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Estafetas das plataformas digitais agendam concentração em Almada

As empresas (Uber, Glovo, Bolt, entre outras) aumentaram o seu nível de facturação para cerca de 30%, «à custa daqueles que são a cara da empresa». Trabalhadores vão estar na Praça São João Batista, em Almada, às 10h, amanhã.

Concentração de estafetas das plataformas digitais, com o Sindicato de Hotelaria do Norte/CGTP-IN, no Porto, em Abril de 2022 
Créditos / Healthnews

O responsável pela Glovo em Portugal, Joaquín Vásquez, revelou que o volume de negócios da empresa ascendeu a 200 milhões de euros em 2022. A situação, no entanto, só se tem vindo a agravar para os trabalhadores que, literalmente, carregam o sucesso das plataformas digitais às costas.

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Estafetas: plataformas digitais escolhem continuar a exploração

O Sindicato de Hotelaria do Norte reuniu com cada uma das plataformas multinacionais: Uber, Glovo e Bolt. No entanto, «as empresas recusaram todas as propostas» e não assumiram qualquer compromisso.

CréditosTino Romano / Epa/Lusa

Para o Sindicato de Hotelaria do Norte (SHN/CGTP-IN), a situação parece evidente. Os estafetas ao serviço das empresas multinacionais são, na realidade, «trabalhadores por conta de outrem, pois cumprem ordens de direcção e fiscalização, têm um horário de trabalho pré-definido e usam instrumentos de trabalho das multinacionais».

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Uber e trabalho assalariado: o diabo está nos detalhes!

Desde o início que a estratégia da Uber se pautou sempre pelo ostensivo desprezo pelas leis dos países em que instala. A experiência em Portugal é sensivelmente a dos outros sítios.

Motoristas da Uber durante um protesto sindical contra a exploração desenfreada naquela empresa, no bairro de Queens, em Long Island, Nova Iorque, durante a greve internacional realizada em Londres, Nova Iorque e outras cidades dos EUA, a 8 de Maio de 2019
O modelo Uber assenta no falso trabalho independente: os motoristas são responsabilizados por tudo, mas ainda assim a sua liberdade é realmente nulaCréditosJeenah Moon / Bloomberg

A famigerada Uber – plataforma digital de táxis e serviços de entregas – anunciou recentemente que converteria em breve o vínculo dos seus condutores de táxi no Reino Unido em contratos de trabalho assalariado. Assim, 70 mil trabalhadores (porque os estafetas não estão considerados) ganham – pelo menos aparentemente – uma batalha que há vários se vem desenrolando em vários países.

Sublinho: aparentemente.

Porquê? Para compreendermos o que está em causa é fundamental um olhar sobre o quadro mais geral.

«O modelo Uber assenta no falso trabalho independente: os motoristas são responsabilizados por tudo, mas ainda assim a sua liberdade é realmente nula – não é exagero dizer que se assemelha ao modelo das praças de jorna, só que na sua versão digital»

Desde o início que a estratégia da Uber se pautou sempre pelo ostensivo desprezo pelas leis dos países em que instala. A experiência em Portugal é sensivelmente a dos outros sítios: a Uber decide que quer explorar um país, instala-se através do recrutamento de motoristas (leia-se gente que tem carta de condução e um veículo1), implanta-se até estar normalizada e verga os decisores políticos a aceitá-la como facto adquirido.

Se alguém já se esqueceu de como funciona, basta ver o que está a acontecer precisamente agora em Barcelona, onde – apesar de expulsa por mais do que uma vez – a Uber declarou publicamente que irá voltar a operar ao arrepio da lei.

No plano laboral as coisas não muito diferentes. O modelo Uber assenta no falso trabalho independente: os motoristas são responsabilizados por tudo, mas ainda assim a sua liberdade é realmente nula – não é exagero dizer que se assemelha ao modelo das praças de jorna, só que na sua versão digital2.

Este modelo de exploração brutal dos trabalhadores é, em grande medida, a alma mater da Uber. Não por acaso, ainda recentemente, por ocasião dum referendo no estado da Califórnia em torno do estatuto dos trabalhadores de plataformas, a Uber foi uma das principais contribuintes para os 200 milhões de dólares que financiaram a campanha em defesa da legalização do falso trabalho independente. Quem disse que a democracia não tem preço?!

Do lado de cá do Atlântico as coisas não são muito diferentes. Veja-se o relatório entregue à Comissão Europeia – A better deal – onde a Uber advoga que o trabalho «independente» deve ser protegido e alargado. Rebater as mistificações e cortinas de fundo dessas 33 páginas seria demasiado longo para este espaço, mas é irresistível repescar a delirante passagem em que se afirma que o trabalho independente foi decisivo para o combate à pandemia (p. 3). Apetece perguntar se a existência de uma entidade patronal tolheu algum médico, enfermeiro, técnico, trabalhador da limpeza, da distribuição, etc. etc.? A gargalhada tragicómica é inevitável!

Mas voltemos ao que interessa.

Dito tudo isto, como interpretar a decisão acima referida de - em total contraste com a estratégia da empresa - assalariar os motoristas no Reino Unido?

A primeira explicação, tão óbvia quanto verdadeira, é que pouco antes dessa decisão, o Supremo Tribunal britânico acabara de obrigar a Uber a passar alguns dos seus trabalhadores para o estatuto de assalariado. Seria uma questão de tempo até que isso acontecesse com o conjunto do contingente dos motoristas, e assim a Uber poupa-se aos custos (económicos e de imagem) de mega-processos nos tribunais (e na imprensa).

Mas é preciso olhar mais longe para perceber o que está realmente em causa.

«A Uber propõe-se pagar aos seus trabalhadores o salário mínimo e […] contabilizar como tempo de trabalho apenas os minutos que vão entre o motorista aceitar realizar uma corrida e deixar o cliente no destino final. Todo o resto do tempo passado na rua, ligado na aplicação, à espera de clientes: não»

É verdade que estão previstos subsídios de férias (pagos numa espécie de duodécimos) e que isso é um avanço. No entanto, o problema vem depois. A Uber propõe-se pagar aos seus trabalhadores o salário mínimo e – em ostensiva violação da decisão do tribunal – contabilizar como tempo de trabalho apenas os minutos que vão entre o motorista aceitar realizar uma corrida e deixar o cliente no destino final. Todo o resto do tempo passado na rua, ligado na aplicação, à espera de clientes: não.

A última peça da interpretação deste puzzle está aqui: segundo a própria Uber, no Reino Unido o valor mediano de rendimento líquido dos seus motoristas é de 11 libras por hora.

Ora, tudo fica igual: os motoristas continuam a ter de passar horas infindáveis à espera de clientes. Só o pagamento das corridas se altera: passa a ser de 8,96 libras/hora (já com subsídio de férias!). Ou seja, do que se trata é de uma forma encapotada de reduzir em 18% o rendimento líquido dos motoristas!

O tempo dirá em que sentido os acontecimentos se desenvolverão. No entanto, dada a existência do regime de «contratos de zero horas» no Reino Unido, a Uber poderá ter até arranjado forma de tirar os tribunais da equação. Mais grave ainda: se este cenário se confirmar, a Uber encontrará no (legítimo) descontentamento dos próprios trabalhadores a força social para exigir que – de novo – se faça uma legislação à medida das plataformas (como ainda recentemente ocorreu em Espanha, apesar de aqui o governo não ter cedido).

De tudo isto é preciso tirar ilações. Uma coisa parece-me certa: o caminho não é ceder às plataformas, mas antes olhar para a legislação laboral como um todo e, mais cedo que tarde, eliminar todas as formas que permitem ao patronato precarizar os trabalhadores. Esse é o caminho do progresso e do desenvolvimento!

  • 1. Em alguns casos – Colômbia, por exemplo – a Uber até «ajuda» os trabalhadores na aquisição de carros, facilitando-lhes créditos que são pagos a partir dos salários futuros dos motoristas. Tudo isto sem ser sequer legal operar no país.
  • 2. Para quem tenha dúvidas, sugiro a leitura deste texto. É sobre os estafetas da Uber Eats, mas em grande medida aplica-se também aos motoristas de táxi.
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Embora empresas como a Uber, Glovo e Bolt não tenham poder disciplinar sobre os trabalhadores, na prática isso apenas lhes permite exercer maior chantagem sobre os estafetas: «despedem estes trabalhadores violentamente, sem justa causa, retirando-lhes a licença, bloqueando-os quando estes não cumprem o horário» ou outros desmandos das empresas, caindo por terra o argumento de que liberalização do trabalho melhoraria a sua vida.

Recusando-se a discutir qualquer tipo de melhoria nas condições dos trabalhadores, foi preciso o sindicato exigir a intervenção do Ministério do Trabalho para forçar a mão das empresas e agendar reuniões com as multinacionais. 

No entanto, por muito que a Uber, Glovo e Bolt tenham sido obrigadas a participar nos encontros, o boicote à melhoria das condições de vida manteve-se: as reuniões terminaram sem um vislumbre de acordo. Entraram em silêncio e saíram calados, lamenta o SHN, «todas as empresas recusaram as propostas sindicais e não apresentaram quaisquer contrapropostas».

Caderno reivindicato dos estafetas merece o mínimo de respeito por parte das empresas multimilionárias

As contas estão feitas: um trabalhador da Uber, Glovo e Bolt que trabalhe, numa semana, 72,5 horas, faz 112 entregas, recebe 405 euros e tem de pagar ao intermediário 10%, recebendo, por este trabalho, 364,95 euros. Num mês serão 1 459,80 euros (com este valor, o trabalhador tem de pagar toda a gasolina, o aluguer da conta, a compra da mochila, motorizada, capacete, etc...).

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CGTP promove reunião de estafetas das plataformas digitais

A convocatória, escrita em português e inglês, apela à participação de todos os estafetas de entregas das plataformas digitais na reunião de 15 de Março, às 16h, na Casa Sindical de Lisboa.

CréditosJose Jacome / Epa/Lusa

Em conjunto com a Interjovem, o Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos de Portugal (STRUP/CGTP-IN) e a  Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans/CGTP-IN) realizam mais uma reunião de estafetas das plataformas digitais.

Em conversa com o José Pedro Faya, estudante e estafeta de plataformas digitais, Tiago Vieira, sociólogo, e Andrea Araújo, dirigente da comissão executiva da CGTP-IN, o Megafone, podcast do AbrilAbril, debruçou-se sobre o fenómeno da uberização da economia e de como este contribuiu para acentuar a exploração nas relações laborais e o aumento da precarização em toda a economia.

Já podes ouvir nestas plataformas. Segue-nos!

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Na sessão serão discutidos os muitos problemas com que estes trabalhadores se confrontam no exercício da sua profissão: o risco de acidentes e lesões graves, a desregulação horária, a pressão patronal, entre outros. 

A realizar no próximo dia 15 de Março, às 16h, na Casa Sindical de Lisboa (Av. Álvares Cabral, 19), este encontro entre sindicatos e trabalhadores procurará também definir iniciativas que combatam esta brutal forma de precariedade e melhorem as condições laborais destes tabalhadores.

Uma greve de estafetas das plataformas GlovoUber Eats decorreu ontem, no Porto, entre as 19h e as 24h, bloqueando o serviço de entregas ao domícilio na cidade. Os trabalhadores exigiam o incremento do valor pago por quilómetro, de forma a que este acompanhe o especulatório aumento do preço dos combustíveis.

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Um qualquer outro trabalhador com as mesmas funções, fora das plataformas digitais (e, por isso, abrangido pela contratação coletiva), trabalha o mesmo número de horas, faz o mesmo número de entregas, mas recebe, mensalmente, 2 441,20 euros, com «direito a férias pagas, subsídio de férias, subsídio de Natal, seguro de acidentes de trabalho, subsídio de desemprego, reforma, etc...».

Os estafetas das plataformas digitais e o SHN, sem prejuízo de continuar a defender a integração total dos trabalhadores nos quadros, exigem o aumento substancial dos bónus por cada entrega e a instituição de outros acrescentos por más condições climatéricas ou por serem obrigados a esperar muito tempo pelas refeições.

Isto para além da criação de um «seguro de acidentes de trabalho e complemento de doença; a instituição de um salário mínimo garantido de 800 euros; apoios à aquisição dos veículos e à sua reparação; férias pagas e um subsídio de natal no valor proporcional ao do ano trabalhado».

Exploração patrocinada pelo Governo PS

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Manifestação Nacional da CGTP-IN: «Tudo sobe, menos o nosso salário»

Milhares de trabalhadores denunciaram hoje, frente à Assembleia da República, a especulação em torno dos aumentos do custo de vida. Só a exploração explica salários tão baixos, considera a CGTP-IN.

Manifestação Nacional da CGTP-IN: Pelo aumento dos salários e pensões/Contra o aumento do custo de vida e ataque aos direitos. Lisboa, 7 de Julho de 2022 
CréditosPaulo António / AbrilAbril

Em frente aos milhares de trabalhadores que desfilaram até à  Assembleia da República, acorrendo à convocatória da central sindical, Isabel Camarinha, secretária-geral da CGTP-IN, defendeu que a actualidade tem demonstrado que «os direitos, a reposição e conquista de direitos, não são inimigos do crescimento, pelo contrário, são uma alavanca. E não fosse o carácter limitado desse processo de recuperação e conquista de direitos e salários, maior seria o crescimento e desenvolvimento de Portugal».

 José Carlos Pratas

Manifestação Nacional da CGTP-IN, 7 de Julho, Lisboa

Sete rios de multidão desfilaram até à Assembleia da República, por convocatória da CGTP-IN, exigindo o aumento dos salários como medida indispensável para travar a especulação inflacionista.

 José Carlos Pratas.
Créditos
 José Carlos Pratas
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Créditos José Carlos Pratas
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CréditosJosé Carlos Pratas
CréditosJosé Carlos Pratas
CréditosJosé Carlos Pratas
CréditosJosé Carlos Pratas
CréditosJosé Carlos Pratas

Enquanto se realizava a manifestação, a Assembleia da República discutia a interpelação do PCP, que chegou a estar agendada para o dia de ontem, mas devido à discussão da moção de censura foi reagendada para esta quinta-feira. Uma interpelação centrada nas soluções para a defesa do poder de compra e das condições de vida dos trabalhadores e das populações, nomeadamente contra a subida do custo de vida e pelo aumento dos salários e pensões.

Uma legislação laboral mais ao jeito do patrão

Quanto ao projecto do Governo, segundo o qual o PS entende promover «relações de trabalho mais sustentáveis», embora não revogue a caducidade da contratação colectiva, medida imposta pela Troika, nem reponha os regimes de compensação e indemnização por despedimento, é clara a oposição dos trabalhadores.

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Isabel Camarinha: «Enquanto não houver respostas, a luta vai continuar»

À conversa com o AbrilAbril, a secretária-geral da CGTP-IN faz o retrato dos problemas que os trabalhadores enfrentam e das vitórias que já foi possível alcançar. As acções de luta realizadas ao longo do último mês convergem numa manifestação nacional, esta quinta-feira, em Lisboa. 

CréditosEstela Silva / Agência Lusa

A manifestação de amanhã faz convergir as lutas travadas pela CGTP-IN desde a aprovação do Orçamento do Estado (OE) para 2022. Desde então, e como fomos percebendo pela sua agenda, esteve presente em várias iniciativas, de Norte a Sul. Que balanço faz desta acção e que sentimento recolheu junto dos trabalhadores?

Há, de facto, um descontentamento muito profundo que já vinha de trás – não vale a pena estarmos aqui a fazer a história de todos os problemas que temos e que os trabalhadores sentem na degradação das suas condições de vida e de trabalho –, mas o momento que estamos a viver e a falta de soluções está a provocar grande descontentamento nos trabalhadores e a exigência de resposta às suas reivindicações, nomeadamente a questão dos salários. Com este aumento brutal do custo de vida, o aumento dos salários é a questão fundamental, embora haja um conjunto de condições de trabalho e de direitos que estão também a ser atacados, contribuindo assim para o desenvolvimento da luta e para a unidade dos trabalhadores. Iniciámos, de facto, esta acção de luta nacional no dia 27 de Maio, com aquela grande concentração na Assembleia da República, por ocasião da votação do OE, em que colocávamos já toda esta problemática mais geral e a necessidade de resposta, quer do patronato, quer do Governo, à situação de agravamento e acentuar das desigualdades e da pobreza de quem trabalha e trabalhou, porque os reformados e pensionistas também estão a viver momentos de enormíssimas dificuldades. E o que verificámos foi que, com esta nossa acção de luta nacional, houve um desenvolvimento de processos reivindicativos nas empresas, nos locais de trabalho, nos serviços de grande dimensão, com muitas greves, muitas paralisações, centenas de plenários por todo o País. Há acções concretas também à porta de empresas, serviços e associações patronais, a exigir precisamente que haja o desbloqueio da negociação colectiva, que se responda a esta necessidade de repor e melhorar o poder de compra dos trabalhadores e das suas famílias, com uma consciência muito grande de que esse é o caminho para desenvolver o País, porque se continuarmos com este modelo, o que vamos ter é mais dificuldades e assistir a um retrocesso. O que sinto desta minha intervenção, em muitos locais de trabalho em todo o País e em todos os sectores, é exactamente isto: a determinação e unidade dos trabalhadores.

Houve boa adesão? 

As greves que realizámos foram greves com muito grandes adesões dos trabalhadores, incluindo os trabalhadores jovens e, naturalmente, nos sectores com muita mão-de-obra feminina, muitas mulheres. Os jovens, e para muitos esta foi a primeira participação numa acção de luta, estão agora a entender que para conseguir respostas é preciso unir, é preciso intervir, organizar e lutar. Este mês de Junho foi muito cheio desta luta dos trabalhadores nas empresas e locais de trabalho, com esta ideia de agora fazer convergir todo este descontentamento e reivindicação na manifestação nacional de 7 de Julho, com concentração no Marquês de Pombal (Lisboa) e desfile para a Assembleia da República.

O dia coincide com a discussão na generalidade da Agenda para o Trabalho Digno, que a CGTP-IN não acompanha.

É uma proposta que não vai ao encontro das reivindicações dos trabalhadores, e que a CGTP-IN tem colocado, da necessidade de resolver um conjunto de problemas que a actual lei, de uma maneira geral, coloca aos trabalhadores, desequilibrando ainda mais as relações de trabalho a favor do patronato. Estou a falar da caducidade das convenções colectivas, que se mantém intacta [no documento da Agenda], ali com uma alteraçãozinha que abre portas ao reforço dos poderes de um tribunal arbitral, de uma arbitragem que possa decidir, em última análise, o destino da convenção colectiva. Ora, isto não desbloqueia a contratação colectiva, não resolve o problema da desvalorização enorme das carreiras e das profissões, que tem a ver com este bloqueio da contratação colectiva. Porque a verdade é que, não havendo revisão dos contratos colectivos de trabalho, não havendo actualização das tabelas salariais, o que acontece é a compressão dessas tabelas, fazendo com que trabalhadores com funções qualificadas, com categorias profissionais mais diferenciadas, com muitos anos de trabalho e experiência adquirida estejam a receber neste momento pouco mais do que o salário mínimo nacional ou o próprio salário mínimo. Isto é completamente inadmissível e contraria a propaganda do Governo, de que quer atrair, quer melhorar o salário médio.  Diz querer atrair e fixar os trabalhadores, mas nem em relação à Administração Pública o faz: com os 0,9% que manteve no Orçamento do Estado, nem nas empresas públicas, onde o Governo está a aplicar exactamente os mesmos 0,9%, que não são aumento, são uma actualização pequenina de salários, dando também assim sinal para o sector privado. E a verdade é que nem se desbloqueia a contratação colectiva, nem se dá sinal naquilo que ao Governo compete, que são as condições de trabalho e salariais na Administração Pública e nas empresas públicas, onde também não há verdadeira melhoria das condições dos trabalhadores.

«(...) não havendo revisão dos contratos colectivos de trabalho, não havendo actualização das tabelas salariais, o que acontece é a compressão dessas tabelas, fazendo com que trabalhadores com funções qualificadas, com categorias profissionais mais diferenciadas, com muitos anos de trabalho e experiência adquirida estejam a receber neste momento pouco mais do que o salário mínimo nacional ou o próprio salário mínimo.»

Portanto, o que temos aqui é uma proposta de lei que, deste ponto de vista, também não repõe o princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador, mantendo uma chantagem patronal e um aproveitamento da condição que o trabalhador tem como parte mais frágil na relação de trabalho, em que lhe podem ser impostas condições abaixo da própria lei ou do contrato colectivo, o que é absolutamente inaceitável. Mas também não resolve os problemas da precariedade e da desregulação dos horários de trabalho, mantendo tudo exactamente na mesma. Não atende à necessidade da redução do horário de trabalho para fazer com que, tudo o que são avanços da ciência, da técnica, da automação e dos processos produtivos tenham consequências positivas na vida das pessoas, dos trabalhadores e das famílias, permitindo maior conciliação da vida profissional com a vida pessoal, mais tempo para a família, o desporto, a cultura, o lazer, para que os trabalhadores tenham vida para além do trabalho.

Os horários mantêm-se longos e desregulados.

Sim, não só não reduz, como mantém toda uma desregulação que inferniza a vida dos trabalhadores com trabalho por turnos, horário nocturno, laboração contínua, bancos de horas e adaptabilidades, que são impostas aos trabalhadores em empresas que não têm qualquer necessidade. E era uma das questões que colocávamos, por exemplo em relação à laboração contínua, horário nocturno e por turnos, a lei poder definir exactamente quem é que pode requerer este tipo de horário de funcionamento, restringindo àquelas empresas e serviços que de facto precisam de utilizar esse tipo de horários. Não foi isso que aconteceu, e manteve-se também a redução de valores no pagamento do trabalho extraordinário, a não reposição dos descansos compensatórios, ou seja, o embaratecimento e a facilitação dos despedimentos introduzida, quer esta, quer a do trabalho extraordinário, pelo governo do PSD e do CDS-PP. Bem pode vir agora o PSD dizer que está muito preocupado com os baixos salários dos trabalhadores, mas nós não esquecemos o que foi a política nos vários governos em que o PSD esteve, nomeadamente o último, com a troika e toda aquela política que causou o empobrecimento generalizado e a destruição de sectores da nossa economia, da nossa indústria, privatizações, etc., tal como os governos do PS também têm feito. 

A verdade é que esta proposta de lei, que está em discussão pública, não resolve os problemas de fundo. Tem ali uns paliativozitos na precariedade, muito em torno da externalização de serviços, das plataformas digitais, colocando ali alguns direitos aos trabalhadores, mas não resolve o problema de fundo da precariedade porque não define com clareza que a um posto de trabalho permanente tem que corresponder um vínculo de trabalho efectivo. E mantém a possibilidade de contratação a termo certo com vários fundamentos que não são credíveis, mantendo esta situação que temos, perfeitamente inadmissível, de sermos, na União Europeia, um dos países que têm maior nível de precariedade, com todas as consequências que isso tem ao nível dos salários dos trabalhadores, na ausência de cumprimento de direitos e na instabilidade que isso traz para a vida, nomeadamente dos jovens, a tal geração mais qualificada de sempre, que vai com as suas qualificações de mala aviada para o estrangeiro, porque aqui não consegue encontrar forma de viver e de trabalhar. Até porque os custos da habitação são o que são, e agora com esta subida das taxas de juro vai ser ainda  mais difícil para qualquer jovem, que queira tornar-se independente, arranjar casa... nem comprada, nem alugada. 

«E mantém a possibilidade de contratação a termo certo com vários fundamentos que não são credíveis, mantendo esta situação que temos, perfeitamente inadmissível, de sermos, na União Europeia, um dos países que têm maior nível de precariedade (...)»

Os trabalhadores têm todos os motivos para lutar, trazendo para a rua as suas reivindicações concretas. Ao contrário do que tentam fazer crer, a CGTP-IN e os seus sindicatos nunca deixaram de mobilizar e organizar os seus trabalhadores para lutarem pela resposta às suas reivindicações, em nenhuma situação. E agora, com a situação muito difícil que os trabalhadores estão a viver, observamos resultados positivos ao longo deste ano, como aumentos salariais em muitas empresas, negociação de contratos colectivos de trabalho com algumas associações patronais, redução do horário de trabalho, passagem a efectivos de trabalhadores com vínculos precários, melhoria das condições de trabalho e de matérias pecuniárias, como o subsídio de alimentação, e outros a que os trabalhadores têm direito. E a verdade é que temos tido esses resultados, fruto da luta dos trabalhadores, e tem sido muita a luta realizada.

Como analisa a actuação do Governo, que não quis ir além de 0,9% de actualização dos salários da Administração Pública e faz campanha com os salarios médios, apontando 20% de aumento em cinco anos, com base em mais benefícios fiscais para as empresas?

No fundo, o PS está a mostrar a sua verdadeira cara. Porque, durante alguns anos, não tendo maioria e vindo de um período que deixou marcas muito grandes nos trabalhadores e no povo, que foi o período do governo do PSD e do CDS-PP e da intervenção da troika, foi obrigado a negociar algumas coisas com os partidos à esquerda, mas a verdade é que as suas opções foram sempre as mesmas. É um Governo e um partido submissos às imposições da União Europeia, que agora nos fez um ralhete no relatório do Semestre [Europeu], a dizer que Portugal tem que ter cuidado com as políticas públicas e com os aumentos dos salários na função pública e com o aumento das pensões, mais uma vez, querendo manter Portugal como um país periférico, em que as grandes potências é que controlam e dominam a produção de mais valor, é que determinam as regras que, fruto de termos governos submissos, vamos seguindo.

«E agora, com a situação muito difícil que os trabalhadores estão a viver, observamos resultados positivos ao longo deste ano, como aumentos salariais em muitas empresas, negociação de contratos colectivos de trabalho com algumas associações patronais, redução do horário de trabalho, passagem a efectivos de trabalhadores com vínculos precários, melhoria das condições de trabalho e de matérias pecuniárias, como o subsídio de alimentação, e outros a que os trabalhadores têm direito.»

Há estas opções do PS, mas há também as opções do PS, mesmo enquanto governo minoritário, de se encostar à direita em matérias estruturantes para os trabalhadores, para as relações de trabalho e para a melhoria das condições de trabalho, como aconteceu em várias propostas que foram à Assembleia da República, de alteração da legislação laboral, que revogavam a norma da caducidade, que repunham valores do trabalho extraordinário e descanso compensatórios, que repunham valores das indemnizações por despedimento, que acabavam com a precariedade, como a temos no nosso país, colocando ali regras que não permitissem que a um posto de trabalho permanente não correspondesse um vínculo efectivo. 

Nessas matérias, o PS não só nunca apresentou propostas, como votou contra as que outros partidos levaram à Assembleia da República. 

Exacto. E não é propriamente uma surpresa que a agenda que o Governo tanto propagandeou tenha resultado nesta proposta que está em discussão pública, e que não resolve os problemas de fundo que os trabalhadores sentem nos seus direitos e no exercício da contratação colectiva, nos contratos de trabalho, nos salários, etc. Aliás, ainda veio agravá-los. Há bocado não referi uma matéria que para nós é fundamental, que é o exercício da liberdade sindical na empresa e que o Governo se tinha comprometido a clarificar, tendo em conta haver um ataque generalizado do patronato a este direito dos sindicatos, tentando impedir a sua entrada nas empresas quando não haja organização sindical. Em vez de clarificar esta situação, o Governo veio piorá-la, porque coloca na lei limitações e constrangimentos que esta não tinha, veio portanto agravar a tentativa de impedir o exercício da actividade sindical na empresa, que nós não vamos aceitar, naturalmente. Vamos continuar a realizá-la, se preciso à porta, mas a realidade é que o Governo não cumpriu um compromisso que tinha assumido até com a própria CGTP-IN, em várias reuniões, em que nos disse que ia clarificar na lei esta situação e garantir o exercício da actividade sindical. 

Portanto, há este comportamento do Governo, que no fundo são as opções que o PS colocou no seu programa, que nós rejeitámos, e que vamos continuar a esclarecer, informar e mobilizar os trabalhadores no sentido de se unirem e lutarem pela resposta às reivindicações concretas, mas também a estas questões nacionais, de precisarmos de alterar o nosso modelo produtivo, de aumentar a produção nacional, mas produção de valor, e não com as sobras que nos deixam as grandes potências da UE, de haver investimento público que garanta o desenvolvimento da nossa economia, no sentido de aproveitarmos os nossos recursos, e também de aproveitarmos os nossos recursos do ponto de vista do mercado de trabalho.

Os nossos trabalhadores têm qualificações, têm experiência adquirida, é preciso que haja emprego digno e compensação por essa qualificação e experiência. Os salários são miseráveis. Temos 11,2% dos trabalhadores que são pobres e mais de 70% dos trabalhadores no nosso país com salários abaixo dos 1000 euros. Eu falo com representantes de organizações de outros países, que ficam de boca aberta quando falamos destes números, não acreditam que trabalhadores com competências, qualificações, estejam a ganhar acima do salário mínimo nacional, mas abaixo dos 1000 euros. É uma realidade inadmissível e não é com assistencialismo, que é a política deste governo, que se resolvem os problemas.

«Os nossos trabalhadores têm qualificações, têm experiência adquirida, é preciso que haja emprego digno e compensação por essa qualificação e experiência.»

É isso, de resto, que os partidos da direita pretendem. Aliás, o discurso do novo líder do PSD foi muito nesse sentido; mais assistencialismo, menos Serviço Nacional de Saúde (SNS) e mais «sistema» nacional de saúde, dirigindo uma eventual resposta no sentido contrário àquele que devia ser, que era de garantir que o Estado tem os meios e investe nos serviços públicos e nas funções sociais de forma a garantir a necessária resposta às populações. Mas não é isso acontece. Veja-se o SNS, mas podíamos falar da Escola Pública, da protecção social, que deixa de fora mais de metade dos desempregados que não têm direito a subsídio de desemprego. Devia haver um aumento da protecção social a quem dela verdadeiramete necessita, mas o que vemos é opções ao contrário. Reduzir impostos, mas não é impostos do trabalho, é impostos às empresas, e quem é que beneficia disso e sempre beneficiou?

Tal como das medidas, quer agora, com a guerra na Ucrânia e as sanções, quer relativamente à pandemia, o que vimos foi que a esmagadora maioria das pequenas e médias empresas ficou de fora dos apoios, e quem beneficiou foram, mais uma vez, os grandes grupos económicos, que continuam a aumentar os seus lucros, como vemos agora com o aumento dos preços da energia e dos combustíveis, como a EDP, a GALP, entre outras, que aumentam substancialmente os seus lucros, sendo que isso depois não tem consequência para os salários dos trabalhadores e o Governo mantém esta situação em que a pobreza, nomeadamente de quem trabalha e trabalhou, continua a aumentar no nosso país. 

Como se acaba com este flagelo?

A verdadeira medida que podia alterar isto é o aumento dos salários. Nós temos colocado as nossas reivindicações gerais de 90 euros para todos os trabalhadores, aumento extraordinário para os que tiveram actualizações já absorvidas pela inflação, aumento do salário mínimo nacional para 850 euros no curto prazo, mas ser de 800 euros a 1 de Julho, para dar resposta a este momento em concreto, e aumento das reformas e pensões, em pelo menos 20 euros, mas de forma a garantir a reposição do poder de compra. Ora, nada disto são opções, nem do Governo, nem do PS, nem do patronato, que o que quer é aumentar a exploração à custa dos sacrifícios dos portugueses. Isto é completamente inaceitável, e nós continuaremos a nossa luta e a mobilizar os trabalhadores para que exijam as efectivas respostas e soluções que eles e o País precisam.

11,2%

Há 11,2% dos trabalhadores na pobreza e mais de 70% com salários abaixo dos 1000 euros. 

Até porque o nosso tecido empresarial é constituído maioritariamente por micro, pequenas e médias empresas que vivem do mercado interno. É uma coisa básica, se a maioria da população não tem poder de compra, como é que as empresas se desenvolvem e se mantêm? Não conseguem, porque é o aumento dos salários e das pensões que vai aumentar o poder de compra no nosso país. É incrementando o mercado interno que se promove o desenvolvimento da produção nacional, porque é preciso produzir mais, escoam-se mais produtos, vende-se mais e naturalmente que a economia também se desenvolve. 

Entretanto, o patronato escuda-se no argumento da produtividade para não responder à emergência dos salários.

O que nós afirmamos, suportados em dados concretos, em estatísticas e informação, inclusive de organismos oficiais, é que a riqueza que produzimos no nosso país é suficiente para que haja salários dignos para todos os trabalhadores. Da esquerda à direita, toda a gente concorda que os salários são baixos no nosso país, mas depois o patronato e o PS, e os partidos de direita e extrema-direita, vêm com o argumento de que, «é verdade, os salários são baixos, mas a produtividade também é baixa, portanto precisamos primeiro de aumentar a produtividade», e o PS acena com uma tal «espiral inflacionista» se os salários aumentarem, remetendo para depois o eventual aumento que propagandeiam do salário médio. Em primeiro lugar, o que é preciso é que haja dignidade e condições de vida e de trabalho no nosso país. Há que garantir que os trabalhadores, reformados e pensionistas têm essas condições. Por outro lado, e, segundo números do próprio Governo, o crescimento da produtividade no nosso país não foi acompanhado pelo aumento dos salários, as linhas da produtividade e do aumento real dos salários têm 5% de diferença, portanto há aqui um desfasamento logo à cabeça. Mas a verdade é que, o que faz com que a produtividade aumente é o aumento dos salários e condições de trabalho dignas, e isso também está provado.

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Patrões vão continuar a ter trabalho de borla

Projectos para acabar com a imposição do trabalho não remunerado, seja através dos bancos de horas ou das intermitências dos horários, foram chumbados hoje pelo PS e pelos partidos à sua direita.

CréditosNuno Fox / Agência Lusa

Em pleno século XXI, e não obstante as conquistas civilizacionais alcançadas com a Revolução de Abril, os trabalhadores voltam a enfrentar longas jornadas de trabalho no nosso país, sem tempo para viver e com consequências a vários níveis, nomeadamente familiares e de saúde. A ideia foi vincada esta quinta-feira no Parlamento, no debate de iniciativas do PCP, do BE e do PAN. 

Em 2009, o banco de horas estava enquadrado pela contratação colectiva. Com o governo do PSD e do CDS-PP impôs-se a desvalorização do trabalho e o banco de horas passou a ser possível por contrato de trabalho individual, tendo sido também introduzido o banco de horas grupal. Medidas que, na prática, permitiram aos empregadores a imposição de trabalho extraordinário sem a devida compensação, ou seja, trabalho mais barato. 

Entretanto, em 2019, o banco de horas individual foi revogado. Não obstante, a IL, advogando que o pagamento de horas extraordinárias pode «aumentar de forma relevante a carga salarial da empresa», e «alterar as condições de viabilidade da mesma», propôs o seu restabelecimento.

O projecto foi acompanhado pelo CDS-PP, que votou a favor, e mereceu, curiosamente, a abstenção do PAN, que também tinha a votação um projecto de lei (não passou) com vista a garantir «a conciliação do trabalho com a vida familiar e uma maior estabilidade profissional», tendo sido rejeitado pelos restantes partidos na Assembleia da República. 

Crianças privadas de direitos

Ontem, na abertura da discussão, a deputada comunista Diana Ferreira deu conta da impunidade trazida pelos mecanismos de adaptabilidade e de bancos de horas, e do impacto que os mesmos acarretam na vida dos trabalhadores, nomeadamente o frágil acompanhamento dos seus filhos. 

«Na Fnac, o banco de horas pode afastar os trabalhadores 12 horas da família», exemplificou a deputada, concluindo que a empresa «não precisa de contratar mais trabalhadores, não paga horas extraordinárias e ainda fica com 150 horas da vida dos trabalhadores para utilizar a seu bel-prazer». 

Se, por um lado, o banco de horas «não paga contas ao fim do mês», «nem põe comida na mesa», como realçou Diana Ferreira, a sua revogação, bem como a dos mecanismos de adaptabilidade, «é fundamental para um cumprimento efectivo dos horários de trabalho e para garantir uma articulação entre o trabalho e a vida pessoal e familiar», reforçou, salientando que horários de 12, 14 ou 16 horas diárias privam as crianças do direito de serem acompanhadas pelos pais.

Por outro lado, sublinhou que, «se há horas extraordinárias que são continuadas e muitas vezes diárias na vida dos trabalhadores, elas não são extraordinárias, são necessidades permanentes», tendo que haver «contratação de mais trabalhadores para aquela empresa».

Pelo BE, o deputado José Soeiro vincou que 75% dos trabalhadores por conta de outrem trabalham com uma modalidade flexível de horário laboral, sublinhando que o banco de horas foi, neste contexto, «um mecanismo de desregulação dos horários e de embaratecimento do valor do traballho». Trazendo uma «dificuldade acrescida» de conciliar trabalho, família e lazer, e, ao mesmo tempo, uma redução da autonomia dos trabalhadores. 

Tanto os projectos de lei do PCP, pela revogação dos mecanismos de adaptabilidade e de banco de horas, e dos mecanismos de adaptabilidade individual, como o do BE, com vista à eliminação do banco de horas grupal e da adaptabilidade individual e grupal, foram chumbados pelo PS e pelos partidos à direita (CH absteve-se na revogação dos mecanismos de adaptabilidade), com a abstenção do PAN. 

Alterações «devem passar pela concertação»

O sentido de voto do PSD percebeu-se pela intervenção da deputada Lina Lopes, que ontem afirmou que «não podemos estar constantemente a revogar ou a modificar leis laborais, sem dar espaço à estabilidade e à contenção do processo legislativo», e que o País «precisa de gerar confiança». 

Embora reconhecendo que «foram detectadas fragilidades», tanto no teletrabalho como na conciliação entre a vida pessoal e profissional, Lina Lopes apelou à «paz social» e remeteu as alterações ao Código do Trabalho para a concertação social, que classificou de «pedra angular».

A resolução destas matérias através de novo acordo com os patrões na concertação social foi igualmente defendida pela bancada do CDS-PP, que, pela voz do deputado João Almeida, assume que «não faz sentido eliminar o banco de horas», nos termos em que está previsto na lei, e que o PS se orgulha de ter criado. «Sentido», para o CDS-PP, fazia «repor o banco de horas individual».

Para Lina Lopes, «este é o tempo de debater o Orçamento do Estado», onde, de acordo com a proposta do Governo, faltam medidas de valorização do trabalho e dos trabalhadores.

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Trabalhadores com redução de horário, que tenham uma vida familiar, pessoal estabilizada, que tenham tempo também para se ocuparem com as outras coisas que a vida nos proporciona, trabalhadores que tenham a garantia de que podem acompanhar os filhos, que tenham tempo para estar com os filhos e ritmos de trabalho que não levem à exaustão, que é o que temos no nosso país: trabalhadores com ritmos de trabalho brutais. Para além do horário longo, desregulado, e muitas vezes acima do definido, com as adaptabilidades, os bancos de horas, as horas extraordinárias mal pagas, etc., com consequências enormes para a saúde dos trabalhadores.

Ora, um trabalhador doente não é naturalmente um trabalhador que possa produzir em pleno. Portanto, há aqui também, por parte do patronato, a negação de uma realidade objectiva: condições de trabalho dignas e salários dignos proporcionam mais produtividade. Temos necessidade de alterar o modelo que temos no nosso país e que, não só prejudica os trabalhadores e as suas famílias, degradando as suas condições de vida e de trabalho, como compromete o desenvolvimento da nossa economia e das empresas. No fundo, são opções que levam a andarmos para trás, em vez de avançarmos, que é o que deveríamos fazer, tendo em conta a evolução da nossa sociedade. 

O que se perspectiva, do ponto de vista da acção da CGTP-IN, depois da manifestação nacional desta quinta-feira? 

Este mês de Junho, que teve centenas de plenários de trabalhadores e um conjunto de processos significativos de luta, vai ter continuidade em Julho e Agosto. Porque, de facto, enquanto não houver resposta às reivindicações dos trabalhadores e a esta degradação das condições de vida e de trabalho, a luta vai ter que continuar e é isso que vamos continuar a fazer. Serão meses muito intensos porque o aumento do custo de vida, pelos vistos, não vai de férias, as dificuldades dos trabalhadores também não vão de férias, portanto, os trabalhadores vão ter necessidade de continuar a lutar e de exigir respostas às suas reivindicações.

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A uma só voz, milhares de trabalhadores rejeitaram o «aprofundamento deste modelo, que tira ao trabalho para dar ao capital, que agrava as desigualdades, que amarra o país às opções políticas da maioria PS e dos partidos da política de direita, da União Europeia e dos interesses instalados dos mais ricos e poderosos».

«A riqueza criada no nosso país permite outra distribuição, já! Não é o nível de riqueza produzida que justifica os baixos salários e pensões, é a exploração», reforçou Isabel Camarinha.

Para dar resposta aos aumentos do custo de vida, a CGTP-IN defende o aumento geral dos salários em 90 euros, a fixação do Sarlário Mínimo Nacional nos 800 euros, no imediato, e nos 850 o mais rapidamente possível, assim como a regulamentação e imposição de limites aos aumentos especulativos verificados nos preços de muitos produtos.

Mil razões desfilaram até ao Parlamento

«Por mais poderosa que seja a campanha de manipulação, a realidade vivida por quem trabalha, e trabalhou, acaba sempre por se sobrepor», afirmou, esta tarde, Isabel Camarinha.

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Bosch acusada de chantagear trabalhadores e fomentar precariedade

A denúncia surgiu esta segunda-feira, através da deputada do PCP Carla Cruz, à margem de um encontro com a comissão de trabalhadores da Bosch de Braga. Outras questões como a precariedade foram mencionadas.

Créditos / Wikimedia Commons

As acusações surgiram ontem, à margem de um encontro da deputada Carla Cruz, eleita do PCP na Assembleia da República por Braga, com a comissão de trabalhadores da unidade da Bosch nessa cidade.

Em declarações à agência Lusa, citadas por O Minho, a deputada comunista denunciou a existência de formas de pressão pela empresa sobre cerca de 100 trabalhadores para que mudem de turno, em forma de «chantagens», além de recorrer a vínculos precários para preencher postos de trabalho efetivos.

«O que nos foi dito é que há um número expressivo de trabalhadores que agora estão a ser contratados por via de uma empresa de trabalho temporário, não são efectivos da Bosch, ou seja, a empresa está a recorrer a trabalho precário e temporário para preencher postos de efectivo», denunciou Carla Cruz.

Sobre a mudança de turno, a deputada explicou que «um dos objetivos [da reunião] era perceber como decorre a implementação do fim do 3.º turno, que funciona das 23h às 06h, e aquela que tem sido a chantagem da empresa para que passem para o 4.º e 5.º turnos». Os turnos em questão passam pelo trabalho em todos os fins-de-semana e com uma rotatividade muito penosa.

Uma situação que já motivou um protesto dos trabalhadores no centro de Braga, realizado a 16 de Abril, contra as pressões da Bosch e as consequências dos turnos, tanto do ponto de vista familiar como de saúde, além de afirmarem que a empresa tem «condições para encontrar outras soluções que não passam por aí».

Fim do contrato colectivo fragilizou novos trabalhadores

A deputada adiantou ainda que, apesar do salário base na Bosch ser superior ao mínimo nacional, existem diversas discriminações entre trabalhadores, em detrimento dos mais recentes. Uma situação derivada da caducidade da contratação colectiva e que beneficiou a empresa.

«O fim da contratação coletiva permitiu que apenas os de maior antiguidade tenham maior majoração pelo trabalho nocturno, diuturnidades. Os que não estão abrangidos por esses contratos mais antigos já não, ou seja, para funções idênticas temos salários diferentes», explicou.

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Ao AbrilAbril, Bruna Lopes, 24 anos, dirigente da Interjovem/CGTP-IN e trabalhadora da unidade da Bosch em Braga, assumiu algumas dificuldades em conciliar os baixos salários com o aumento dos custos das necessidades básicas: habitação, transportes, alimentação. 

«Tenho colegas que voltaram para casa dos pais»: um salário, por trabalho a tempo inteiro, já não lhes chega «para cobrir as despesas». «A empresa não nos dá os aumentos necessários, aumenta sempre o trabalho e o salário mantém-se o mesmo», razão essa que levou à dinamização de várias lutas nos últimos meses, «com cada vez mais jovens a participar».

Bernardo Lopes, residente nas Caldas da Rainha, tem trabalhado na área da restauração, até há pouco tempo no restaurante Pizza Hut da cidade. Juntou-se à manifestação para «lutar pelos seus direitos e de todos os trabalhadores». Com 20 anos, Bernardo gostava de poder estudar, mas os constantes aumentos do custo de vida forçaram-no a abdicar dos seus projectos.

Não hesitou, no entanto, em denunciar a situação em que vivem os trabalhadores da restauração: «É uma área muito precária, de muita exporação, em que os nossos direitos são constantemente postos em causa para dar resposta à alta pressão da procura». «As horas que fazemos e o salário que recebemos não correspondem» ao esforço dos trabalhadores.

Também Albino Gouveia, estafeta da Glovo no Porto, conta história semelhante, de grande precariedade. «A empresa baixou-nos os quilómetros de 44 cêntimos para 24 e ainda temos de ser nós a pagar o equipamento, sem qualquer subsídio», denuncia. Nem quando os seus colegas têm um acidente a empresa se digna a ajudar: «A Glovo diz que tem um seguro, o que é falso, não existe nada».

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Sindicato organiza sessão de apoio à legalização dos trabalhadores imigrantes

O Sindicato da Hotelaria do Norte promove esta quarta-feira uma sessão de apoio para trabalhadores imigrantes sobre a nova legislação de vistos com o objectivo de combater o trabalho ilegal no sector.

O Sindicato da Hotelaria do Norte denuncia que os trabalhadores da Uber Eats e da Glovo estão «contratados ilegalmente a recibo verde» e sublinha as «condições de vida e de trabalho» que enfrentam
Créditos / El Confidencial

A sessão de esclarecimento para trabalhadores imigrantes decorre amanhã às 9h30, na sede do Sindicato da Hotelaria do Norte (CGTP-IN), no Porto, com a presença de Manuel Sola, presidente da Comissão Nacional para a Legalização de Imigrantes.

Em comunicado, o sindicato alerta que «o número de trabalhadores imigrantes tem vindo a crescer muito nos hotéis, restaurantes, cafés e pastelarias nos últimos três anos», salientando que muitos chegam com visto de turista e acabam a trabalhar em condições muito duras, ilegalmente, ​​​​​​dando como exemplo a Uber Eats e a Glovo.

A estrutura sindical afirma que se trata de «trabalhadores muito vulneráveis, com muitas dificuldades de fazerem face às despesas com o alojamento e alimentação», assim como «a dormirem sem condições mínimas de higiene e habitabilidade, em escritórios de empresas ou em quartos alugados sem mínimas condições».

«Muito patronato do sector aproveita-se da situação fragilizada destes trabalhadores e explora-os até ao tutano, mantendo-os a trabalhar ilegalmente, por vezes mais de um ano, sem descontos para a Segurança Social, sem seguro contra acidentes de trabalho, a trabalhar dez, 12 e 14 horas diárias, sem pagamento de trabalho suplementar, sem férias, subsídio de férias e de Natal», acusa o sindicato.

Por outro lado, quando os trabalhadores exigem os seus direitos, a estrutura sindical denuncia que o patronato opta por retaliar com despedimentos, ameaças e denúncias às autoridades, recordando o recente caso no restaurante Miradouro Ignez.

Além de denunciar tais «práticas ilegais e violentas do patronato», o Sindicato da Hotelaria do Norte recorda também que tem procurado defender os direitos destes trabalhadores na contratação colectiva, como é «o caso da proibição de retirar ou agravar o alojamento e o direito a acumular férias de dois anos para poderem gozar com a família nos seus países de origem».

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Os trabalhadores destas empresas (Uber Eats, Glovo e Bolt Food são as mais importantes, a nível nacional) muitas vezes têm medo de dar a cara, mas cada vez mais se têm juntado à luta contra entidades patronais que, por seu lado, praticamente não existem: «falamos com eles por e-mail, não existe um escritório físico, parece-se mais com uma empresa fantasma».

«Os combustíveis estão sempre a aumentar, os custos de vida não páram de aumentar, e eles continuam a baixar os valores pagos aos trabalhadores», lamenta, «não têm mesmo respeito por ninguém, tratam-nos como animais». Neste momento, o objectivo dos trabalhadores é integrar o Sindicato de Hotelaria do Norte (SHN/CGTP-IN), que lhes tem dado um importante apoio nas suas lutas recentes.

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Manifestação Nacional da CGTP-IN, 7 de Julho, Lisboa
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Desde 2018, o SHN/CGTP-IN tem tentado, por todos os meios, negociar melhores condições para os estafetas, em condições de grande adversidade: as empresas multinacionais exploram com a total conivência e apoio do Governo PS, que permite às plataformas aproveitarem-se das pessoas em situação mais vulnerável: «cerca de 90% são trabalhadores estrangeiros, muitos dos quais estão sem documentos necessários para se legalizarem».

Há mais de quatro anos o sindicato pediu a intervenção da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT). Até hoje, a ACT «não deu qualquer resposta ao sindicato, sendo certo que não actuou de acordo com as suas atribuições e competências».

Com a bagagem de várias lutas e greves dinamizadas com os trabalhadores do sector, o SHN, promete «continuar a exigir o reconhecimento do estatuto destes trabalhadores por conta de outrem e a aplicação da contratação colectiva».

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Para além dos valores cada vez mais reduzidos que as empresas pagam aos estafetas por cada entrega, «despedem estes trabalhadores violentamente, sem justa causa, retirando-lhes a licença, bloqueando-os quando estes não cumprem o horário», referiu, em Novembro de 2022, o Sindicato de Hotelaria do Norte (SHN/CGTP-IN).

Um trabalhador da Uber, Glovo e Bolt que trabalhe, numa semana, 72,5 horas, faz 112 entregas, recebe 405 euros e tem de pagar ao intermediário 10%. Ao todo, por este trabalho, aufere 364,95 euros. Num mês serão 1 459,80 euros (com este valor, o trabalhador tem ainda de pagar toda a gasolina, o aluguer da conta, a compra da mochila, motorizada, capacete, etc...).

Mobilizados para transformar a sua realidade, os trabalhadores estafetas da Uber, Glovo, Bolt e outras plataformas digitais vão estar concentrados amanhã, em Almada, na Praça São João Batista, a partir das 10h. Os estafetas exigem o aumento da taxa de recolha para 1,5 euros, da taxa de cancelamento para 3,5 euros, um pagamento mínimo de bónus de 1,35 euros, equipamentos de trabalho ao encargo da plataforma e a diminuição do peso dos pedidos em supermercado.

A União dos Sindicatos de Setúbal/CGTP-IN, em comunicado enviado ao AbrilAbril, afirma a sua solidariedade «com as reivindicações destes trabalhadores relembrando, no entanto, que estas empresas aumentaram o seu nível de facturação para 30%, como é exemplo disso a Glovo, à custa daqueles que são a cara da empresa».

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