A mobilização, que teve lugar esta quinta-feira à tarde à frente do Cinema Gaumont (que o governo de Milei pretende encerrar e vender), foi convocada pela plataforma Unidos pela Cultura e a Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE).
Além de denunciarem os planos para a centenária sala, centenas de pessoas juntaram-se para protestar contra os grandes cortes na Cultura e os despedimentos no sector.
Denunciaram também as medidas de Carlos Pirovano, presidente nomeado do Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais (Incaa), que acusam de ser um homem do mundo das finanças e sem conhecimento do importante mundo da criação cinematográfica no país austral.
Três dias depois de o governo de Milei ter anunciado o encerramento da agência noticiosa, o edifício da redacção foi «cercado» e a página de Internet deixou de funcionar. Na sexta-feira passada, Javier Milei já tinha anunciado, no Congresso, que o seu governo ia avançar para a agência pública de notícias Télam, argumentando que a entidade «foi utilizada nas últimas décadas como agência de propaganda kirchnerista». Na madrugada de segunda-feira, o portal da Télam deixou de funcionar – quando se tenta aceder, aparece um escudo da Argentina e a informação «Página em reconstrução» – e os trabalhadores, que deixaram de poder entrar no edifício-sede da redacção, cercado com vedações, receberam um e-mail a informá-los da dispensa do cumprimento das suas tarefas, no prazo de sete dias, indica o diário Página 12. De acordo com a fonte, o governo de Milei antecipou-se, desta forma, à mobilização que os trabalhadores da agência haviam anunciado para ontem, junto ao edifício-sede, em Buenos Aires, logo após o anúncio de encerramento. Ainda assim, centenas de pessoas a título individual e em representação de sindicatos, partidos políticos e organizações sociais concentraram-se, ontem à tarde, frente às instalações da Télam, «num massivo abraço» aos seus trabalhadores, em defesa da agência pública, que em Abril cumpre 79 anos de existência, e dos serviços públicos e da liberdade de expressão. Em conjunto, a assembleia de trabalhadores da Télam e o Sindicato de Imprensa de Buenos Aires (SiPreBa) denunciaram o «ataque à liberdade de expressão», na rede social Twitter (X). «Cercam um meio público, Télam, em plena meia-noite. O governo nacional está a levar a cabo um dos piores ataques à liberdade de expressão nos últimos 40 anos de democracia», afirmaram. «Esta noite, polícia da cidade cercou os dois edifícios da Agencia Nacional de noticias y publicidad Télam, para evitar o massivo abraço e impedir o acesso ao edifício de trabalhadores e trabalhadoras da imprensa», acrescentam. Também a organização Mães da Praça de Maio se solidarizou com os 700 trabalhadores da Télam. «Atacar a liberdade de expressão é atacar a democracia. Nem um passo atrás!», afirmaram. Da mesma forma, o Centro de Estudios Legales y Sociales denunciou a operação policial iniciada à meia-noite de domingo, sublinhando que afecta o direito à informação. Desde que foi conhecida a intenção de Milei de encerrar a Télam, deputados progressistas e de esquerda condenaram a medida, tal como diversas centrais sindicais – CGT, ATE, CTA e CTA Autónoma –, alertando para o ataque à liberdade de expressão e informação. Por seu lado, a secretária-geral da Federação Argentina de Trabalhadores da Imprensa (Fatpren), Carla Gaudensi, condenou o anuncio do presidente Milei e afirmou, na sua conta de Twitter, que a agência será defendida não só pelos seus trabalhadores, mas também por todo o povo argentino. A conferência de imprensa que Mauricio Macri deu esta quarta-feira em Buenos Aires não foi coberta pela agência Télam. Os 357 trabalhadores despedidos há três semanas continuam a exigir a reintegração. No decorrer da conferência de imprensa que ontem deu na Quinta dos Olivos para abordar a situação «tormentosa» do país, o presidente argentino classificou como «sobrepopulação» os 357 trabalhadores da agência noticiosa estatal Télam, despedidos no final de Junho sem aviso prévio e sem justificação. Ao ser questionado sobre o tema pelo jornalista Claudio Mardones, do Tiempo Argentino, Macri disse que era «o primeiro a lamentar-se» por cada argentino que perde o emprego ou o possa vir a perder, mas acrescentou que os despedimentos decretados por Hernán Lombardi, o responsável do Sistema Federal de Meios de Comunicação Públicos – entidade que tem a seu cargo o funcionamento da agência noticiosa estatal argentina, fundada em 1945 –, ocorreram no contexto de uma política governamental que visa «modernizar o Estado, para que funcione ao serviço dos argentinos», refere o diário Página 12. «As autoridades de Télam decidiram que havia uma sobrepopulação de gente, que não tem a ver com um serviço eficiente», disse o presidente argentino, reafirmando a argumentação de Lombardi, que tem sido desmentida repetidamente pelos trabalhadores da agência estatal. Se, no interior da residência oficial, Macri fez a defesa da administração da Télam, de Lombardi e da política de «modernização do Estado», no lado de fora, enfrentando a chuva gelada, os trabalhadores despedidos continuaram a manifestar-se em defesa da reintegração, fazendo rufar os tambores e gritando palavras de ordem como «Aí falta a Télam» (em alusão à falta de jornalistas da agência dentro da Quinta dos Olivos) e mostrando cartazes em que se lia «Se silenciam a Télam, silenciam todos» ou «Não aos despedimentos», revela a Prensa Latina. Na semana passada um tribunal considerou ilegal o despedimento de cinco funcionários da agência – decisão que é extensível aos restantes –, por ter ocorrido fora de «um plano prevenção de crise». Entretanto, os 357 trabalhadores despedidos a 26 de Junho afirmam que vão continuar a lutar pela recuperação dos seus postos de trabalho, garantindo que, na agência, «não sobra ninguém». De acordo com um relatório publicado pela Centro de Economia Política Argentina (CEPA), no primeiro semestre de 2018 o país austral registou uma média de despedimentos mensais superior 4300 trabalhadores, mais 17% que em igual período do ano passado. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. A Associação de Correspondentes Estrangeiros e jornalistas acreditados na Casa Rosada (sede da Presidência argentina) também manifestaram o seu desacordo com a medida e, segundo refere a TeleSur, durante a conferência de imprensa do porta-voz da presidência, Manuel Adorni, alguns deles criticaram a eliminação do acesso dos cidadãos à grande quantidade de material audiovisual da Télam. Em 2018, o governo de Mauricio Macri não chegou a ir tão longe quanto Milei agora, mas procedeu a uma «limpeza» razoável, despedindo 357 trabalhadores – muitos dos quais seriam depois reintegrados pela Justiça – e referindo-se a uma «sobrepopulação». «O que avança neste governo é a censura e o autoritarismo. Acompanhamos os trabalhadores. Defender os meios públicos é defender a democracia», afirmou a deputada Paula Penacca, da União pela Pátria. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Governo argentino colocou cercas em redor da Télam
Internacional|
«Sobrepopulação», disse Macri sobre os trabalhadores despedidos na Télam
Exigência de reintegração
Contribui para uma boa ideia
Contribui para uma boa ideia
Além disso, os manifestantes defenderam a continuidade dos apoios aos festivais federais, o não encerramento de escolas de cinema e fotografia, e das plataformas Cine.ar e Cine.ar Play.
Segundo refere o diário Página 12, a mobilização assumiu um carácter «massivo», com a participação de trabalhadores do cinema e de outras áreas artísticas, de dirigentes sindicais, de organizações sociais e partidos políticos.
No momento em que os organizadores estavam a dar uma conferência de imprensa, de forma pacífica, a Polícia carregou contra as centenas de pessoas presentes, com empurrões, à bastonada e usando gás lacrimogéneo.
Em declarações à imprensa, o actor Leonardo Sbaraglia destacou a dimensão e a violência da operação policial, «como se estivéssemos armados com espingardas».
«Não temos nada», afirmou, antes de sublinhar que a mobilização era em defesa do cinema argentino, frente a um local emblemático, «onde se estreiam filmes que não se podem exibir noutro lado, onde se defende uma arte que o mercado não apoia».
Greve no Ensino Superior público com «adesão total»
Também esta quinta-feira, trabalhadores docentes e não docentes das 57 universidades públicas da Argentina estiveram em greve, para denunciar os cortes orçamentais e defender a valorização dos salários.
A paralisação nacional foi convocada pela Frente Sindical das Universidades, com o apoio da Confederação Geral do Trabalho (CGT) e os dois ramos da Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA e CTA Autónoma).
«Desde que Milei é presidente, sofremos 70% de inflação, enquanto os nossos salários apenas subiram 16%», declarou à imprensa Daniel Ricci, secretário-geral da Federação dos Docentes das Universidades (Fedun), acrescentando que «a adesão à greve foi total».
Vincando a necessidade de reverter os cortes orçamentais e de maiores aumentos salariais (tendo em conta a «perda» de 50% do salário nos três meses de governo de Milei), as organizações sindicais afirmaram que a medida de força foi tomada também em defesa do Ensino Superior público, «para que milhares de jovens tenham direito a estudar e para que o país tenha um sistema científico-tecnológico para o seu desenvolvimento autónomo».
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui