A sinistralidade no Itinerário Complementar 8 (IC8) já se tornou um problema crónico, mas nem por isso foram postas em prática as medidas necessárias para pôr termo à situação. O IC8 faz a ligação entre a A17, em Pombal, e a A23, perto de Vila Velha de Ródão, sendo uma importante via de transporte de mercadorias entre o litoral e o interior.
O extraordinário processo da Parceria Público-Privada (PPP) do Algarve Litoral foi novamente notícia com a abordagem do tema em Comissão Parlamentar da Assembleia da República. Antes de começar a narrar os factos, convém deixar claro o que é um tribunal arbitral: são três pessoas, uma nomeada pelo Estado, outra nomeada pela concessionária privada e uma terceira escolhida por consenso entre as duas primeiras. Ou seja, não é um Tribunal. É um respeitável método de resolver conflitos entre as partes, promovendo o aproximar de posições. Agora, quando se trata de decidir sobre a transferência de dezenas de milhões de euros dos cofres do Estado para os bolsos privados, este método é completamente desadequado, e tem permitido aos concessionários privados um autêntico saque dos dinheiros públicos. O simples facto de a comunicação social sistematicamente noticiar as decisões destes «tribunais» como se de um Tribunal se tratasse já revela um posicionamento de classe. No caso do processo da PPP do Algarve Litoral, a coisa ainda é mais grave. É que tudo resulta do Tribunal de Contas ter recusado o visto a uma outra negociata entre o Estado e o concessionário privado. Como o Estado se «atreveu» a executar a decisão do Tribunal de Contas (mas havia alguma outra alternativa?), a concessionária privada exigiu ser indemnizada pelo facto de o Tribunal de Contas ter declarado ilegal e abusivo o seu benefício na alteração de contrato. E reclama algo como 445 milhões de euros, a que acrescem os 43 milhões que os «bancos financiadores» também reclamaram. Diga-se de passagem que esta recusa de visto até deveria ter acontecido em mais contratos de renegociações de PPP, pois todos eles, no essencial, reduziram encargos dos privados e aumentaram as responsabilidades financeiras públicas. Repito: pelo facto de o Tribunal de Contas, um órgão da República, com as suas competências estipuladas na Constituição, ter declarado abusiva e ilegal uma alteração de contrato entre o Estado e os privados, estes reclamam do Estado... uma indemnização de 487 milhões de euros!!! E quem acham estas criaturas que deve decidir da justeza ou não desta reclamação? Um tribunal arbitral. O mesmo tribunal arbitral que já condenou – cautelarmente – a Infraestruturas de Portugal (IP) a pagar 33,5 milhões de euros aos concessionários privados, acrescidos de 1,5 milhões por mês. E entretanto a Estrada Nacional 125 degrada-se, as obras não se fazem e a IP gasta rios de dinheiro em firmas de advogados para a defenderem em processos nos Tribunais (nos verdadeiros), que muitas vezes se revelam impotentes para defender o interesse público, pois os «tribunais» arbitrais estão previstos nos contratos de concessão. E a base legal destes pagamentos não é a legalidade da reclamação mas o facto de o contrato de concessão atribuir ao «tribunal» arbitral a capacidade de decidir da validade dos pedidos das concessionárias privadas. Ou seja, passa a ser legal uma reclamação sem fundamento nem qualquer base legal. Brilhante! E chamam a isto justiça! Já há uma proposta de lei – do PCP – para proibir o Estado de colocar nos seus contratos com privados o recurso a tribunais arbitrais. E uma outra – também do PCP – para proibir o Estado de recorrer a PPP para a execução das obras públicas. Mas PS/PSD/PP/IL/CH são a muralha que defende o grande capital monopolista na Assembleia da República e têm chumbado todas estas propostas. E é por isso que apesar de tanta gente continuar a fingir estar preocupada com a corrupção, esta continua a grassar, e a esbulhar o erário público em milhares de milhões de euros por ano. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Opinião|
A saga da PPP da Estrada Nacional 125
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Vários troços do IC8 não são próprios de um Itinerário Complementar, denuncia o projecto do PCP, destacando o troço de Pombal e Pontão/Avelar, 27km do IC8 que atravessam «várias localidades, com inúmeras limitações de velocidade a 50 Km/h, cruzamentos de nível e várias curvas fechadas, elementos não compatíveis» com a sua classificação.
No Projecto de Resolução é levantada a necessidade de uma intervenção estrutural no IC8, «com alteração do traçado e perfil, nomeadamente entre Avelar e Pombal, que desvie para fora das localidades o trânsito regional e nacional, nomeadamente o trânsito de pesados», permitindo uma maior segurança rodoviária e maior fluidez na circulação de veículos.
Indispensável parece ser a construção de faixas de aceleração e de desaceleração nos nós de acesso ao IC8, onde ainda não existam, e a melhoria das condições de circulação, nomeadamente no que respeita à iluminação e o piso.
As obras de remodelação do IC8 chegaram a estar agendadas há mais de uma década, tendo sido retiradas durante o mandato de 2011-2015 do PSD/CDS-PP, liderado por Pedro Passos Coelho, «defraudando uma justa reivindicação da população».
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