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A precariedade, «O Muro» e a paisagem

Bienal do Avante no Seixal, «Alunos da FBAUL» na Ermida, em Lisboa, Projeto «O Muro» na Oficina de Cultura em Almada, e coletiva «One Stop Away» na Galeria TREM, em Faro.

Conferência/performance «Depois da Revolução» de Ana Cerdeirinha (<em>Les Projets de Diplôme</em>, HEAD Genève - Haute école d’art et de design, Suíça). XXII Bienal de Artes Plásticas da Festa do <em>Avante!</em>
Créditos / HEAD Genève

A XXII Bienal de Artes Plásticas da Festa do Avante! realiza-se uma vez mais na Quinta da Atalaia-Amora1, dias 3, 4 e 5 de setembro. A Comissão Executiva da bienal assinala que nesta 22.ª edição da bienal participaram de cerca de «130 artistas e mais de 200 obras, das quais o júri selecionou 90 obras de 66 artistas, nomeadamente desenhos, esculturas, pinturas, instalações e uma conferência/performance entre outras técnicas mistas». A Bienal do Avante «realiza-se desde 1977, com a participação de mais de 2500 artistas, constituindo-se, desde o início, como uma das bienais de artes plásticas mais marcantes em Portugal e de grande referência para toda a dinâmica de bienais de arte, que têm lugar, hoje em dia, por todo o país». Nesta edição chamamos a atenção para, pela primeira vez, a participação de uma conferência/performance, com o título «Depois da Revolução» da artista Ana Cerdeirinha2, sobre «uma comuna fictícia de mulheres no sul de Portugal, formada nos anos anteriores à Revolução dos Cravos de 1974 e que sobrevive até hoje», que será apresentada pela artista no sábado, dia 4 de setembro, pelas 18 horas, no espaço da bienal.

XXII Bienal de Artes Plásticas da Festa do Avante! na Quinta da Atalaia-Amora (Seixal), 3, 4 e 5 de setembro  

Ainda no âmbito da Bienal do Avante, vai ser publicado no catálogo um texto original «Arte e precariedade», onde se refere que «a situação criada pela pandemia contribuiu, de certa forma, para que muitos artistas percebessem que não estavam fora da precariedade, criando uma maior união entre os pares e uma maior consciência da situação de enorme fragilidade da condição de ser artista». Este texto acrescenta ainda, que «a situação de precariedade, nunca foi muito incomum no campo das artes, nem para a condição do artista das artes visuais, principalmente em Portugal, nem para uma certa generalização de práticas artísticas chamadas de precárias.» O Estatuto dos Profissionais da Área da Cultura já foi aprovado, mas como referem as associações e o CENA-STE ele é insuficiente e não responde «à precariedade e insegurança dos profissionais da área da cultura com medidas capazes de mudar a realidade», não cumprindo assim os seus objetivos.

Lúcia Fernandes - Deus está em Coma, 2021, técnica mista sobre tela, 144x106cm. Exposição «Prémio de Pintura – Alunos da FBAUL – 2.ª edição» na Travessa da Ermida em Lisboa, até 4 de setembro Créditos

O Projeto Travessa da Ermida3, em Belém, apresenta a exposição «Prémio de Pintura – Alunos da FBAUL – 2ª edição». A exposição ficará patente até 4 de setembro. O Prémio de Pintura – Alunos da FBAUL na Travessa da Ermida resulta de um entendimento protocolado entre a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL) e o Projeto Travessa da Ermida, após a sua 1.ª edição em 2020, vem agora apresentar a sua 2ª edição. Este Prémio é dirigido aos alunos que frequentam os 1.º e 2.º ciclos de estudos da FBAUL e tem como critérios, resumidamente, a qualidade da forma plástica ou composição formal, o valor da experiência visual da obra, ou seja, a expressividade do objecto representativo e a unidade e coerência estética entre esta composição formal e o objecto representativo, e o seu conteúdo ou significado, sublinhando também a inovação criativa face à tradição da História da Pintura.

De acordo com o texto de Ilídio Salteiro, na 2.ª edição do Prémio Alunos da SBAUL na Ermida, «estiveram presentes vinte e oito jovens artistas, provenientes de diversos cursos, com variadíssimas propostas de alta qualidade (…) por isto, em vez dos três premiados previstos no regulamento, foram premiados seis artistas» com uma exposição no espaço da Travessa da Ermida. Os artistas selecionados para participar na exposição são Ana Moraes, Lúcia Fernandes, Maria Máximo, Maryam Baydoun, Matheus Novaes e Olavo Costa. Ilídio Salteiro acrescenta, sobre os trabalhos dos artistas, que Matheus Novaes «argumenta o seu trabalho numa ligação muito íntima com a natureza», Ana Moraes «mostra um conjunto de papéis pintados, desenhados, colados e anotados como representações de lugares», Rita Máximo «trabalha as coisas da matéria e da natureza em jogos texturais de equilíbrios e de pesos», Lúcia Fernandes «constrói um universo poético filosófico e expressionistas (…) entre a figura humana e o espaço que a envolve, a artista Myrian Baidoum «envolve-nos nos problemas sociais e humanos do nosso tempo» e, por último, o Olavo Costa, «pelo modo discreto do desenho, sabe evocar as questões dos erotismos».

Projeto «O Muro» na Oficina de Cultura, em Almada, 3 a 25 de setembro Créditos

A Oficina de Cultura4, em Almada, vai apresentar o projeto «O Muro», inaugura dia 3 de setembro pelas 16h00 e poderá ser visitado até 25 de setembro. O Muro vai incluir uma instalação e um catálogo, que se constitui como um evento em si mesmo. Segundo o artista Carlos Ribeiro, tudo começou com o convite para uma individual, depois começaram a juntar-se ao projeto o Américo Jones, nas reuniões surgiu o nome do João Miguel Fonseca, dos Bizarra Locomotiva, sendo os elementos que vão participar na instalação. Carlos Ribeiro constrói «um muro em tijolo de 8x2 m, o Américo um vídeo, colocado em frente ao muro e o João criou uma música de fundo para esta instalação. Com a possibilidade de existir uma publicação, decidiu-se convidar artistas e outras pessoas para contribuírem, a partir da ideia de muro, criando uma peça, texto ou imagem, ou ambos, para o catálogo/exposição», que integra 31 participações.

Acerca do tema do projeto, O Muro, Carlos Ribeiro afirmou que «um dos textos de maior importância neste projeto foi o conto do Sartre “O Muro”. Foi uma descoberta á posteriori, mas que me influenciou muito no progresso do projeto». A Insustentável Leveza de Ser foi também um texto de referência para o projeto. Na tentativa de procurar um resumo, Carlos Ribeiro concluiu «que se trata de por na ordem do dia uma reflexão em torno da condição humana a partir da ideia de muro como obstáculo na relação com o outro. A humanidade não tem fronteiras. Os homens criaram-nas, mas são artificiais e produto de uma conceção territorial do mundo e da humanidade.

Ana André, #147, 2018, acrílico e óleo sobre tela, 50x70cm. Exposição «One Stop Away» na Galeria TREM, em Faro, até 18 de setembro Créditos

A Galeria TREM5, em Faro, apresenta a exposição coletiva «One Stop Away», organizada pela Artadentro6 em colaboração com o Museu Municipal de Faro, que reúne obras de artistas de Faro e de membros do grupo Olhão Painters e decorre até 18 de setembro. Esta exposição integra pinturas de Ana André, Jeffrey Gaylord Carter, Jill Stott, Meinke Flesseman e Vasco Vidigal7, onde podemos observar «a paisagem por diferentes perspectivas: desde a pintura de plein-air, numa actualização da tradição pré-impressionista; a paisagem como tema/pretexto à exploração expressiva; a paisagem como o local de habitação; a paisagem como matéria de exploração pictórica; ou a paisagem alterada pela tecnologia».


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

  • 1. Bienal do Avante. Av. Baía Natural do Seixal 415, 2845-415 Amora. Horário: sexta 18h-24h; sábado 10h-24h e domingo 10h-22h.
  • 2. Ana Cerdeirinha (n.1985), Bacharelato em Artes Visuais, HEAD Genève, Suíça (2021). Prática Artística: Interesso-me por experiências comunais e cooperativas ditas utópicas– passadas e presentes, reais e ficcionais. Disseco e expando a noção de comunidade através de uma perspectiva eco-feminista, apropriando-me de práticas artesanais tais como o tingimento de tecidos, a costura à mão, e a cerâmica. O processo de reciclagem é omnipresente no meu trabalho: transformo resíduos em pigmento, e atribuo novos significados e contextos a objectos e imagens que associo em vídeos e instalações. A escrita é, por um lado, o alicerce da minha prática e, cada vez mais frequentemente, um meio de expressão artística em si próprio.
  • 3. O Projeto Travessa da Ermida apresenta exposições de artistas contemporâneos portugueses e estrangeiros na capela Ermida de Nossa Senhora da Conceição, templo do século XVIII situado na zona de Belém. Morada: Travessa do Marta Pinto 21, Lisboa, Portugal. Horário: Terça-feira a Sábado das 14H às 18H.
  • 4. Oficina de Cultura. Av. Dom Nuno Álvares Pereira 144, 2800-177 Almada. Horário: 4ª a sábado 10h30-13h e 14h-18h.
  • 5. Galeria Municipal TREM. Rua do Trem n.º 5, 8000-304 Faro (Tel.: 289804197). Horário: 3ª. a 6ª. das 09:00 às 17:30 e sábado das 10h30 às 16h30. O espaço da Galeria TREM, um antigo edifício militar recuperado em 1990 e 1991, é atualmente um equipamento municipal, funcionando como galeria de arte contemporânea.
  • 6. A associação Artadentro – Arte Contemporânea, embora estando em actividade desde 2003 com o «Atelier Aberto», proporcionando aulas de pintura, constitui-se como associação em 2007, em Faro, tendo como objetivos a dinamização cultural, mais especificamente na criação, promoção e divulgação da Arte Contemporânea, contribuindo para o aparecimento de novos públicos no Algarve.
  • 7. Ana André (Faro, 1969), Licenciatura em Artes Visuais na Universidade do Algarve. Expõe desde 1995, individual e colectivamente, em Portugal e no estrangeiro. Jeffrey Gaylord Carter (U.S.A.), School of Fine Arts e na Massachusetts College of Art and Design, em Boston. A sua obra é exibida e está representada em colecções nos U.S., Canadá, Rússia e na Europa. Jill Stott (Inglaterra, 1959), estudou arte e design na Nelson and Colne College of Arts and Technology e na Norwich University of the Arts. Expõe regularmente desde 1982, e a sua obra integra colecções em Portugal e no estrangeiro. Meinke Flesseman (Amesterdão, 1966). Estudou artes em Florença, Moscovo e Portugal. As suas obras integram numerosas colecções em Portugal e no estrangeiro. Vasco Vidigal (Lisboa, 1958), estudou na Sociedade Nacional de Belas Artes e no Ar.Co, em Lisboa. Expõe a sua obra em Portugal e no estrangeiro.

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