|Argentina

Alerta na Argentina para as consequências de «destruir a ciência»

Investigadores, académicos, laureados com o Prémio Nobel de dezenas de países uniram-se num «abraço mundial à ciência argentina» e alertaram Milei para as consequências de a destruir.

A entrega das cartas internacionais em apoio à ciência argentina teve lugar, esta quarta-feira, no Pólo Científico de Buenos Aires 
CréditosLeandro Teysseire / Página 12

No âmbito das mobilizações que as áreas da ciência e do Ensino Superior estão a realizar, no país austral, contra as políticas levadas a cabo pelo actual governo na matéria, esta quarta-feira, cientistas, bolseiros, membros da comunidade académica e trabalhadores administrativos entregaram ao Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet) mais de mil cartas de investigadores estrangeiros em apoio à ciência argentina.

Com a iniciativa, realizada em Buenos Aires sob o lema «Abraço mundial à ciência argentina» e dinamizada pela Rede de Autoridades de Institutos de Ciência e Tecnologia, pretendeu-se dar visibilidade a uma situação de «asfixia orçamental» sem precedentes no sector.

Com o «alerta internacional», refere o Página 12, os trabalhadores das áreas da ciência e das universidades esperam que o executivo de Milei convoque uma mesa de negociação.

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Gigantesca manifestação em Buenos Aires contra as políticas de Milei

No âmbito da greve geral convocada pela CGT, uma multidão juntou-se frente ao Congresso argentino, onde os dirigentes sindicais afirmaram que «não vão dar um passo atrás».

Enorme manifestação até ao Congresso, em Buenos Aires, no contexto da jornada de greve geral de 24 de Janeiro de 2024 
Créditos / @esfotografia7

Buenos Aires, a capital, não foi o único local de mobilização do país austral, já que a greve geral, convocada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), com apoio de dezenas de sindicatos, partidos e movimentos sociais, teve impacto em todas as províncias do país, segundo refere a agência Télam.

Frente à multidão que se juntou nas imediações do Congresso, Héctor Daer e Pablo Moyano, dirigentes da CGT, pediram a deputados e senadores que não aprovem o decreto de necessidade e urgência (DNU), que desregula a economia, e o projecto de lei de «Bases», também promovido pelo executivo de Javier Milei, que o replica e amplia. «Vamos continuar a lutar e não vamos dar um passo atrás», afirmaram.

Falando para a multidão no acto central da jornada de greve e mobilização, Pablo Moyano, também dirigente do Sindicato dos Camionistas, pediu aos deputados e senadores do país que «não traiam os trabalhadores e a doutrina do peronismo que é defender os laburantes [trabalhadores], os que menos têm e os reformados», afirmou.

Télam

Alertou ainda que a política do actual governo atenta contra a soberania nacional e criticou a intenção de reestabelecer o imposto sobre os lucros que foi eliminado em 2023 pelo então ministro da Economia, Sergio Massa.

«Se são tão bons, aumentem os impostos às grandes fortunas, mas não aos trabalhadores», disse.

Vincou, além disso, a sua oposição às privatizações de empresas públicas. «Não se podem privatizar as empresas do Estado como Aerolíneas Argentinas, Télam, Banco Nación, Radio Nacional», afirmou, alertando que «milhares de trabalhadores vão ser postos na rua» e que «as vão entregar aos amigos».

Moyano também criticou a reforma laboral que o executivo de Milei pretende levar por diante, tendo afirmado que «a pátria não se vende, defende-se».

Télam

Por seu lado, o secretário-geral da CGT e dirigente sindical da Federação das Associações de Saúde, Héctor Daer, disse: «Viemos com a Constituição na mão; diz claramente que os direitos são progressivos e não se pode voltar atrás.»

«Querem destruir os sindicatos, os direitos individuais e colectivos e a liberdade de acção», acusou, sublinhando: «Continuaremos na luta até que caiam essas medidas.»

O dirigente sindical destacou ainda a grande unidade sindical, bem como a presença na mobilização das organizações de base, dos cientistas, da cultura, do desporto, dos inquilinos ou dos reformados.

Sublinhou também o grande apoio internacional à jornada de luta no país sul-americano, inclusive com mobilizações no estrangeiro. Segundo revelou, foram mais de 100 as organizações que, pelo mundo fora, expressaram apoio à luta dos trabalhadores argentinos.

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Quatro meses depois da tomada de posse do governo «libertário», a situação no sector é «insustentável», afirmam. Sobre a iniciativa de ontem, Valeria Levi, vice-decana da Faculdade de Ciências Exactas e Naturais da Universidade de Buenos Aires (UBA), explicou que foram entregues mais de mil cartas de investigadores e associações científicas internacionais nas quais se solicita a diversas autoridades do país que «não continuem este caminho de destruição da ciência argentina».

Denúncia de despedimentos e alerta para a situação nos institutos

A mobilização de ontem, igualmente convocada pela Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), serviu também para condenar o despedimento de 140 trabalhadores do Conicet ou a redução das bolsas de doutoramento atribuídas.

Alertou-se ainda para a grave situação que vários institutos e centros de investigação enfrentam, ao não terem meios para efectuar pagamentos, bem como para o risco de uma nova fuga de cérebros e a paralisação de projectos estratégicos a nível nacional.

Sobre as cartas que chegaram de mais de 50 países, Jorge Geffner, imunólogo do Conicet e um dos convocantes da mobilização, disse que «se trata de apoios internacionais de especialistas que simpatizam com as nossas reivindicações».

«Tem a ver com dizer "Não aos despedimentos", com a recuperação dos salários, a execução do orçamento da ciência e técnica. Em suma, solidariedade contra o estrangulamento do sector», acrescentou.

Entretanto, as universidades argentinas, coordenadas pela Frente Sindical Universitária e o Conselho Inter-universitário Nacional (CIN), agendaram para o próximo dia 23 uma manifestação em defesa do ensino público e de uma actualização orçamental que lhes permita existir.

Afirmam que, no caso de não se verificar essa actualização, poderiam ter de fechar portas em Maio, sublinhando que o governo manteve para 2024 o mesmo orçamento de 2023, num contexto de inflação inter-anual superior a 270%.

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