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A dívida pública que continua parqueada na CP

Com a proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2023, até os mais atentos à realidade ferroviária descobriram que tinham sido, mais uma vez, aldrabados pelo Governo e pelo PS.

Foto de Arquivo.
CréditosMário Cruz / Agência LUSA

Falamos do saneamento financeiro da CP, que foi anunciado com pompa e circunstância na discussão do Orçamento do Estado para 2022 (e era mesmo uma das razões que provavam ser esse «o mais à esquerda de sempre»). Durante a campanha eleitoral várias foram as notícias de que o «perdão da dívida da CP fica sem efeito com o chumbo do OE para 2022» e que o «chumbo do OE é fatal para a CP». Realizadas as eleições, o saneamento financeiro da CP foi aprovado em Junho no Orçamento do Estado para 2022.

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CP: o peso do passado

A atitude patriótica de manter a Sorefame a funcionar teria permitido que o sonho de António Costa, de nas próximas décadas ter Portugal no «clube de produtores de comboios», fosse já uma realidade.

O primeiro-ministro, António Costa, o secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro e o ministro Adjunto e da Economia, Pedro Siza Vieira no debate sobre o Programa do XXII Governo Constitucional, na Assembleia da República. Lisboa, 31 de Outubro de 2019
CréditosTiago Petinga / Agência Lusa

A situação com que se deparam diariamente milhares de utentes dos comboios no País tem estado na ordem do dia e esteve presente no debate em torno do Orçamento do Estado para 2020. É reconhecido o desinvestimento e abandono do sector, que levou à perda de cerca de 1200 km de caminho-de-ferro e à destruição de cerca de 20 000 postos de trabalho.

Concretizada ao longo de décadas por opção dos sucessivos governos, a pulverização do sector ferroviário (onde se inclui a segmentação da CP em várias empresas) criou múltiplas oportunidades de negócio para os grupos económicos privados. Como consequência, degradou-se a oferta, a fiabilidade e a segurança da operação, precarizaram-se relações laborais e aumentaram-se os custos para os utentes e para o Estado.

A partir de dia 1 de Janeiro deste ano, a CP passou a contar, no seu quadro de efectivos, com cerca de mais mil trabalhadores, através da reintegração das oficinas da EMEF (as antigas oficinas da CP), uma medida histórica que reconhece o falhanço do desmembramento da CP e, a ser complementada por outras reversões, apontaria à necessária reconstrução de uma CP una, pública e nacional, capaz de representar o interesse nacional num sector estratégico da economia.

Uma reivindicação há muito defendida pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário, que considera esta medida positiva, mas, só por si, insuficiente, face à necessidade da CP proceder à admissão de novos trabalhadores, nomeadamente para os sectores operacional, oficinal e de manutenção.

E, falando da EMEF, vale a pena lembrar o longo processo de desinvestimento nas oficinas (Matosinhos, Porto, Entroncamento, Lisboa, Oeiras, Barreiro e Vila Real de Santo António), a sucessiva redução do número de trabalhadores, a crescente contratação de serviços externos e a importação de serviços de Espanha. Sem esquecer a tentativa de privatizar a EMEF, a venda da sua Unidade de Investigação e Desenvolvimento à multinacional NOMAD e a criação do ACE com a Siemens (SIEMEF).

Entretanto, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, afirmou que o estado a que chegou o sistema ferroviário é fruto de décadas em que «colectivamente, em conjunto, Portugal desinvestiu na ferrovia». Esquecendo, no entanto, a existência de vozes dissonantes, a começar pelos trabalhadores que, em 26 anos, nunca abdicaram dessa bandeira e, por exemplo, do PCP que, em 1993, se opôs à criação da EMEF prevendo que a intenção por detrás da separação era a privatização.

Esquecendo também que até 2005 existiu na Amadora uma empresa, a SOREFAME, que produziu material circulante e fabricou praticamente toda a frota do Metro de Lisboa e uma parte das carruagens da CP. Uma empresa destruída pela acção activa de sucessivos governos do PS e do PSD (sozinho ou com o CDS-PP), que primeiro a entregaram às multinacionais e depois foram cúmplices da sua desvalorização e desmembramento.

Mas, sobretudo, esquecendo que teria sido uma atitude patriótica manter a empresa a funcionar, alimentando não só os milhares de postos de trabalho, directos e indirectos, pelos quais os trabalhadores lutaram procurando que o governo realizasse novas encomendas à SOREFAME, a nacionalizasse e impedisse a especulação imobiliária com os terrenos da Amadora. Um caminho que teria possibilitado, porventura, que o sonho de António Costa, de nas próximas décadas ter Portugal no «clube de produtores de combóios», fosse hoje uma realidade.

Desde 2003 que Portugal não fabrica um comboio, consequência de uma privatização feita em nome da modernidade mas que levou à criação de (mais) uma dependência face ao exterior, escamoteando a importância da ferrovia no desenvolvimento do sector produtivo e industrial e os aspectos ligados à coesão territorial e à sustentabilidade ambiental.

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Aquilo que nunca passou do papel à realidade, volta agora a ser colocado no papel (e na pen) do Orçamento para 2023. Com uma agravante: o Governo já desenha um recuo, através do recurso a um eventual pedido de autorização à União Europeia. E pior: passou mais um ano, e a falta de saneamento financeiro da CP ameaça a possibilidade de esta renovar a frota da alta velocidade, que é só o serviço mais rentável da CP.

Mais uma vez, o país está a investir na infraestrutura ferroviária sem que se esteja a equipar com os comboios para nela operar. E não é incompetência: as multinacionais do sector, usando ou não a Barraqueiro como testa de ferro, estão a trabalhar para ficar com a exploração da rede que o país está a construir (quer as ligações internacionais, quer o longo curso nacional).

O Governo PS está a construir a cadeia de falsas inevitabilidades que acabará – contra a sua opinião, claro – por levar o serviço ferroviário mais rentável para a exploração privada. Essa cadeia de eventos começou com a exclusão do Longo Curso do Contrato de Serviço Público assinado com a CP, que implicou que o material circulante para este serviço teria de ser adquirido através do endividamento da CP, o que implica que a CP tem que ser saneada, o que pode vir a implicar um pedido de autorização à UE que, se for negado, levará, inevitavelmente, à entrega do serviço aos privados. É assim a falsa esquerda: faz o que a direita também quer fazer, mas finge que o faz por ser inevitável.

Para agravar, o próprio Governo sublinhava há um ano, aqui com razão, que o saneamento financeiro da CP não aumentava a dívida pública, pois já está contabilizado na dívida pública e toda a dívida da CP já é à Direcção Geral do Tesouro e Finanças (DGTF). Então porque não o concretizou? Pois...

Uma dívida laboriosamente construída

O regressar desta questão obriga-nos igualmente a lutar contra o conceito de «dívida da CP». Porque inevitavelmente a mera expressão do facto da CP ter uma dívida de dois mil milhões de euros serve para alimentar a mitologia contra as empresas públicas, que seriam caras, ineficazes, ineficientes. É importante recordar que o que acontece na CP é que o Estado parqueou na CP uma dívida pública que não é dela.

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SNS subfinanciado, uma opção do Governo

Os mais recentes números revelados pela Direção-Geral do Orçamento demonstram que o dinheiro que estava previsto para o SNS no Orçamento do Estado para o 2022 está abaixo do que efectivamente está a ser atribuído.

CréditosManuel de Almeida / Agência Lusa

De acordo com os dados fornecidos, o investimento público para o SNS está a cair 33% o que vai no sentido contrário ao que estava perspectivado uma vez que por via do Orçamento do Estado o Governo tinha alocado mais verbas para o sector, o que supostamente iria representar um aumento no investimento. O orçamentado no Orçamento do Estado 2022 foi de 590 milhões de euros, o que em comparação com 2021, que era 232 milhões, representava um aumento no investimento.

Apesar das alterações na dotação orçamental, a realidade é que no que já foi atribuído a situação parece inverter-se. Em 2021 já tinham sido investidos 102 milhões de euros e em 2022 ainda só foram investidos 68,5 milhões de euros, correspondendo assim a apenas 12% do que estava previsto para este ano. Para corresponder ao que estava previsto era necessário aumentar dez vezes o nível actual de investimento.

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Saída de Marta Temido não surpreende, mas falta resolver problemas do SNS

Graças à «indisfarçável» degradação do Serviço Nacional de Saúde, a demissão da ministra Marta Temido não surpreende médicos e enfermeiros, que reclamam políticas capazes de resolver os problemas do SNS. 

Marta Temido, ministra da Saúde, na conferência de imprensa diária, a 23 de Maio de 2020.
CréditosAntónio Pedro Santos / Agência Lusa

«É importante que se avance, (...), que não sirva esta mudança de cara no ministério para questionar mais uma vez as medidas que são necessárias. Infelizmente há várias questões a destacar de forma negativa e todas denunciadas em bom tempo, por exemplo a ausência de diálogo, que veio ferir de morte a relação com os médicos», afirmou à Lusa o presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), Noel Carrilho.

Para Noel Carrilho, a saída de Marta Temido de ministra da Saúde não é surpreendente, mas a FNAM quer agora centrar-se nas possibilidades futuras, mantendo-se disponível para a negociação e o diálogo.

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Os problemas do SNS são estruturais

O Serviço Nacional de Saúde está confrontado não com problemas conjunturais, mas, sim, dificuldades de ordem estrutural às quais o Governo não tem respondido e que, em alguns casos, se vão agravando.

Uma médica do Hospital de Santa Maria conversa com um utente no primeiro dia de greve nacional de médicos contra a degradação do SNS, em Lisboa, 11 de julho de 2012. Foto de arquivo
CréditosMiguel A. Lopes / Agência Lusa

As dificuldades do SNS têm muito a ver com uma grande desvalorização de todos os profissionais de saúde e com a não implementação de medidas como a valorização das carreiras, nomeadamente através de remunerações atractivas, de uma real perspetiva de progressão na carreira e de horários que sejam compatíveis com o seu descanso.

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Subfinanciamento: a doença crónica do SNS

Apesar de estar entre os melhores do mundo e ter colocado Portugal no pelotão dos países desenvolvidos, o SNS tem vindo a ser asfixiado pelo sub-financiamento.

CréditosPaulo Novais / Agência Lusa

Criado em 1979, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) é uma das conquistas da Revolução de Abril e é graças a ele que Portugal se levanta em Saúde, desde logo com uma notória evolução em indicadores como a esperança média de vida e as mortalidades infantil e perinatal. 

Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram como se atingiram melhorias consideráveis, por exemplo, ao nível da mortalidade infantil. Em 1970, por cada mil crianças nascidas, 55,5 morriam antes de completar o primeiro ano de vida. Dez anos depois, o número desceu para 24,3.

Se olharmos para estatísticas mais recentes vemos que a curva descendente continuou a fazer o seu caminho. Em 2016, Portugal, com 3,2% de mortalidade infantil, estava abaixo da média da União Europeia (3,6%). 

O desempenho do SNS é, no entanto, inversamente proporcional aos atropelos de que tem sido alvo, praticamente desde a sua criação, a começar pelo sub-financiamento.

Nas vésperas da criação da moeda única, a União Europeia (UE) implementou um conjunto de medidas, como a limitação dos recursos aplicados à Saúde, a fim de controlar a despesa no sector e permitir, por exemplo, a introdução dos seguros privados e o aumento dos co-pagamentos. 

Os duros anos da troika

Entre 2008 e 2018, com particular ênfase nos anos da troika e do governo do PSD e do CDS-PP, o sub-financiamento do SNS torna-se crónico, daí resultando a dívida aos fornecedores. O peso do SNS no Orçamento do Estado (OE) passou de 4,42% em 2008 para 4,27% em 2018.

Avaliando as transferências de cada orçamento para o SNS e a respectiva despesa total, neste período, chegamos a um valor médio negativo de cerca de 13 500 milhões de euros. Situando-se a despesa sistematicamente acima da transferência canalizada pelo OE, a execução vai sendo sucessivamente rectificada, passando a receita a aproximar-se da despesa e a apresentar, no período dos últimos dez anos, um valor médio negativo de 308 milhões de euros. 

Entre as imposições do famigerado memorando da troika para os anos 2012 e 2013 esteve um corte no OE para a Saúde de 550 milhões e de 375 milhões de euros, respectivamente, de que resultou um corte na despesa. 

Conforme atesta o Perfil de Saúde de Portugal, publicado pela OCDE em 2017, nos anos da troika a despesa pública em Saúde diminuiu mais do que noutros sectores da Administração Pública. Em 2015, último ano da governação de Passos e Portas, o País gastou 1989 euros por habitante, cerca de 30% abaixo da despesa média da UE (2797 euros). 

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No fundo, trata-se não só de criar condições para que não saiam mais médicos e enfermeiros do SNS, mas também o de fazer um caminho para os contratar, em particular para as especialidades em que são mais necessários e de forma a garantir o cumprimento das promessas de assegurar médico e enfermeiro de família para todos. Aliás, nem as recentes declarações da ministra da Saúde nem o Orçamento do Estado recentemente aprovado pelo PS (com a abstenção do PAN e do LIVRE) contêm soluções para salvar o Serviço Nacional de Saúde, considerando que é indispensável aumentar a capacidade de resposta do SNS, e para que isso aconteça são precisos meios financeiros, humanos e materiais.

Nesse sentido, talvez se perceba melhor a posição do PCP quando, em Novembro passado, votou contra o Orçamento do Estado para 2022, o que levou o Presidente da República a dissolver a Assembleia da República e a convocar eleições legislativas antecipadas, de que resultou a maioria absoluta do PS. A questão do SNS foi uma das principais razões para os comunistas terem chumbado o Orçamento.

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SNS endividado a favor dos privados

Num estudo elaborado com base nos dados divulgados pelo Ministério das Finanças, o economista Eugénio Rosa alerta para as dimensões da dívida do SNS e para o perigo de ser «sufocado» pelos interesses privados.

CréditosManuel de Almeida / Agência Lusa

Lembrando que o País enfrenta uma grave crise de saúde publica causada pela Covid-19, que desencadeou uma crise económica e social, o economista afirma que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) é um «factor-chave» na luta contra a insegurança generalizada que domina toda a população, e sublinha que «dotá-lo dos meios necessários, quer financeiros quer humanos, devia ser a principal preocupação do Governo».

Pelo contrário, e observando a execução do orçamento do SNS até Maio deste ano, que o Ministério das Finanças acaba de divulgar, persiste aquilo a que Eugénio Rosa chama de «obsessão pelo défice», continuando a sobrepor-se à necessidade de defender a saúde dos portugueses.

«Irrealista» é o adjectivo com que caracteriza o orçamento do SNS aprovado para 2021, em que a despesa prevista é de 11 604 milhões de euros, apenas 1,3% acima da despesa total de 2020. «Se compararmos a despesa nos cinco primeiros meses de 2021 com a dos cinco primeiros meses de 2020, conclui-se que ela aumentou em 7,2%, portanto um ritmo de crescimento percentual 5,5 vezes superior ao previsto no orçamento do SNS aprovado pelo Governo», sublinha no estudo.

Só nos cinco primeiros meses deste ano, o SNS acumulou um saldo negativo de 377 milhões de euros, que é 4,2 vezes superior ao défice previsto no orçamento do SNS aprovado pelo Governo para todo o ano de 2021, revela o economista.

Eugénio Rosa prevê que, se se mantiver o ritmo de crescimento verificado neste período, o SNS terminará este ano com um défice de 904,8 milhões de euros, que se adicionará à enorme divida que já tem aos fornecedores privados.

«É assim também que se destrói o SNS e se promove o negócio lucrativo privado da Saúde em Portugal»

A dívida das entidades do SNS aos fornecedores privados com mais de 90 dias é apenas uma parte da dívida total do SNS. E só esta é que é divulgada na informação mensal sobre a execução do Orçamento do Estado pela Direcção-Geral do Orçamento do Ministério das Finanças.

A dívida total do SNS a fornecedores privados aumentou, nos primeiros cinco meses do ano, de 1 516 para 1 907 milhões de euros. Um aumento e uma dívida «enorme» que põe em causa o próprio funcionamento do SNS, e «que o coloca à mercê dos privados, que têm assim um enorme poder para impor condições e preços ao SNS, já que este está sufocado com dívidas».

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Privados continuam a ficar com mais de 40% do orçamento da saúde

Os dados referentes a 2018 confirmam a tendência que se vem verificando desde 2015. O sector privado é o grande sorvedor do orçamento do SNS.

Créditos / Pixabay

Das verbas públicas que financiam os cuidados de saúde, perto de 41% vão para os privados. Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgados pelo Jornal de Negócios, são referentes a 2018. Todavia, não se desviam da análise feita pelo AbrilAbril, relativamente a 2017, na qual se confirmava que a fatia da despesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que tem ido parar às mãos dos privados, além de rondar os 40%, vinha subindo desde 2015. 

De acordo com a informação hoje publicada, são cerca de cinco milhões de euros que em 2018 foram para entidades privadas, sobretudo para a comparticipação de medicamentos e bens médicos nas farmácias e outros retalhistas, valor que compara, segundo os últimos dados disponíveis, com os quase 12 milhões e meio que foram transferidos pelas administrações públicas para a prestação de cuidados de saúde em 2018.

Os hospitais privados ficam com 22,5% das verbas do Estado, enquanto os consultórios e gabinetes médicos recebem quase 20%, sobrando 59% do financiamento público para o SNS. «Os hospitais públicos absorvem 78% destes 7308 milhões de euros, ficando outros 18% para os centros de saúde», lê-se no diário.

Além do dinheiro recebido directamente do SNS, os prestadores de cuidados de saúde privados recorrem à ADSE, Segurança Social e às deduções fiscais para se financiarem. Juntamente com o Estado, são as famílias e os seguros de saúde a financiá-los. Segundo o INE, as famílias financiaram 29,5% das despesas totais em saúde, no ano de 2018, valor que se mantém estável ao longo dos anos, enquanto os seguros privados suportaram 4,1% dos gastos correntes. 

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«Como é que o Governo pode dizer que está a dotar o SNS dos meios que ele necessita para defender a saúde dos portugueses, assegurar a recuperação económica do País e reduzir a dramática situação social, se obriga o SNS a este enorme endividamento para continuar a funcionar com as dificuldades que são conhecidas?», pergunta o economista.

Acresce a saída de muitos dos melhores profissionais do SNS para o sector privado, atraídos por melhores remunerações e melhores condições de trabalho, que está a criar graves problemas a muitos hospitais públicos, uma vez que o actual Governo adiou novamente a introdução da exclusividade com base numa carreira atraente e remunerações dignas para os profissionais de saúde.

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A verdade é que, para além de encontrar soluções para contratar e fixar profissionais de saúde no SNS, nomeadamente a dedicação exclusiva para médicos e enfermeiros, com carácter opcional, com uma majoração da sua remuneração base e a uma bonificação na contagem do tempo para a progressão na carreira, são também necessárias medidas que passem pela contratação de técnicos superiores de saúde e de diagnóstico e terapêutica, e técnicos auxiliares de saúde e administrativos, num processo em que as contratações devem ter vínculo permanente.

Entretanto, aprofunda-se a estratégia daqueles que tudo fazem para descredibilizar o SNS, aproveitando a falta de resposta do serviço público para justificar mais contratações ao privado, com a consequente perda de recursos do SNS e favorecendo os grandes grupos económicos que intervêm na área da saúde, que já hoje usufruem de uma fatia de quase 50% do Orçamento da Saúde.

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A ministra da Saúde, Marta Temido, apresentou hoje a demissão por entender que «deixou de ter condições» para exercer o cargo, demissão que foi aceite pelo primeiro-ministro, António Costa. A decisão surge numa altura em que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem estado sob os holofotes da comunicação social, sendo inegáveis as consequências do subfinanciamento crónico a que tem sido votado ao longo das últimas décadas.

Este foi, de resto, um dos aspectos a determinar o chumbo do Orçamento do Estado para 2022. Apesar de o PS ter feito campanha iludindo o eleitorado com o «reforço» da capacidade do SNS em 700 milhões de euros, o valor, como constatou a redacção do AbrilAbril, não chega sequer para cobrir a dívida.

É preciso reter os profissionais de saúde

O agravamento dos problemas e perda de eficácia do SNS, ao longo dos últimos meses, tornou a comunicação da ministra pouco surpreendente, também para os enfermeiros. A incapacidade de manter em funcionamento serviços fundamentais, como os de obstetrícia e serviços de urgência pediátrica, um pouco por todo o País, prende-se com a ausência de medidas por parte do Governo de reter os profissionais de saúde, sublinhou esta manhã Guadalupe Simões, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP/CGTP-IN), aos microfones da Observador

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Estatuto do SNS ameaça gestão pública

A CGTP-IN subscreve os pareceres de estruturas como o SEP e a FNAM sobre o projecto de decreto-lei que procede à aprovação do Estatuto do SNS, por colocar em causa o princípio da gestão pública. 

Os trabalhadores da saúde (da esquerda para a direita) Cristina Teixeira, Raquel Queirós, David Andrade e Idalina Ramos, posam em frente do mural onde se encontram representados, no Hospital de São João, no Porto, a 19 de Junho de 2020. O artista urbano VHILS – assinatura de Alexandre Farto – desenhou um mural com dez rostos de trabalhadores da saúde naquele hospital portuense, homenageando aqueles que, no Serviço Nacional de Saúde, estiveram na linha da frente do combate à pandemia do coronavírus
CréditosJosé Coelho / Agência Lusa

A central sindical diz mesmo que o diploma coloca «expressamente em causa» o princípio da gestão pública dos estabelecimentos e serviços do Serviço Nacional de Saúde (SNS), e subscreve os pareceres emitidos pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) e pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS), ambos afectos à CGTP-IN, bem como pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM).

No entender das estruturas, ao retirar o carácter supletivo aos sectores privado e social, colocando-os em pé de igualdade com os serviços públicos, o Estatuto do SNS abre caminho a novas privatizações neste domínio, colocando «expressamente em causa o princípio da gestão pública» dos estabelecimentos e serviços do SNS, conforme estabelecido na Lei de Bases da Saúde. 

A CGTP-IN regista, através de comunicado, que o documento procede à criação de uma direcção executiva do SNS, «cuja utilidade é duvidosa», desde logo pela susceptibilidade de entrar em conflito com entidades já existentes. Por outro lado, alerta que «pode servir de instrumento para a facilitação da privatização de serviços públicos de saúde».   

O facto de prosseguir o caminho da municipalização dos serviços de saúde, ameaçando «a sua unidade e coesão», e não abordar a questão das carreiras profissionais são outros aspectos criticados no documento. A central sindical refere a este respeito que o diploma não incentiva a fixação de profissionais no SNS. Ao mesmo tempo, sublinha, «promove a precariedade e a desigualdade» entre profissionais de saúde, não contribui para a melhoria das suas condições de trabalho e cria regimes de trabalho «ao arrepio do direito de negociação colectiva».

O projecto merece ainda críticas por «não valorizar devidamente» a área da Saúde Pública, não se prevendo alterações capazes de solucionar ou evitar situações como as ocorridas devido à crise pandémica. 

Os alertas contra a proposta de Estatuto do SNS já haviam soado em Novembro, com a deputada comunista Paula Santos a afirmar que o documento «não trava o caminho de desmantelamento do serviço público iniciado pelos partidos da política de direita, como contribui para o seu agravamento». 

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Para esta dirigente, mais do que a contratação de profissionais, um dos grandes desafios passa pela retenção de trabalhadores no SNS, e são várias as questões a concorrer para a sangria. Além das condições de trabalho e das questões salariais, a redução da formação e da investigação têm tornado menos aliciante construir carreira no serviço público.    

Mais do que definir o perfil do sucessor de Marta Temido, Guadalupe Simões entende que cabe ao Governo de António Costa ser claro e admitir perante os portugueses se pretende ou não defender e aprofundar o Serviço Nacional de Saúde. Neste sentido, recorda o estatuto do SNS recém-aprovado, que aponta para a privatização dos serviços de saúde, por oposição à Lei de Bases, da anterior legislatura, que coloca o serviço público no centro dos cuidados de saúde em Portugal. 

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Estes dados são revelados numa altura onde o SNS está debaixo de fogo dada as insuficiências crónicas criadas pela falta de financiamento que são acompanhadas de promessas do Governo com a utilização de fundos do PRR que corresponderiam a 15% do total que iria para administração central, mas tardam em chegar.

A realidade que é demonstrada também revela que a situação do SNS é opção política do PS, uma vez que na reação à demissão da ex-ministra da Saúde, António Costa disse que «A mudança de membros do Governo é uma mudança de personalidade, é uma mudança de energia, é uma mudança de estilo. São mudanças, mas não são mudanças de política. As políticas são do Governo», confirmando que não é uma questão de caras mas de política.

Face à noticia do subfinanciamente os partido já reagiram. Paula Santos do PCP diz que «O valor do investimento no Serviço Nacional de Saúde que é noticiado revela exatamente esta falta de política por parte do Governo e este caminho de não se investir. É inaceitável que na situação em que se encontra o SNS não exista a valorização dos seus profissionais e um reforço do investimento para aumentar a capacidade de resposta no Serviço Nacional de Saúde que é fundamental para garantir o direito à saúde para todos».

Já Pedro Filipe Soares do BE diz que «o Governo, em vez de agir para resolver os problemas de um setor tão fundamental como a saúde, continua a fazer promessas, propaganda, mas pouca ação.»

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A dívida da CP - como da generalidade das empresas públicas - tem origem:

- na desorçamentação (os Governos ordenam às empresas a execução de investimento público, sem garantir as verbas necessárias);

- no subfinanciamento (o apoio estatal ao défice da exploração comercial é sempre inferior ao necessário);

- no serviço da dívida gerada pelas duas anteriores razões (o investimento faz-se e as empresas funcionam, anos a fio, recorrendo à banca, em empréstimo onde o Estado aparece como avalista, mas onde se praticam juros e condições de usura em benefício da banca).

Na dívida da CP estão os comboios da CP e os comboios da Fertagus. Na dívida da CP está a repartição de receitas do passe social intermodal, sempre feita em prejuízo das empresas públicas. Na dívida da CP estão anos a fio de indemnizações compensatórias pagas abaixo do devido. Na dívida da CP está a especulação com as swaps. Na dívida da CP estão milhares de milhões de euros pagos em juros à banca privada, durante anos a fio. A dívida da CP foi criada! Artificialmente! Laboriosamente! A expressão «perdão da dívida» ilude as causas da dívida.

Durante alguns anos a dívida era escondida nas empresas públicas, como 'esperteza saloia' para 'enganar' a Comissão Europeia no cálculo do défice efectivo (como se os critérios que permitiam a esperteza não tivessem exactamente esse objectivo). Depois, foi incorporada à dívida pública e transformada progressivamente em dívida à Direcção-Geral do Tesouro e Finanças. Essencialmente, foi sempre um mecanismo de precarização das empresas públicas, e da CP, que nunca pôde operar com o quadro de financiamento público adequado ao serviço público que presta.

O saneamento financeiro da CP é uma necessidade e uma questão de justiça. Foi prometido e não foi realizado. E o governo PS anda à procura de desculpas para não o fazer. Uma vergonha. Mais uma.

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