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Situação na Ucrânia é «guerra por procuração», admite ex-funcionário da Casa Branca

Um ex-funcionário do Departamento de Estado afirmou que existe uma «guerra por procuração» da NATO com a Rússia e que os soldados russos têm de «se render ou morrer» – «quantos mais e mais depressa, melhor».

Créditos / multipolarista.com

Eliot Cohen, que foi conselheiro de Condoleezza Rice entre 2007 e 2009, no Departamento de Estado da administração de George W. Bush, é conhecido como elemento da chamada «linha dura» entre os conservadores, tendo defendido a guerra contra o Irão e as agressões norte-americanas no Iraque e no Afeganistão.

Num artigo publicado dia 14 na revista The Atlantic, Cohen louva a administração liderada pelo actual presidente norte-americano, Joe Biden, pelo «trabalho admirável» que realizou até agora em diversas frentes, nomeadamente ao «vencer a guerra de informação, mobilizar os aliados da NATO e impor sanções incapacitantes (embora incompletas) à economia russa».

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NATO e nazismo, uma irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. A associação entre a NATO e os nazi-fascismos é um facto.

O batalhão Azov, apoiado pela NATO e pelas lideranças da UE e dos EUA, e tratado pelos mainstream media ocidentais como «nacionalistas ucranianos» ou «admiradores de Stepan Bandera», usa o símbolo nazi Wolfsangel na sua bandeira e uma das tropas de choque preferidas do governo de Kiev, no Leste como no resto do país.
Créditos / twitter

Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália?

Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte.

«Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália? Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte»

É a linguagem objectiva dos factos. E se contra factos pode haver quantos argumentos quiserem, todos eles serão rejeitados pela mais transparente realidade. As circunstâncias citadas têm em comum, sem dúvida, o culto do nazi-fascismo e, de uma maneira ou de outra, estão igualmente interligadas pela acção, protecção ou propaganda da NATO.

Vamos então a factos.

Os Irmãos da Floresta

A Segunda Guerra Mundial entrava na sua fase final quando foram criados os Irmãos da Floresta, grupos armados anticomunistas nascidos na Estónia, Letónia e Lituânia. Os membros, na sua maioria, foram recrutados entre os destacamentos locais das Waffen SS, integrados no aparelho de guerra hitleriano que tentou ocupar a União Soviética. Na Estónia, por exemplo, estes terroristas faziam juramento de fidelidade ao Fuhrer1.

Com a cumplicidade de serviços de espionagem de países ocidentais – nessa altura, formalmente em aliança com o lado soviético – os Irmãos da Floresta, ex-Waffen SS, foram reciclados como tampões contra o avanço do Exército Vermelho para Oeste depois de este ter vergado o nazismo na decisiva e sangrenta batalha de Estalinegrado.

Em suma, os Irmãos da Floresta, tal como os destacamentos bálticos das Waffen SS, tinham como missão, de facto, impedir que os soviéticos esmagassem completamente os nazis – o que também significava travar a libertação dos seres humanos que ainda sobreviviam nos campos da morte hitlerianos2.

«é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?»

Pois os Irmãos da Floresta são agora glorificados como heróis de uma gesta democrática, através de um documentário da NATO inserido no seu espaço de propaganda no YouTube. São oito minutos e alguns segundos de pura heroicidade ao melhor estilo de Hollywood, durante os quais os feitos dos Irmãos da Floresta são apresentados como inspiradores das forças especiais das repúblicas bálticas que agora «estão na linha da frente» contra a temível «ameaça russa». Afinal, hoje como ontem, explica-nos a NATO.

Só é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?3

O regimento Azov

Dos Estados bálticos para a Ucrânia, dos Irmãos da Floresta dos anos quarenta para o actual e activo regimento Azov, um bastião da «pureza rácica» ucraniana, como estipula o seu fundador, Andriy Biletski, aliás o «Fuhrer Branco». Pretende assim que os genes dos seus compatriotas «não se misturem com os de raças inferiores», cumprindo «a sua missão histórica de comandar a Raça Branca mundial na sua cruzada final pela sobrevivência».

Ao contrário do que possam pensar, isto não é folclore nem delírio sob efeito de qualquer fumo. O grupo nazi designado Batalhão Azov, e outros do género, receberam treino de instrutores norte-americanos e da NATO e foram decisivos no êxito do golpe «democrático» de 2014 na Praça Maidan, em Kiev. Depois disso, foram transformados em regimentos integrados na Guarda Nacional, o novo corpo militar nascido da «revolução» e que se tornou a guarda pretoriana do regime fascista patrocinado pela Aliança Atlântica, os Estados Unidos e a União Europeia4 .

O regimento Azov e outros grupos neonazis, inspirados pela figura de Stepan Bandera, um executor do genocídio hitleriano contra as populações ucranianas, tornaram-se corpos fundamentais na agressão do actual regime contra as populações ucranianas russófonas da região de Donbass.

Os membros do regimento Azov orgulham-se de posar com as bandeiras nazi e da NATO, dando-se assim a conhecer ao mundo.

A gratidão é uma atitude que nunca fica mal. Mesmo aos nazis.

Sob o regime actual em Kiev, a Ucrânia tornou-se, de facto, membro da NATO. Trata-se, como nos Estados bálticos, de combater a terrível «ameaça russa». Para executar tão nobre missão até o nazismo engrossa as hostes da «democracia».

Abdelhakim Belhadj

Embora desempenhando, desde 2015, a tarefa mais recatada e menos mediática de emir do Daesh, ou Estado Islâmico, no Magrebe, Abdelhakim Belhadj não desapareceu como figura de referência das transformações «libertadoras» que galoparam pelo Médio Oriente e Norte de África sob as exaltantes bandeiras das «primaveras árabes».

Abdelhakim Belhadj, para quem não se recorda, foi um dos chefes terroristas islâmicos que contribuíram, em aliança com a NATO, para «libertar a Líbia» do regime de Khaddafi. Houve-se tão bem da missão que a aliança fez dele «governador militar de Tripoli» logo que as hordas fundamentalistas tomaram a capital líbia.

Quando ainda mal aquecera o lugar, a tutela atlantista enviou-o para a Síria formar o «Exército Livre», o grupo terrorista «moderado» no qual os Estados Unidos e os seus principais parceiros da NATO apostaram inicialmente todas as fichas com o objectivo de «libertar Damasco».

Abdelhakim Belhadj recebeu honrarias dos Estados Unidos, outorgadas pelo embaixador na Líbia e pelo falecido senador McCain, então movendo-se febrilmente entre a Líbia, a Síria e a Ucrânia, onde foi um dos principais timoneiros do golpe de Maidan e das suas frentes nazis.

A partir de 2015, segundo a Interpol, Belhadj tornou-se emir do Daesh – o tão proscrito Estado Islâmico – no Magrebe.

Porém, cada vez que algum jornalista a sério mexe em acontecimentos da história recente arrisca-se a encontrar-se com a figura de Belhadj. Foi o que sucedeu com profissionais do jornal espanhol Publico: ao investigarem o envolvimento dos serviços de informações de Madrid (CNI) no atentado terrorista de 11 de Março de 2004, que provocou 200 mortos, depararam com outras situações que dizem muito sobre o tipo de «democracia» em que vivemos.

Segundo o próprio chefe do governo espanhol da época, José María Aznar – invasão do Iraque, lembram-se? –, Abdelhakim Belhadj foi um dos estrategos do atentado, embora nunca tenha sido preso nem julgado.

O curioso é que o atentado começou por ser atribuído à ETA e depois à al-Qaida; e que a maior parte dos operacionais detidos eram informadores dos serviços secretos espanhóis.

Mais curioso ainda é o facto de o tema do exercício europeu CMX 2004 da NATO, que decorreu de 4 a 10 de Março, tenha sido precisamente o da simulação de um atentado com as características do que aconteceu em 11 de Março na capital espanhola. «A semelhança do cenário elaborado pela NATO com os acontecimentos ocorridos em Madrid provoca calafrios na espinha e impressionou os diplomatas, militares e serviços de informações que participaram no exercício apenas algumas horas antes», escreveu o jornal El Mundo, inconformado com a tese que acabou por ficar para a história: atentado cometido por uma rede islamita sem ligações à al-Qaida.

Entre as névoas do caso avultam, porém, algumas circunstâncias que é possível focar: a declaração de Aznar envolvendo Abdelhakim Belhadj, que se revelou vir a ser uma aposta da NATO antes de ter ascendido ao topo do Estado Islâmico no Magrebe; e os dons proféticos desta mesma NATO, concebendo um tema para exercícios que se tornou realidade menos de 24 horas depois.

O santuário nazi de Turim

Há poucos dias, a polícia italiana descobriu um arsenal de armamento num santuário nazi em Turim, Itália.

O que à primeira vista poderia ser mais um armazém de velhas e nostálgicas recordações dos fãs do Fuhrer mudou de figura quando foram desembalados alguns sofisticados mísseis que não costumam estar ao alcance de pequenos e médios traficantes de armas.

Diz a imprensa italiana que os investigadores do caso seguiram pistas que conduziam até aos grupos nazis ucranianos mas não obtiveram dados consistentes. E provavelmente não encontrarão esses e outros elementos: a verdade é que as notícias sobre o assunto quase desapareceram. O caso é um nado-morto.

Já as redes clandestinas formadas pela NATO, do tipo Gládio, não estarão mortas, desafiando todas as propagandas, como recordaram alguns jornalistas italianos.

A história do arsenal está mal contada e, previsivelmente, será arquivada com celeridade; já o apoio da NATO aos grupos nazis ucranianos não suscita dúvidas: os próprios beneficiários o confessam. Porém, não é um auxílio que deva ser feito aos olhos de todos, tratando-se da NATO, uma aliança que existe para «defender a democracia» – a NATO só defende, nunca ataca, como se sabe. A verdade é que desde que passou de batalhão a regimento da Guarda Nacional o grupo terrorista Azov foi equipado com armas pesadas, incluindo tanques, que chegaram de algum lado. Talvez agora seja a hora dos mísseis, quem sabe? Ainda recentemente as forças policiais italianas e o regimento Azov assinaram um acordo de cooperação desbravando novos caminhos.

É provável que todas estas relações dêem os seus frutos; é improvável, porém, que cheguem ao conhecimento dos cidadãos comuns, tal como o desfecho do mistério dos mísseis nazis de Turim.

A grande irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. Não é necessário escavar muito estas histórias, casos e mistérios para tropeçarmos na associação entre a NATO e os nazi-fascismos, duas correntes que, a acreditar na propaganda oficial, deveriam ser como a água e o azeite.

Afinal não. Trata-se de uma fluida cooperação nos tempos em que se fala no risco de uma nova guerra mundial e que traz raízes consolidadas na altura em que o anterior conflito ainda não tinha acabado.

É, como se percebe, uma grande e frutífera irmandade. Factos são factos.

  • 1. Note-se que os teóricos nazis atribuíam desde os anos 30, na sua propaganda, o estatuto de «raça superior» aos povos estónio e letão, facilitando a formação dos sanguinários esquadrões da morte bálticos integrados nas Waffen SS, tão ou mais temidos pelos povos e etnias que viviam no território soviético ocupado pela Alemanha nazi do que os próprios alemães.
  • 2. No período posterior à derrota hitleriana no Báltico os Irmãos da Floresta mantiveram-se activos até meados da década de 50. Actualmente, os próprios admiradores destes colaboradores nazis no Báltico reciclados reconhecem o carácter terrorista dos seus heróis, como é fácil de confirmar através do volume de baixas soviéticas nos anos de 1944-1958 no Báltico: mais de 25 mil civis foram assassinados e muitos torturados antes de executados, enquanto os polícias que combatiam os Irmãos da Floresta tiveram quatro mil baixas. Outro pormenor menos ventilado é que o maior apoio interno daquelas organizações provinha dos poderosos e ricos latifundiários da região, que tinham um profundo ódio aos camponeses que os tinham expropriado durante os anos da Revolução Russa. Após a deportação para a Sibéria, no final dos anos 40, da maioria dos grandes proprietários de terras no Báltico, a actividade dos Irmãos da Floresta decaiu consideravelmente, apesar de todos os esforços da CIA e dos serviços secretos britânicos para reactivá-los. O golpe final foi dado após a amnistia concedida pelas autoridades soviéticas após a morte de José Estaline, em 1953. O leitor terá de procurar em língua russa (mesmo que em sítios como a insuspeita Rádio Liberdade, financiada pelo governo americano) as fontes documentais sobre este assunto, visto os websites do Ocidente serem consideravelmente parcos a respeito destes dados e optarem habitualmente por uma visão puramente apologética dos Irmãos da Floresta, escondendo a sua verdadeira natureza.
  • 3. Neonazis e veteranos da Waffen-SS voltaram a marchar em Riga em Março de 2019, como denunciou o AbrilAbril em artigo publicado na altura.
  • 4. O regimento Azov [ou «Batalhão Azov», ou muito simplesmente «Azov»] é uma organização paramilitar criada em 2014, durante os protestos da praça Euromaidan e do golpe de Estado que lhe foi subsequente. É enquadrado e remunerado pelo Ministério do Interior da Ucrânia como um dos membros da chamada Guarda Nacional, que confere poderes estatais a este e outros grupos fascistas ucranianos. Originalmente fundado como um grupo paramilitar voluntário, é acusado de ser uma organização neonazi e neofascista, além de estar envolvido em vários casos de abusos de direitos humanos e crimes de guerra leste da Ucrânia, principalmente em casos de torturas, estupros, saques, limpeza étnica e perseguição de minorias como homossexuais, judeus e russos. O Azov tem ligações a grupos nazi-fascistas internacionais, como em Itália ou no Brasil onde recruta combatentes na guerra que move contra as populações do Donbass, no leste da Ucrânia.
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E admite claramente que a NATO trava na Ucrânia uma «guerra por procuração», buscada pela Casa Branca. No entanto, critica a actual administração por não fazer o suficiente, defendendo que deve promover ainda mais a escalada do conflito.

Segundo refere o portal multipolarista.com, tendo por base informações divulgadas na imprensa dominante, a administração de Biden enviou para a Ucrânia mais de 17 mil armas anti-tanque, incluindo mísseis Javelin, e 2000 mísseis anti-aéreos Stinger – alguns dos quais foram parar directamente às forças neonazis do Batalhão Azov.

A mesma fonte indica que, depois de ter enviado para a Ucrânia, no final de Fevereiro, armas no valor de 350 milhões de dólares, a Casa Branca aprovou uma pacote de ajuda adicional no valor de 13,6 mil milhões de dólares, em Março, incluindo 6,5 mil milhões em apoio militar.

Uma «inundação» de armas

Para Eliot Cohen, isto não basta. «O fluxo de armas que entra na Ucrânia tem de ser uma inundação», escreveu em The Atlantic.

«Os Estados Unidos e os seus aliados da NATO estão envolvidos numa guerra por procuração com a Rússia», disse. «Estão a fornecer milhares de munições e, esperemos, fazendo muito mais – partilhando inteligência, por exemplo – com o objectivo de matar soldados russos».

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Activistas norte-americanos protestam contra o negócio da guerra

Um grupo de pessoas manifestou-se, esta segunda-feira, na sede da empresa de armamento norte-americana Raytheon Technologies, em Cambridge, Massachusetts, contra o negócio da guerra.

Acção contra o negócio da guerra na sede da Raytheon, em Cambridge, Massachusetts 
Créditos@resist_abolish

No cimo da sede da Raytheon, cinco pessoas penduraram panos em que pediam o fim de todos os conflitos bélicos e denunciavam que a empresa em causa, um dos gigantes da indústria do armamento, lucra com a morte no Iémen, na Palestina e na Ucrânia [vídeo].

Outras, mais abaixo, mostraram faixas em que denunciavam o lucro da empresa com o «genocídio» e que os seus «mísseis matam civis».

De acordo com a informação divulgada na conta de Twitter da organização Resist and Abolish the Military Industrial Complex (RAM INC), a Polícia deteve as pessoas envolvidas na acção de protesto – que foram mais tarde libertadas.

Por um protesto realizado o ano passado à entrada das instalações da Raytheon em Portsmouth, no estado norte-americano de Rhode Island, a organização enfrenta uma multa de 3000 dólares, segundo informa na mesma rede social.

A Raytheon, que o ano passado anunciou vendas no valor de 64,4 mil milhões de dólares, tem entre os seus clientes a Arábia Saudita, o Catar e os Emirados Árabes Unidos.

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Empresas de armamento lucram com o trabalho dos reclusos nos EUA

«Reclusos que ganham centavos fabricam armas multimilionárias», revela o MintPress News. As maiores empresas de armas dos EUA encontram novas formas de tirar proveito do complexo industrial das prisões.

Um grupo de reclusos regressa aos dormitórios, no regresso do trabalho, na Prisão Estatal de Louisiana, em Angola, EUA 
CréditosGerald Herbert / innocenceproject.org

Um estudo do MintPress News indica que, «em muitos casos, as armas de guerra são fabricadas directamente com recurso a trabalho penitenciário sob coacção».

Centrada nas cem maiores empresas privadas contratadas pelo Departamento da Defesa norte-americano, a investigação mostra que 37% também lucram com norte-americanos reclusos, tanto em prisões como nos campos do Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras (ICE).

Entre os 25 maiores fabricantes de armas, 16 beneficiam do trabalho dos reclusos. A lista completa das 37 empresas que lucram com o «encarceramento massivo» pode ser consultada aqui (apresentada por ordem do valor dos contratos recebidos do Departamento da Defesa).

A lista, explica o jornalista Alan MacLeod, foi criada com base na recolha de dados do portal da administração norte-americana usaspending.gov. Os dados relativos às cem maiores empresas militares privadas contratadas no último ano fiscal completo foram comparados com uma base de dados de agentes do sector privado da indústria prisional, organizada pelo grupo Worth Rises, que defende o desmantelamento da indústria das prisões e o fim da exploração que ela implica.

«"historicamente, o governo federal atribuiu subsídios para testar nas prisões a tecnologia que está a ser desenvolvida para a luta contra o terrorismo"»

Chris Hedges, jornalista e professor no sistema prisional a quem foi pedido um comentário, não ficou chocado com o facto de quase dois terços dos maiores agentes da indústria da defesa estarem bastante envolvidos no negócio das prisões. «O tecido da indústria da defesa, o Estado carcerário, a indústria da inteligência, está tudo interligado. E acho que estas descobertas o provam», disse.

O MintPress falou igualmente com a fundadora e directora executiva da Worth Rises, Bianca Tylek, que também não se mostrou surpreendida.

«Há uma sobreposição considerável entre as duas indústrias, o que não é surpreendente; são indústrias controversas. As empresas que operam numa indústria controversa não temem participar noutra. Onde vemos uma sobreposição particular é na tecnologia de segurança e vigilância. Na verdade, historicamente, o governo federal atribuiu subsídios para testar nas prisões a tecnologia que está a ser desenvolvida para a luta contra o terrorismo», disse.

Não é uma indústria artesanal

Uma dessas empresas «controversas» é a Raytheon, que o ano passado anunciou vendas no valor de 64,4 mil milhões de dólares e que também recorre à vasta população prisional dos Estados Unidos como mão-de-obra barata quase infinita para fabricar alguns dos seus produtos mais caros.

Os reclusos, refere o texto, são obrigados a trabalhar por apenas 23 centavos por hora (menos impostos e outras taxas) para empresas subcontratadas que fabricam peças para mísseis Patriot que custam até 5,9 milhões de dólares (cada um), o que significa que um preso teria de trabalhar quase 3000 anos, 24 horas por dia, para ser capaz de pagar o que está a fazer.

«As armas da Raytheon têm sido cruciais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen»

A administração norte-americana autoriza a Raytheon e outros a venderem os seus produtos a alguns dos governos que mais violam os direitos humanos, afirma o MintPress News, incluindo nessa lista os da Arábia Saudita, do Catar e dos Emirados Árabes Unidos.

As armas da Raytheon têm sido cruciais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen, criando aquilo que as Nações Unidas classificam como «a pior crise humanitária do mundo».

Desde o início da guerra de agressão, a Raytheon vendeu a Riade equipamento pelo menos no valor de 3,3 mil milhões de dólares. Em 2018, a aviação saudita usou um míssil fabricado pela Raytheon para fazer explodir um autocarro cheio de crianças iemenitas, provocando a morte a 51 pessoas. «Se esta história foi notícia, há seguramente muitos outros casos semelhantes que nunca chegam ao público ocidental», frisa o portal.

Reclusos na Prisão Estatal de San Quentin, Califórnia (EUA) / VCG / CGTN

Exemplos de «promiscuidade» entre Defesa e sistema prisional

Reclusos nos EUA fabricam equipamentos electrónicos, ópticos e arneses para a BAE Systems, incluindo para o seu veículo de combate Bradley, um pilar do Exército norte-americano. Por este trabalho, os presos recebem cerca de 100 dólares por mês, segundo informação divulgada.

Várias subsidiárias da BAE Systems – incluindo o fabricante de equipamentos militares e policiais Armor Holdings (que fabrica a maioria das mochilas do Exército dos EUA) e a empresa de tecnologia de câmaras, segurança e espionagem Fairchild Imaging – também aparecem na lista de empresas que vendem para a indústria prisional, elaborada pela Worth Rises.

«Há diversas grandes empresas contratadas pela Defesa que também operam na indústria prisional.»

BAE Systems, General Dynamics e Lockheed Martin estão entre as empresas que mais lucram com o trabalho prisional, segundo a Worth Rises, que as marca com «nota máxima» no índice de danos.

Há diversas grandes empresas contratadas pela Defesa que também operam na indústria prisional. Um dos exemplos apontados pelo MintPress News é o da General Electric e das suas subsidiárias, envolvidas na construção e no equipamento das prisões, no fornecimento de alimentos e na supervisão dos cuidados de saúde.

Porventura, o agente mais importante na ligação da indústria prisional à militar é empresa estatal Unicor (também conhecida como Federal Prison Industries). Empregando 16 mil reclusos a nível nacional em 2021, a Unicor anunciou receitas de 528 milhões de dólares o ano passado.

Fabricando de tudo – desde têxteis até equipamentos de escritório e electrónicos –, a empresa presta um serviço vital ao complexo industrial militar, fornecendo-lhe um fluxo quase interminável de mão-de-obra cativa e praticamente gratuita para explorar, destaca o portal.

Ao contrário da Raytheon e da Lockheed Martin, que mantêm em silêncio a ligação a esta fonte controversa de trabalho, a Unicor parece orgulhar-se dela, ostentando-a na sua página de Internet.

Conversa progressista até falar o dinheiro

Muitas das 37 empresas listadas são conhecidas como fabricantes de armas, mas outras poderão não ser associadas à indústria das armas. A CACI International, por exemplo, está longe de ser um nome familiar, apesar de empregar mais de 22 mil pessoas em todo o mundo.

O principal cliente da CACI é o governo dos EUA, a quem fornece uma vasta gama de serviços profissionais e de tecnologias da informação. Localizada no Norte da Virgínia, é uma das muitas empresas que se banqueteiam com os contratos de guerra do Iraque e do Afeganistão.

«O ano passado, o director executivo da CACI, John Mengucci, referiu-se à retirada do Afeganistão como má para o negócio.»

A CACI promove-se a si mesma como um «empregador progressista», e o seu portal está cheio de conversa sobre «diversidade» e «inclusividade», além de se vangloriar de estar na lista da Forbes do «top mais» das empresas «amigas das mulheres».

Mas esta conversa «progressista» dura até que o dinheiro fale. Em 2016, revela o MintPress, a CACI lançou uma oferta e ganhou um contrato de 93 milhões de dólares com o Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras para fazer a manutenção dos seus centros de detenção – edifícios que foram amplamente descritos como campos de concentração.

O ano passado, o director executivo da CACI, John Mengucci, referiu-se à retirada do Afeganistão como má para o negócio. E tinha razão: em 2019, a CACI assegurou um contrato de 907 milhões de dólares, por um período de cinco anos, para «fornecer operações de inteligência e apoio analítico» às forças dos EUA no Afeganistão.

Além disso, em 2021, o Supremo Tribunal dos EUA rejeitou o recurso da CACI relativo ao processo instaurado por um grupo de iraquianos pelo alegado envolvimento da empresa em tortura e agressão sexual, na célebre prisão de Abu Ghraib.

Neoliberalismo e exploração nos cárceres

As condições prisionais nos Estados Unidos estão entre as piores do mundo desenvolvido, denuncia o MintPress News. A maior parte dos estados exige que os reclusos recebam uma compensação financeira pelo seu trabalho, mas os salários podem ser embargados para pagamento de pensões de alimentos, restituições à vítima e até alojamento e alimentação. Em cinco estados – Texas, Arkansas, Alabama, Geórgia e Florida – os reclusos são obrigados a trabalhar sem qualquer pagamento.

«Isto é trabalho em condições de servidão; não se pode organizar; não pode fazer greve; não pode protestar pelas más condições. O pagamento está muito abaixo do salário mínimo», disse Hedges ao MintPress.

Assim, a enorme população prisional satisfaz as necessidades das empresas norte-americanas de duas formas: primeiro, fornece uma gigantesca reserva de mão-de-obra barata e disciplinada para explorar, ajudando-as a competir com «fábricas de miséria» na Ásia; em segundo lugar, actua como uma ferramenta disciplinadora do «trabalho livre», ajudando a acabar com os sindicatos e a reduzir os salários e as condições de trabalho em todo o país.

A Worth Rises faz parte de um conjunto de organizações que consideram que parte do trabalho prisional se assemelha à escravidão, pelo que tem feito campanha para alterar a 13.ª Emenda, que permite que a escravidão seja usada como forma de punição de um crime.

«Pessoas nas ruas de Detroit, Newark ou no Leste de Nova Iorque não valem nada aos olhos do Estado corporativo. Mas, se forem fechadas numa gaiola, têm capacidade para gerar 50 ou 60 mil dólares por ano para essas empresas.»

Tendo em conta que a economia foi esvaziada e os empregos foram transferidos para o estrangeiro, grande parte da população trabalhadora do país tornou-se, aos olhos das empresas norte-americanas, excedentária em relação às necessidades económicas, afirma o MintPress News.

Já não são necessários para trabalhar nas fábricas e são efectivamente inúteis para gerar lucros para outros. Hedges encara a ascensão do complexo industrial prisional como uma resposta a isto.

«Pessoas nas ruas de Detroit, Newark ou no Leste de Nova Iorque não valem nada aos olhos do Estado corporativo. Mas, se forem fechadas numa gaiola, têm capacidade para gerar 50 ou 60 mil dólares por ano para essas empresas. Então, nesse sentido, é um continuum completo [desde a escravidão]», disse.

Com quase 2,3 milhões de pessoas atrás das grades numa rede de mais de 7000 instalações, os Estados Unidos têm de longe a taxa mais elevada de encarceramento do mundo, encarcerando os seus cidadãos a uma taxa dez vezes superior à de países europeus como a Suécia ou a Dinamarca e 17 vezes mais elevada que a do Japão.

A explosão da população prisional dos EUA reflecte de perto a ascensão do neoliberalismo como a ideologia dominante, afirma o portal, precisando que, antes da administração Reagan, os números das prisões norte-americanas eram comparáveis aos da Europa. No entanto, entre 1984 e 2005, uma nova cadeia foi construída, em média, a cada 8,5 dias, atingindo o pico em 2009.

Tylek, da Worth Rises, criticou fortemente o custo e o desperdício do empreendimento. «Em muitos lugares, as populações prisionais caíram nos últimos anos. E, no entanto, os orçamentos dessas agências continuam a aumentar. Nada o justifica», disse.

A indústria prisional «para lá dos limites» tornou-se tão normalizada que é objecto de entretenimento ligeiro. Em 2020, um novo jogo, chamado «Prison Empire Tycoon», tornou-se viral, convertendo-se no jogo de estratégia número um na App Store da Apple.

O objectivo do jogo é supervisionar e administrar uma prisão com fins lucrativos. Durante o tutorial, no início, um guarda empunhando um bastão instrui os jogadores, dizendo-lhes que «o Estado paga bom dinheiro» para lidar com os «criminosos».

Reclusos na Prisão Estatal de Louisiana, em Angola (EUA) / Gerald Herbert / MintPress News

A pagar a dívida?

Uma forma de gerar mais lucro, tanto no jogo como na realidade, é transferir os custos para os próprios reclusos. As pessoas encarceradas agora têm de pagar regularmente artigos essenciais como sabão, pasta de dentes e champô, bem como chamadas para os seus entes queridos. A outros exigem-lhes co-pagamentos para consultar um médico ou para despesas de alojamento, a serem descontadas dos salários ganhos.

«Corporações financeiras como a JPay e a JP Morgan Chase fazem parcerias com instituições penitenciárias para garantir o melhor negócio para eles – e o pior negócio para os presos.»

Muitas vezes, apenas o facto de se ser enviado para um estabelecimento prisional implica uma «taxa de processamento» de 100 dólares, que os reclusos têm de pagar, enquanto aos visitantes são cobradas regularmente quantias por verificações de antecedentes. Amigos e familiares dos presos transferem 1,8 mil milhões de dólares para estabelecimentos prisionais todos os anos.

Sem outra opção, são forçados a aceitar taxas de transferência de dinheiro até 45%. Corporações financeiras como a JPay e a JP Morgan Chase fazem parcerias com instituições penitenciárias para garantir o melhor negócio para eles – e o pior negócio para os presos. Tylek disse ao MintPress: «Estar preso é muito caro. É tão caro que endivida muitas famílias que apoiam pessoas que estão encarceradas.»

Trazer as guerras para casa

Hedges, que passou muito tempo a ensinar no sistema penitenciário de New Jersey, também observou as semelhanças entre as prisões e os militares, comentando que os guardas são frequentemente recrutados nas Forças Armadas ou na Guarda Nacional. Cada vez mais, os guardas parecem-se com as equipas SWAT, com armas letais de alta tecnologia. «Tudo é militarizado», disse Hedges. E acrescentou:

«Dirigem-se a ti pelo teu número, não pelo teu nome. És obrigado a andar em fila indiana pelos corredores. Qualquer infracção […] pode fazer com que acabes por ser espancado ou atirado para a solitária e despojado dos poucos privilégios que tens. É o microcosmo perfeito do Estado totalitário.»

«À medida que os impérios decaem (...), muitas vezes trazem de volta a repressão que infligem no estrangeiro»

Por seu lado, Tylek disse que, «em muitos casos, o governo está a reagir ao crime a nível nacional da mesma forma que responde à guerra internacional. E isto deve-se ao facto de que muitos dos mesmos fornecedores estão a facultar equipamento tecnológico para esses dois ambientes».

À medida que os impérios decaem – argumentou Hedges –, muitas vezes trazem de volta a repressão que infligem no estrangeiro, usando na população nacional tácticas aprimoradas para reprimir a dissidência estrangeira.

Hoje, as comunidades pobres nos EUA estão a ser governadas de uma forma cada vez mais militarizada, nota o MintPress News, enquanto os oprimidos pelo complexo industrial prisional no país são coagidos a fornecer o seu trabalho para reforçar o complexo industrial militar no estrangeiro. E, a cada passo, as empresas norte-americanas continuam a lucrar.

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As suas armas têm sido fundamentais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen, ajudando a criar aquilo que as Nações Unidas classificam como «a pior crise humanitária do mundo».

Desde o início da guerra de agressão, a Raytheon vendeu a Riade equipamento pelo menos no valor de 3,3 mil milhões de dólares, segundo refere o MintPress News.

Em 2018, a aviação saudita usou um míssil fabricado pela Raytheon para fazer explodir um autocarro cheio de crianças iemenitas, provocando a morte a 51 pessoas.

A indústria de armamento dos EUA também tem lucrado bastante com a actual situação na Ucrânia, tendo como base os contratos celebrados com países ocidentais que estão a aumentar as suas despesas na área da defesa.

Segundo revelou o diário The Hill na semana passada, o valor das acções da Lockheed Martin disparou quase 25% desde o início do ano, enquanto o de outras empresas do sector como Raytheon, General Dynamics e Northrop Grumman subiu cerca de 12%, cada qual.

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«Para vergar a vontade da Rússia e libertar a Ucrânia da conquista e da subjugação, muitos soldados russos têm de fugir, render-se ou morrer, e, quantos mais e mais depressa, melhor», acrescentou o apoiante das invasões do Iraque e do Afeganistão, que também pedia a guerra com o Irão.

Embora não esteja directamente no governo, Cohen trabalha para o think tank neoconservador Center for Strategic and International Studies (CSIS), que recebe fundos do governo, da indústria de armamento e das empresas de combustíveis fósseis.

De acordo com o portal norte-americano, a «perspectiva ultra-belicosa de Cohen é bastante representativa dos falcões [da guerra] em Washington» e «o seu artigo em The Atlantic permite vislumbrar de forma honesta como os planificadores imperialistas norte-americanos encaram a crise na Ucrânia: uma oportunidade para usar o povo ucraniano como carne para canhão numa guerra por procuração» contra a Rússia.

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