|Agricultura

Agricultores protestaram em defesa da agricultura familiar e do mundo rural

Reunidos em Lisboa, esta segunda-feira, os agricultores exigiram uma PAC virada para os mercados de proximidade, para os sistemas policulturais e para o rejuvenescimento da agricultura com rendimentos justos.

CréditosAntónio Cotrim / Agência Lusa

A manifestação desta tarde, promovida pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), seguiu da antiga FIL para o Centro Cultural de Belém, em Lisboa, sede da Presidência Portuguesa da União Europeia, onde se realizava hoje a reunião informal dos ministros da Agricultura da União Europeia.

Em comunicado, a CNA refere que, desde a entrada na União Europeia, foram eliminadas em Portugal perto de 400 mil explorações agrícolas, sobretudo pequenas e médias, e que o rendimento dos agricultores se tem vindo a «degradar».

A confederação critica ainda, no documento, a distribuição das ajudas públicas, afirmando que 7% dos grandes agricultores recebem cerca de 70% dos fundos comunitários, enquanto que para os restantes 93% sobram apenas 30%. «A injustiça é tanto maior quando se calcula que estes 93% dos agricultores representam cerca de 50% do valor da produção», sublinha.

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Situação da agricultura familiar agravou-se em 2020

A CNA faz o balanço do ano agrícola transacto, concluindo que a já «crónica» falta de políticas adequadas e a pandemia de Covid-19 penalizaram ainda mais a agricultura familiar.

Créditos / Vida Rural

Num comunicado enviado ao AbrilAbril, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) conclui que as limitações à circulação de pessoas e produções, no âmbito do surto do novo coronavírus, expuseram as «fragilidades do sistema alimentar dominante, baseado no comércio internacional».

Num País «escandalosamente dependente do exterior em bens agro-alimentares», como é o caso dos cereais ou da carne, a CNA denuncia que as políticas definidas pelo Governo e por Bruxelas «continuam focadas» na grande agricultura, «mais intensiva, mais concentrada e também mais privilegiada», negligenciando a agricultura familiar e os pequenos e médios agricultores que abastecem o mercado interno.

Por outro lado, critica, as ajudas estatais para minimizar os prejuízos «foram insuficientes».

A este propósito, aproveita para recordar os dados divulgados recentemente pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que confirmam a destruição de 15,5 mil explorações agrícolas nos últimos dez anos e a redução do rendimento proveniente da agricultura. 

Na óptica da Confederação, a grande diminuição da actividade da restauração e hotelaria, a que se associou a opção inicial de decretar o encerramento de feiras e mercados de proximidade, que o Governo quis repetir em Novembro, «penalizaram fortemente» a agricultura familiar. Ao mesmo tempo, critica a actuação das grandes superfícies comerciais, que se «aprontaram a fazer publicidade e a especular com os preços dos alimentos, à custa de agricultores e consumidores».

Apesar de em 2020 não se registarem avanços significativos na concretização do Estatuto da Agricultura Familiar, que, se «devidamente implementado, poderá contribuir para inverter o ritmo de encerramento de explorações» e a desertificação, a CNA regista com apreço, e como resultado da luta da agricultura familiar, o aumento do valor do Regime da Pequena Agricultura, de 600 para 850 anos anuais. 

Esta subida, observa a organização na nota, incita a prosseguir com a luta para chegar ao patamar dos 1250 euros, «valor permitido pelos regulamentos».

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Neste sentido, a CNA reclama que a Política Agrícola Comum (PAC) contemple «instrumentos de regulação pública do mercado e da produção, de forma a permitir estabilidade e preços justos para os agricultores» e que assegure «uma distribuição justa das ajudas, atribuídas apenas a quem produz».

Os agricultores protestaram ainda contra a falta de resposta por parte do Governo em relação aos elevados prejuízos causados nas culturas por javalis e outros animais selvagens, e exigiram a concretização plena do Estatuto da Agricultura Familiar.

O protesto contou com o apoio e com a participação da Coordenadora Europeia Via Campesina (ECVC), da COAG (Coordinadora de Organizaciones de Agricultores y Ganaderos), do SLG (Sindicato Labrego Galego), do EHNE Bizkaia e do SOC-SAT (Sindicato de Obreros del Campo – Sindicato Andaluz de Trabajadores) e da Confédération Paysanne (França).

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