BE defende o que classificava como «projecto macabro»

Novas vozes despertam para a saída do euro

O Bloco abandonou o europeísmo com que se apresentou em sucessivos actos eleitorais e defende a «preparação do País para a saída do euro» e o «controlo público da banca e dos sectores estratégicos».

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, intervém na conferência de imprensa de apresentação das conclusões da reunião da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda, ontem num hotel em Lisboa
CréditosMiguel A. Lopes / Agência LUSA

A ruptura com a «desobediência» aos «sacrifícios em nome do euro», posição com que o BE se apresentou às últimas eleições legislativas, é consumada na resolução da Mesa Nacional de ontem.

No documento, os bloquistas apontam a necessidade de «preparar o País para o cenário de saída do euro ou mesmo de fim do euro». A formulação, idêntica à que o PCP colocou no seu programa eleitoral às legislativas de 2015, é muito diferente do que se lia igualmente no manifesto com que o BE se apresentou às eleições para o Parlamento Europeu de 2014.

Na altura, sob o mote «nem mais um sacrifício pelo euro», o que se defendia era «recusar a austeridade e reestruturar a dívida». Parecendo tempos longíquos, foi há menos de dez anos que o Bloco se definia como «europeísta» e propunha a redacção de um novo tratado da União Europeia pelo Parlamento Europeu, que substituísse o Tratado de Lisboa – no compromisso eleitoral para as eleições ao Parlamento Europeu de 2009.

Em vésperas das eleições legislativas de 2011 e da assinatura do acordo com a troika, Francisco Louçã afirmou que «a hipótese de saída do euro é inaceitável», em entrevista à Lusa. Já em Novembro do mesmo ano, o então coordenador do Bloco de Esquerda, classificou a saída de Portugal do euro como um «projecto macabro», num debate em Coimbra.

No livro A Dividadura, que Louçã lançou com a deputada Mariana Mortágua em 2012, com apresentação do actual Presidente da República, o cenário de saída do euro era apresentado como «a pior de todas as soluções».

Mas esta não é a única novidade introduzida pelo documento que apresenta «democracia» como «a resposta da esquerda à desagregação europeia»: também o «controlo público da banca e dos sectores estratégicos». Se no manifesto eleitoral de 2015 o BE propunha a nacionalização dos sectores bancário e energético, nada se disse em relação aos restantes.

Na resolução aprovada pelo órgão dirigente do Bloco, é defendida também a «reestruturação da dívida soberana», uma proposta que vem sido defendida pelo partido após a chamada da troika, em 2011. Sobre o grupo de trabalho constituído com o Governo sobre a dívida, Catarina Martins revelou que está agendada uma nova reunião para esta semana para «afinar o relatório», ainda que admita que subsistem divergências.

Os bloquistas destacam ainda a realização da cimeira «Por um plano B para a Europa», em Outubro. A primeira edição realizou-se em Janeiro de 2016, em Paris, cujo manifesto tinha como primeiros signatários vários ex-ministros de países europeus, uns mais recentemente, como Yannis Varoufakis (Grécia), Stefano Fassina (Itália), assim como outros no início dos anos 2000, como Jean-Luc Mélenchon (França), ou no final dos anos 90, como Oskar Lafontaine (Alemanha).

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