hoje, aumentando «o som de uma música ou efeito sonoro de fundo em alto volume no estádio». O objectivo seria o de «evitar que as emissoras de televisão captem um possível momento constrangedor com vaias ou xingamentos do público contra Temer».
«O site da Folha de São Paulo informa, numa notícia de dia 3, que a organização dos Jogos está a planear uma operação «abafa vaia»»
Ainda ontem, no Rio de Janeiro, o homem que transportava a tocha olímpica, um músico de 31 anos, baixou os calções e mostrou uma expressão que vem sendo repetida por milhões de brasileiros: «Fora Temer».
Algo que os JO também demonstram é que o nome de Temer não é contestado apenas internamente. Se a ausência dos ex-presidentes do Brasil na cerimónia de abertura pode não surpreender (Lula e Dilma por motivos políticos, Sarney e Henrique Cardoso por motivos de saúde, Collor de Mello não justificou), são muitos os líderes internacionais que também não vão comparecer. Dos 207 países participantes nos JO, segundo noticiado ontem, apenas 45 deverão estar presentes.
Estes JO têm estado envoltos em polémica não apenas por causa do Brasil. Alguns atletas russos continuam sem saber se podem participar, por acusação de uso de doping. Dois factos contribuem para adensar as suspeitas de que, mais do que uma decisão desportiva, esta foi uma decisão política: o de as agências norte-americana e canadiana terem tido acesso ao relatório antes de ele ser tornado público, e o de os atletas poderem participar nos JO, desde que não vinculados à Federação Russa.
De facto o desporto, como tudo o resto, não deixa de ser um reflexo da situação política. Os arcos olímpicos, entrelaçados, simbolizam a reunião dos atletas de todo o mundo, uma união sem discriminações. Mas nos Jogos, tal como no mundo, a discórdia está instalada.
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