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Memorial para recordar os que passaram e morreram no Tarrafal

O governo cabo-verdiano quer construir no ex-campo de concentração do Tarrafal um memorial aos que estiveram ali encarcerados durante o fascismo e apurar se ainda há restos mortais por trasladar.

CréditosFernando de Pina / Lusa

Em declarações à Lusa, o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, recordou que as vítimas mortais do espaço, que ficou conhecido como «campo de morte lenta», foram enterradas ao longo dos anos no cemitério municipal do Tarrafal, localidade no Norte da ilha de Santiago.

«Estamos a confirmar se ainda temos algum corpo por transladar», explicou o governante, a propósito das transformações que Cabo Verde quer dar ao antigo campo de concentração, no âmbito da candidatura a Património da Humanidade, a apresentar à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em Março de 2021.

«A ideia final é construir um memorial a todos quantos aí perderam a vida ou por lá passaram», acrescentou Abraão Vicente, embora sem adiantar mais pormenores sobre este processo, no âmbito da candidatura cabo-verdiana.

Situado na localidade de Chão Bom, o antigo campo de concentração do Tarrafal foi construído em 1936 e recebeu os primeiros 152 presos políticos portugueses em 29 de Outubro do mesmo ano, tendo funcionado até 1954.

Em 1962, foi reaberto com o nome de «Campo de Trabalho de Chão Bom», destinado a encarcerar os anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Ao longo dos anos, o Tarrafal recebeu nas suas celas comunitárias mais de 500 pessoas, entre 340 antifascistas portugueses e 230 anticolonialistas africanos, dos quais 106 angolanos, 100 guineenses e 20 cabo-verdianos.

Alguns registos históricos apontam para 37 mortos naquela colónia penal, construída pelos próprios presos. Dos 340 portugueses encarcerados no Tarrafal, 34 acabaram por morrer, sucumbindo às doenças e condições de vida extrema no local.


O autor do livro O campo de concentração do Tarrafal (1936-1954): A origem e o quotidiano, José Soares Tavares, explica que no caso dos presos portugueses, as trasladações foram feitas após o fecho do campo, em 1 de Maio de 1974, por vontade das famílias e por «acordo entre os estados».

Ainda assim, refere que as sepulturas dos portugueses permanecem no cemitério do Tarrafal. Entre estes contam-se os casos de Bento Gonçalves, secretário-geral do PCP, e de Mário Castelhano, então líder da central anarco-sindicalista CGT.

Desde 2000 que o antigo campo de concentração deu origem ao Museu da Resistência, o mais visitado do país, com mais de nove mil visitas anuais.

Com agência Lusa

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