A Galeria Municipal de Matosinhos1 apresenta a exposição «A obra de escultura de Isabel e Rodrigo Cabral», até 27 de fevereiro. A obra destes artistas é reconhecida pelas cores intensas, originalidade, enorme capacidade comunicativa e experimental e a sua criação é essencialmente em pintura, escultura, instalação, serigrafia, litografia, cerâmica, performance, poesia visual e arte postal. Podemos encontrar muitas das suas obras em diversos espaços públicos, por todo o país.
No início da sua carreira artística, Isabel Cabral2 e Rodrigo Cabral3, embora com percursos em separado, já desenvolviam alguma atividade artística em comum, assim como a sua intensa participação na atividade de dinamização cultural do Porto, integrando as direções da Cooperativa Árvore, do T.E.P.-Teatro Experimental do Porto, do Cine Clube do Porto e fizeram parte do «Grupo Acção de Graças», em 1986. É, no entanto, em 1987, que Isabel e Rodrigo Cabral assumem «a decisão, inédita entre nós, de trabalharem coletivamente, e sem menção de autoria individual, a pintura e a escultura que doravante irão desenvolver. Esta nova decisão deve ser, antes do mais, devidamente pensada nas suas consequências, e mesmo na sua singularidade contextual. Os dois artistas, ao constituírem o coletivo — porque é disso que afinal se trata, e não de um grupo do mesmo tipo que o Puzzle ou mesmo, antes deles, o Grupo Acre, Os Quatro Vintes ou o KWY, de propósitos diversos, mas que foram marcantes na arte portuguesa — assumiram claramente a identidade coletiva, com forte sentido político, mas em cuja designação se contêm identificados os próprios nomes», afirma o critico e historiador de arte Bernardo Pinto de Almeida no livro Memórias do Presente em 2016.
Sobre a obra deste coletivo de artistas, com o nome de «Projeto Comum», Bernardo Pinto Ribeiro assinala no catálogo da exposição que «as formas caprichosas que tomam as esculturas de Isabel e Rodrigo Cabral, na verdade, abrem uma situação original na escultura portuguesa. Elas desprendem-se de uma pertença estrita ao escultórico tradicional para que, do mesmo modo que as suas pinturas de finais de 70 integravam o escultórico, agora as obras de três dimensões integram o pictórico. São, a bem dizer, picto-esculturas, ou desenhos e cores lançados e erguidos no espaço, de presença solar, celebratórias das forças de vida e de afirmação no mundo do humano. (…) As experiências de equilíbrio, de tensão espacial, de reorganização do espaço que nelas se propõem, a que acresce ainda a já referida dimensão colorida de raiz Pop, isolam-nas, no espaço da arte portuguesa, e inscreve-as de uma originalidade inesperada nesse contexto.»
A exposição «Ernesto de Sousa, Exercícios de Comunicação Poética Com Outros Operadores Estéticos» é apresentada na Galeria Quadrum4 e Galeria Avenida da Índia5 em Lisboa, podendo ser visitada até 27 de fevereiro de 2022. Esta exposição, organizada por ocasião do centenário do nascimento de Ernesto de Sousa (1921-1988), pretende prestar homenagem a este operador estético, que foi um protagonista muito importante da vanguarda portuguesa, intervindo como artista, poeta, crítico, curador, cineclubista, editor, cineasta e promotor de ideias e expressões artísticas experimentais mostrando-se nesta exposição a sua obra e os seus arquivos.
Como se pode ler no texto de apresentação, este projeto «revisita a primeira exposição individual que o artista realizou em Portugal, na Galeria Quadrum, em 1978 – A Tradição como Aventura, apresentada há 43 anos neste mesmo local –, bem como uma seleção de obras e projetos interativos, coletivos e curatoriais realizados entre as décadas de 1960 e 80 e apresentados agora no espaço da Galeria Avenida da Índia». A curadoria é de Lilou Vidal.
Ernesto de Sousa «cedo começou a colaborar com jornais e revistas como a Seara Nova, Horizonte, Vértice, Mundo Literário e Colóquio Artes» e teve uma importante «participação como crítico e teórico do neorrealismo artístico e literário dos anos 40», considerando este movimento como «uma arte participativa e necessária à transformação do contexto social». Foi também nos anos 40 que iniciou a sua produção fotográfica «que inclui levantamentos etnográficos, registos de arte popular e de escultura, e retratos em contexto urbano. Afirma-se nesta década o seu interesse pela atividade artística e pelo estudo da arte popular e moderna» e ao «estudo do cinema, desenvolvendo uma intensa atividade cineclubística, que teve significativa influência na formação ideológica e cultural de várias gerações». Entretanto colabora com Almada Negreiros e com elementos do movimento Fluxus e a partir dos anos 60 inicia os seus trabalhos em mixed-media e intermedia, com referência para «Nós não estamos algures»(1969) com a colaboração de Jorge Peixinho, é curador da exposição «Do Vazio à Pro Vocação» na SNBA (1972), organizou a exposição «Alternativa Zero»(1977) e «divulgou a arte vídeo, o happening, a performance em cursos, artigos e conferências que contribuíram para abrir caminhos à arte portuguesa».6
Na programação da Casa da Cerca7 em Almada apresentam-se diversas exposições, das quais destacamos duas exposições com a curadoria de Filipa Oliveira, «Um Berlinde no Chão, Quase no Meio da Sala» de Susanne S. D. Themlitz na Sala Principal e «Ou Não, Sim» de Sara Mealha na Cisterna, ambas poderão ainda ser visitadas até 20 de fevereiro.
A exposição de Susanne S. D. Themlitz8 revisita alguns trabalhos desde 1986, apresentada pela curadora como «um ensaio sobre o olhar enquanto ato de apreensão do mundo, e sobre o desenho como espaço de mediação». Aceitando o desafio de pensar num projeto que juntasse o jardim e o desenho, no âmbito do 20º aniversário d' O Chão das Artes – Jardim Botânico da Casa da Cerca, a artista expõe no primeiro piso um enorme desenho, que, segundo a curadora, apresenta uma «acumulação de pequenos momentos, de diferentes elementos, um story board de uma história que ainda não foi contada», no piso superior uma instalação que o ocupa quase na totalidade, juntando «uma miríade de objetos: alguns criados pela artista, outros recolhidos e guardados ao longo dos anos», para a qual Filipa Oliveira nos convida a olharmos «com o espanto da redescoberta de algo que era profundamente familiar e banal, e que, de repente, ganha um outro brilho, uma outra leitura». Na parede da mesma sala encontramos ainda obras a óleo e grafite «O Jardim Desdobrado ao Longo da Linha do Horizonte». A sala do meio, totalmente coberta com cartazes, desenhos, pinturas e objetos de diferentes momentos da obra da artista e na última sala poderemos ainda ver algumas peças de cerâmica vidrada, desenhos, pintura e textos que nos remetem novamente para a paisagem: «… o verde da relva, algumas árvores. Sinto a névoa. Abro a janela. As montanhas afastam-se. O panorama clarifica-se. Afinal não...»
Quanto à intervenção artística de Sara Mealha9, «o espaço é na maioria das vezes, o ponto de partida. Foi também assim com a Cisterna da Casa da Cerca. Um espaço muito particular, carregado de história, de referências, talvez o oposto do cubo branco», e ainda, segundo o texto da curadora, a artista transforma a Cisterna numa «gruta pré-histórica, caverna de Platão, ou sala de projeção, na qual duas palavras são projetadas nas paredes utilizando instrumentos rudimentares e técnicas pré-tecnológicas. Sim e Não. Oposição e complementaridade. Esticados, encolhidos, deformados, repetidos até preencher o espaço. (…) Mais do que a aceção das palavras em si, estas adquirem uma dimensão de carácter visual, esvaziado de significado. Transformam-se em imagens».
- 1. Galeria Municipal de Matosinhos - Avenida Dom Afonso Henriques – Matosinhos. Horário: 9h30 às 12h00 e das 14h30 às 17h00.
- 2. Isabel Cabral concluiu, em 1973, o Curso Complementar de Pintura da Escola Superior de Belas Artes do Porto. Foi professora na Escola Secundária de Soares dos Reis, especializada de ensino artístico, de 1982 a 2010.
- 3. Rodrigo Cabral concluiu, em 1972, o Curso Complementar de Pintura da Escola Superior de Belas Artes do Porto. De 1983 a 1989 foi professor de Pintura na ESAP – Escola Superior Artística do Porto e de 1989 a 2004 na FBAUP – Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
- 4. Galeria Quadrum - Rua Alberto Oliveira, Palácio dos Coruchéus, 1700-019 Lisboa. Horário: Terça a domingo: 10h às 13h e 14h às 18h.
- 5. Galeria Avenida da Índia - Avenida da Índia, 170 1300-299 Lisboa. Horário: Terça a domingo: 10h às 13h e 14h às 18h.
- 6. Informação recolhida na biografia de Ernesto de Sousa na página: Antifascistas na Resistência de autoria de Helena Pato e na página dedicada à obra de Ernesto de Sousa.
- 7. Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea - Rua da Cerca, 2800-050 Almada. Horário: terça a domingo 10:00–18:00, segunda-feira encerrado.
- 8. Susanne S. D. Themlitz (Lisboa, 1968) vive e trabalha em Colónia, Alemanha e Lisboa. O seu trabalho está representado em várias coleções, tais como: Caixa Geral de Depósitos, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Serralves, Fundação EDP, Fundação Carmona e Costa, Museu de Arte Contemporânea de Elvas e MEIAC Badajoz, entre outras.
- 9. Sara Mealha nasceu em Lisboa em 1995. Em 2017 termina o curso de Pintura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Em 2018 tem a sua primeira exposição individual, «Tango» na Travessa da Ermida, seguindo-se «Às nove a caminho» na galeria Balconv (2019), «Tango n'O Armário» (2019) e «Qual destes uma armadilha», na ZDB (2021).
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