Em Belém do Pará, a Universidade Federal do Pará (UFPA) realiza, entre os dias 22 e 24, o Colóquio Internacional «José Saramago: Palavra, pensamento, ação». Carlos Reis, professor da Universidade de Coimbra e comissário para o Centenário, será o curador do evento, contando com a ajuda de Simone Neno e Germana Sales, ambas da UFPA.
As comemorações em torno do centenário do escritor, anunciadas pela Fundação José Saramago, têm início a 16 de Novembro e celebram o carácter «social, político e ético» do Nobel Português. São muitas as iniciativas anunciadas, esta terça-feira, por Carlos Reis, professor jubilado da Faculdade de Letras de Coimbra, e comissário designado pela Fundação para dirigir o programa que terá lugar entre 16 de Novembro de 2021 e de 2022, dia em que o escritor completaria 100 anos. Carlos Reis identificou ainda os «vários eixos de actuação [do programa], porque a sua obra literária e o seu pensamento a isso aconselham: no eixo da biografia, no da leitura, no das publicações e no das reuniões académicas. Comum a todos eles é o desafio de celebrarmos o legado de um escritor que, a caminho de cumprir 100 anos, continua tão actual como estas palavras que ele mesmo disse: "Vivo desassossegado, escrevo para desassossegar"». As comemorações abrangem um vasto espectro de formas de expressão artística, indo das artes visuais ao cinema, ao teatro, à dança e à ópera. Em todas elas se encontram oportunidades para explorar «a figura e a biografia do escritor». José Saramago foi um dos militantes activos na luta contra o fascismo e na defesa de uma democracia que fosse mais do que «uma referência». A 10 de Dezembro de 1998 recebeu o Nobel da Literatura. O primeiro e, até agora, único Nobel português da Literatura, nasceu na Azinhaga, no concelho da Golegã, em 16 de Novembro de 1922. Ainda menino vai para Lisboa com a sua família e desde cedo cruza-se com movimentos antifascistas. Em 1948/49 participa na candidatura de Norton de Matos à Presidência da República. Alguns anos mais tarde (1969), torna-se militante do PCP e integra a organização dos intelectuais de Lisboa. Depois do 25 de Abril, integra a Célula dos Escritores do Sector Intelectual de Lisboa e, juntamente com outros intelectuais comunistas, participa activamente nas jornadas de trabalho da Festa do Avante!. Em 1975, data em que é afastado do cargo de director-adjunto do DN, na sequência do golpe contra-revolucionário de 25 de Novembro, publica o livro de poemas O Ano de 1993. Dois anos mais tarde, sai o romance Manual de Pintura e Caligrafia e em 1978 o volume de contos Objecto Quase. A partir de então, a sua obra cresce, consolida-se, ganha admiradores e torna-se também alvo de censura. Em 1992, o escritor que pugnava por ensinar a dizer não às injustiças e desigualdades, vê-se arredado da candidatura ao prémio literário europeu graças ao veto do subsecretário de Estado da Cultura de Cavaco Silva, Sousa Lara. Em causa estava a obra O Evangelho segundo Jesus Cristo e, por causa disso, Saramago optou por ir viver definitivamente para Lanzarote. Felizmente, o episódio não impediu que, em 1998, o País se levantasse em alegria, como afirmou Eduardo Prado Coelho [«É possível, como se viu nesta semana, que um país se levante em alegria porque alguém ganhou um prémio de literatura»]. Saramago tinha ganho o Nobel da Literatura, o Nobel tinha-se rendido à visão humanista do escritor. Entretanto, a sua obra saltou para outros domínios artísticos. O compositor Azio Carghi produziu a ópera Blimunda, a partir do Memorial do Convento, o realizador Fernando Meireles levou ao cinema o Ensaio sobre a Cegueira e obras como, por exemplo, a História do Cerco de Lisboa, foram interpretadas no teatro. No dia em que regressa a Lisboa, após a atribuição do prémio, José Saramago é recebido com uma homenagem do partido que escolheu para seu até ao fim da vida, no Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa. Finda a cerimónia, seguiu em direcção à Praça do Comércio, num gesto de solidariedade para com os que lutavam contra mais um pacote anti-laboral disparado pelo governo de Cavaco Silva. Quando passavam dez anos da atribuição do Prémio Nobel da Literatura, e uma vez não ter podido participar por motivos de saúde na homenagem que lhe foi preparada na Festa do Avante!, enviou uma mensagem aos construtores, que, «com o seu trabalho voluntário, e não pedindo nada em troca, constroem a Festa»; aqueles para os quais «a Festa é indispensável» e que «são também indispensáveis à Festa». A atribuição do Nobel levou José Saramago a participar em conferências, seminários, fóruns, e outras iniciativas, a nível nacional e internacional, sobretudo em Espanha e na América do Sul. A reflexão sobre a sua obra, as desigualdades, o conceito de democracia e a actuação das «instituições» europeias foram alguns dos muitos temas sobre os quais manifestou a sua opinião. Afinal de contas, admitiu, «a missão do escritor, se existe alguma, é não se calar.» José Saramago morreu no dia 18 de Junho de 2010. Na intervenção proferida na cerimónia fúnebre, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, reconheceu: «Podia ter sido só um escritor maior da literatura portuguesa. Foi mais do que isso. Foi um homem que acreditou nos homens, mesmo quando os questionava, que deu expressão concreta à afirmação de Bento de Jesus Caraça da aquisição da cultura como um factor de conquista da liberdade.» Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Consta do programa um vasto leque de exposições em torno da biografia e do espólio de José Saramago, assim como a organização de colóquios e leituras centrados na sua obra, em que se destacam as «Conferências do Nobel: emergências saramaguianas», a cargo do escritor e ensaísta Argentino Alberto Manguel, e as «Leituras académicas», que consistem em reuniões cientificas e acções de formação de professores em Portugal, Espanha, Brasil e Estados Unidos da América. O programa «Saramago na escola», no qual 100 escolas promovem iniciativas em simultâneo em torno dos mesmos textos de José Saramago, marcará a abertura e o encerramento das comemorações do centenário e vida do autor. No dia 16 de Novembro de 2021, 100 estabelecimentos do ensino básico promovem a leitura da obra A Maior Flor do Mundo. Também nesse dia, em 2022, será a vez de 100 escolas do ensino secundário se juntarem para ler excertos das obras O Ano da Morte de Ricardo Reis e Memorial do Convento. José Saramago, único prémio nobel da Literatura Portuguesa, nasceu em 1922, na aldeia da Azinhaga, e morreu em Lanzarote, Espanha, em 2010, aos 87 anos. Deixou, entre romances, peças de teatro e livros infantis, um vasto acervo amplamente traduzido e divulgado internacionalmente. Escritor comprometido social, politica e humanisticamente, foi militante do PCP até ao fim dos seus dias. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Cultura|
Centenário de Saramago, de Portugal para o Mundo
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Saramago: o comunista que revelou ao Nobel um ideal de democracia
«A missão do escritor [...] é não se calar»
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O encontro, que juntará académicos, editores, jornalistas e historiadores para debater o legado do único escritor de língua portuguesa agraciado com o Prémio Nobel, contará igualmente com a presença da presidente da Fundação José Saramago (FJS), Pilar del Río.
Na capital paulista, no dia 25, o Sesc-São Paulo (SP), em parceria com a editora Companhia e a Fundação José Saramago, promove uma homenagem ao escritor.
No Teatro Paulo Autran, o evento designado «Saramago 100 anos: uma homenagem» conta com a presença de Pilar del Río, do director regional do Sesc-SP, Danilo Santos de Miranda, e do editor Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras – casa que publica a obra de Saramago no Brasil.
Na homenagem, haverá ainda lugar para a leitura de excertos da obra do autor português pelos escritores Milton Hatoum e Andréa del Fuego, e a actriz Zezé Motta, sob direcção de Felipe Hirsh.
Também em São Paulo, no dia 26, será apresentado o livro A Intuição da Ilha, um relato de Pilar del Río que aborda a relação de José Saramago com Lanzarote e o dia a dia do escritor na ilha.
No Rio de Janeiro, entre 30 de Agosto e 1 de Setembro, o Real Gabinete Português de Leitura (RGPL) promove o encontro «À luz da Claraboia: o Centenário de Saramago no Real», em que participam três Prémios José Saramago de Literatura: Ondjaki, Andréa del Fuego e Julián Fuks.
A exposição «Voltar aos Passos que Foram Dados» estará patente no RGPL a partir de 30 de Agosto e também nesse dia será inaugurada na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro a mostra «Mulheres Saramaguianas», informa o portal da FJS.
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